O Futsal já revelou vários craques para o futebol profissional do Vasco. Além de Felipe e Pedrinho, que marcaram época com a camisa cruzmaltina, também passaram pelo salão Alex Teixeira, autor do gol do título da Série B, Allan, destaque do time no título da Copa do Brasil, e Phillippe Coutinho, última grande revelação na base vascaína.
Engana-se, porém, quem pensa que apenas jogadores foram revelados pelo futebol de salão. A maior prova disso é Ricardo Lopes, atual coordenador da categoria mirim. Com dez anos de Vasco completados no último dia 05 de março, o profissional iniciou sua trajetória na Colina como estagiário e chegou até a quebrar um galho como gandula nos treinos de futsal.
Com paciência e competência, Ricardo foi crescendo na profissão e rapidamente se tornou referência dentro do clube no que diz respeito a conhecimento sobre futebol de salão. Tal virtude passou a ser utilizada no ano passado pelo futebol de campo, mais precisamente pela categoria mirim. Ciente da qualidade de Lopes, Manuel Pereira, diretor das categorias de base, o convidou para trabalhar na categoria mirim e comandar o processo de transição entre quadra e campo.
Para entender um pouco sobre esse processo, o programa 'Só dá Base', do grupo Só dá Vasco, entrevistou na última quarta-feira (13/03) Ricardo Lopes. Além de dar detalhes sobre a transição salão e campo, o profissional falou sobre sua trajetória em São Januário e revelou como a preparação do time mirim para o Mundialito de Portugal.
Confira a entrevista exclusiva com Ricardo Lopes, Coordenador da Categoria Mirim.
No último dia 05 de março você completou 10 anos de Vasco. Ao longo desse período você passou pelo Futsal e agora está trabalhando no Futebol de Campo. Gostaria que você falasse um pouco sobre sua trajetória em São Januário, destacando os frutos do seu trabalho, ou seja, jogadores que passaram pela sua mão e hoje fazem sucesso.
"Eu comecei no Vasco Barra trabalhando com o Fábio Fernandes, que hoje está no profissional. Fiquei muito tempo e graças a Deus pude revelar muitos jogadores para o campo do Vasco. Consegui ganhar títulos no Futsal e fico feliz por ter feito um bom trabalho, contribuindo para a história do clube. O Vasco é muito forte aqui no Rio de Janeiro no Futsal. É o único Carioca campeão da Liga Nacional, conquistou com aquele time de Manoel Tobias e cia. A gente é muito forte nessa modalidade, sempre revelamos grandes jogadores. No ano passado o diretor das categorias de base, o senhor Manuel Pereira, me