Mauro Galvão, coordenador geral, e Manuel Pereira, diretor, são as figuras mais conhecidas da gestão das categorias de base do Vasco. Apesar de ambos estarem a frente do projeto de reestruturação desse importante setor do clube, outros profissionais também estão contribuindo muito para que o Gigante da Colina volte a revelar grandes jogadores num futuro próximo.
Um dos que mais tem ajudado é Antônio José Teixeira, Coordenador da Categoria Juvenil. Com passagens pela Confederação Brasileira de Futebol, onde foi administrador entre os anos 2000 a 2002, e pelo São Cristóvão, onde esteve em 2001, o profissional está desde 2007 trabalhando no Gigante da Colina e participou da formação de Alex Teixeira, Phillippe Coutinho e Allan, últimos grandes jogadores revelados em São Januário.
Perto de completar 60 anos de idade, o experiente Teixeira participou na última quarta-feira (13/03) do programa 'Só dá Base', do grupo Só dá Vasco. Na oportunidade, o Coordenador falou um pouco sobre sua trajetória no futebol, debateu alguns temas referentes à base vascaína e deu informações sobre a categoria sub-17.
Confira a entrevista exclusiva com Antônio José Teixeira, Coordenador da Categoria Juvenil.
Antes de tudo senhor Teixeira, gostaria que eu o senhor se apresentasse e falasse um pouco sobre a sua trajetória dentro do Vasco.
"Eu entrei no Vasco em 2007 e sigo até hoje na categoria juvenil fazendo esse trabalho de base. Comecei a trabalhar com o grupo 90, jogadores do grupo 90, e sigo até hoje. Estou trabalhando agora com os jogadores do grupo 96 e 97".
Gostaria que o senhor explicasse para os leitores qual a importância da função de coordenador e o que ele faz exatamente dentro da categoria juvenil.
"Na realidade o coordenador é um viabilizador. Essa função cuida de toda a parte estrutural. Preparamos os treinamentos, fazemos o acompanhamento dos jogadores, buscamos dar estrutura e meios para que os treinadores possam desenvolver o seu trabalho e fazemos a interface do treinador com a gerência. Além disso, fazemos a interface entre todas as categorias e com a diretoria, para levar a ela sempre tudo que está acontecendo. Preparamos documentações de atletas para a Federação e para viagens e torneios. É uma função muito ampla e eu acho que é bastante importante pelo fato da gente viabilizar o funcionamento da categoria. Esqueci de citar a questão da alimentação e de transporte. Enfim, toda a parte de logística e estruturação a gente participa. A gente começa a trabalhar um pouco antes e para trabalhar um pouco depois".
Conforme dito anteriormente, o senhor está no Vasco desde 2007. Quais as maiores mudanças que ocorreram no clube no que diz respeito as categorias de base e a sua categoria e o senhor poderia destacar?
"A grande dificuldade antes era não ter. Nós não tínhamos um centro de treinamento para poder desenvolver o nosso trabalho. A gente então trabalhava no Caxias, trabalhava nos quartéis, ou seja, estávamos sempre buscando lugares para treinar. Hoje por conta do centro de treinamento, conseguido graças a uma parceria do Vasco com o Pedrinho, nós temos quatro campos de treinamentos prontos, um refeitório, fisioterapia, caixa de areia, espaço para recreação, musculação, alojamento...Hoje nós temos uma estrutura física de qualidade para fazer um trabalho de maior qualidade. Acho que essa foi a grande mudança que aconteceu. Estamos todos concentrados num só espaço e num espaço que oferece para gente uma infra-estrutura onde a gente pode desenvolver um bom trabalho. Eu acredito que a médio prazo a gente vai estar colhendo muito mais frutos do que vinha colhendo. Tudo isso em função da qualidade do trabalho que hoje vem sendo executado".
Conversamos com o Mauro Galvão na última semana e ele lamentou muito as subidas do Índio e do Danilo para o Juniores. Ele chegou a dizer que ambos poderia ser utilizados na Copa Rio. Realmente eles fazem falta ao sub-17?
"Eu não trabalho para a categoria sub-17, eu trabalho para o Vasco da Gama. A finalidade do nosso trabalho é formar jogadores para o Vasco da Gama. Toda vez que a gente perde jogadores com idade de juvenil, como perdemos o Phillippe Coutinho, o Guilherme e agora o Índio e Danilo, para uma categoria acima temos um "prejuízo", pois enfraquece um pouco o grupo, mas isso também nos deixa satisfeitos. Isso porque você está colocando um jogador na categoria acima. Eu acho importante essas interfaces, porque os jogadores tem uma qualidade diferenciada, eu não gosto muito desse termo, jogadores que são um pouco melhores que os outros, tem que ser aproveitados na categoria acima para adquirem experiência e estarem preparados caso sejam necessários no time profissional. O caminho deles é um caminho um pouco encurtado. É geralmente aquele jogador que no primeiro ano de categoria já é titular. No segundo ano ele vai repetir a titularidade dele. O trabalho que geralmente um jogador normal faz no segundo ano, um jogador com a qualidade do Índio e do Danilo já faz no primeiro ano. Como o Lorran fez no primeiro ano, como o Foguete fez no primeiro ano. Foram jogadores que foram titulares no juvenil logo no primeiro ano. Apesar de enfraquecer a equipe, acho muito importante eles estarem na categoria de cima, até porque eles estão ajudando o juniores e consequentemente o Vasco da Gama".
Vários atletas chegaram ao Vasco para atuar no time juvenil, cito aqui os exemplos do Danilo, contratado junto ao Vitória, do Lucas Choco, contratado junto ao Botafogo, e do próprio Dieyson, hoje no profissional. O que o senhor poderia falar sobre essa processo de captação de atletas do Vasco? O coordenador participa dessas negociações?
"Nós temos o nosso setor de captação que está constantemente viajando e acompanhando os jovens das categorias pelo Brasil. Nós mesmos participamos de algumas competições Brasil a fora e observamos. Nas próprias competições que participamos no Rio de Janeiro, nós observamos os jogadores adversários. Sempre que tem algum jogador que a gente acha interessante ou que a gente acha que vai render frutos para o Vasco, buscamos tentar fazer uma parceria com seu clube e trazê-lo para o Vasco. O importante é que quanto mais cedo a gente conseguir fazer isso, mais tempo a gente tem para trabalhar com o jogador. Trazendo um jogador com idade infantil e não juvenil, a gente tem um tempo maior para trabalhar o Vasco da Gama na formação desse atleta. Eventualmente existem casos em que a gente vai buscar um atleta que já está na categoria de juniores. São aqueles jogadores que se destacam, que a gente se interessa e se encaixa em determinadas posições que a gente possui uma carência. Isso é um processo muito constante, um processo que a gente faz a cada dia. A gente está avaliando o grupo, está acompanhando o treinamento e a gente está vendo o desenvolvimento do atleta. Se a gente ver num determinado clube um atleta em condição melhor do que aquele que a gente tem, fatalmente a gente vai trazer esse e dispensar o outro. Isso é um processo natural que ocorre nas categorias de base. O objetivo na realidade é formar jogadores para chegar ao profissional do clube. A quantidade de jogadores que é formada é muito pequena, mas o trabalho é muito grande e muito dinâmico, pois a gente trabalha com muita gente. Erramos algumas vezes, acertamos em outros, como no caso do Danilo. Já houve casos em que a gente errou e teve que dispensar. Os clubes todos trabalham dessa forma e até mesmo por isso tem jogador que sai do Flamengo e vem para o Vasco, que sai do Vasco e vai para o Botafogo e que sai do Botafogo e vai para o Fluminense. É assim que funciona e temos que estar muito ligados nisso".
Poderia falar um pouco sobre a descoberta do Dieyson, hoje no profissional?
"O Dieyson nós observamos quando fomos disputar uma competição em Santiago-RS com a equipe 93. Era uma competição para equipe 92, mas nós fomos com a equipe 93. Na competição nós vimos o Dieyson jogando no Cruzeiro de Santiago. Na época o Tornado era o treinador do juvenil. Nós fizemos contato com a diretoria do Cruzeirinho e trouxemos o Dieyson para jogar no nosso juvenil. Graças a Deus é um jogador que está no profissional dando os seus primeiros passos".
O que o senhor poderia falar sobre o Cássio, atual treinador do juvenil?
"O Cássio é um atleta conhecido de todos e um profissional que está no futebol faz algum tempo. No Vasco está desde 2008. Passou pela categoria mirim, passou pela categoria infantil e agora está no juvenil. Está fazendo faculdade, ou seja, é um ex-atleta que está se formando. É um profissional bastante fácil de lidar, até pelo fato de ter sido um atleta disciplinado e dedicado. Ele tem sido um treinador bastante dedicado. Obteve muito sucesso pelas categorias que passou e por incrível que pareça ele vem acompanhando essa geração. Ele treinou eles no mirim, no infantil e agora está trabalhando com eles no juvenil. Ele tem muito caminho pela frente, é um cara bastante tranquilo e que está se formando, se preparando. Ele fala a língua com o atleta e tem uma boa relação com o grupo, o que facilita muito o trabalho".
Sabemos que a categoria juvenil é aquela onde o atleta assina o seu primeiro contrato profissional. Como funciona o processo de negociação do contrato? O senhor participa ativamente do processo? Como evitar o aliciamento de outros clubes?
"A questão do aliciamento acho que tem até melhorado um pouco em relação ao que era quando os clubes começaram a sentar na mesa e discutir sobre o assunto. Não adianta ficar um roubando do outro. Se ficar um roubando do outro, todo mundo rouba de todo mundo e acaba ninguém lucrando, todo mundo perde. Quando ao primeiro contrato, realmente a legislação só permite fazer o primeiro contrato com 16 anos. O que a gente faz? Começamos a fazer o trabalho no último ano deles como infantil. O primeiro ano deles de juvenil é o ano em que geralmente eles assinam o primeiro contrato e a gente vai acompanhando o desenvolvimento. Em função do rendimento e da expectativa que a gente cria no jogador, a gente determina o prazo do contrato, se é de médio ou longo prazo. Futebol não é uma coisa precisa, a gente às vezes acredita que determinado atleta vai conseguir chegar e ele não chega. Como fazemos para avaliar? Nos perguntamos se determinado atleta vai chegar ao profissional do Vasco se mantiver o nível atual. É em cima disso que fazemos o contrato de longo prazo. Se o atleta não está bem, mas tem potencial para desenvolver, fazemos um contrato de médio prazo. A gente cansou de ver na história do futebol atletas que não eram cotados e chegaram e atletas que eram cotados e não chegaram. Um exemplo muito claro disso aconteceu no Santos com o Bruno Moraes e o Robinho. O treinador da Seleção Brasileira na época era do Santos e chamou o Bruno Moraes em todas as convocações. Ele participou de Sul-Americano e de Mundial, mas ele foi para Portugal e ninguém hoje ouve mais falar nele. O Robinho nunca foi convocado para a Seleção de base, mas estourou. No futebol a gente não tem muita precisão do que vai acontecer".
A categoria juvenil é a penúltima categoria antes do profissional, mas no Vasco existem exemplos de jogadores que subiram do sub-17 direto para o profissional. Alguns permaneceram, como Alex Teixeira e Phillippe Coutinho, outros não conseguiram se firmar, como caso do lateral-esquerdo Carlinhos. Como fazer para que esses atletas adquiram maturidade para não sentir tanto uma possível subida direto para o time de profissional?
"Isso é uma transição muito complicada. Se você não tiver cabeça para lidar com a cabeça desses meninos nessas transições você acaba os prejudicando. Por qual motivo digo isso? Pelo fato do menino viver outro ambiente quando sobe para o profissional. Ele começa a viver outra realidade, outro ciclo, outro glamour e quando esse garoto tem que retornar para a base, seja para o juniores, seja para o juvenil, isso causa para ele um incômodo muito forte. Eu acho que tem que ser muito bem trabalhada essa transição, como a gente vem fazendo agora com o Índio e Danilo. Eles estão no juniores, mas não perdem contato com a gente. O Marquinhos subiu para treinar no profissional e volta. O Yago subiu e volta. Acho que esse ir e vir é muito produtivo para que eles comecem a se ambientar dentro dessa nova realidade e não se achem dentro dessa nova realidade. Quanto colocar um jogador muito jovem no profissional tem duas formas de fazer: Ou você tem um time estruturado, lança o garoto e dentro desse time estruturado ele vai conseguir deslanchar, ou você pega o garoto e coloca ele para resolver. Isso aconteceu com o Alex Teixeira, com o Phillippe Coutinho e a torcida acabou pegando no pé. Na realidade é um menino, com um puta potencial, mas infelizmente é um menino. A torcida cobra, quer resultado e ele tem que ser o cara. Na realidade se você for observar o trabalho que o Santos fez com o Neymar, vai ver que ele só começou a ser o cara quando ele realmente passou a ser o cara. Antes ele era um garoto que ia e beliscava. O Santos tinha um bom time e ele conseguiu se encaixar ali sendo mais um até o momento em que ele passou a ser o cara. É muito complicado quando você pegar um garoto do juvenil e do juniores e coloca no profissional para ele resolver o seu problema. Desse forma você vai queimar o garoto. Quando você pega um garoto para compor o seu elenco, ele vai se desenvolver".
O que o senhor poderia falar sobre o Mauro Galvão e o senhor Manuel Pereira?
"São pessoas que todo mundo conhece e que possuem muita qualidade. São caras francos e abertos. Possuímos uma relação muito boa e por isso acredito que a gente vai colher bons frutos. Não tenho a menor dúvida disso".
Deixe uma mensagem final.
"É importante que a gente tenha um canal que divulgue as coisas que estão acontecendo. A única coisa que eu peço é que se realmente acompanhe o trabalho para que não surjam matérias que não condizem com a realidade e que venham trazer prejuízos ao trabalho e aos atletas. Para a torcida gostaria de dizer que a gente está aqui porque ama esse clube, a gente gosta dele e a gente buscar dar o melhor. Infelizmente nem sempre as coisas saem como a gente deseja, mas podem ter certeza que estamos trabalhando sério para conseguir formar jogadores para o nosso querido Vasco da Gama".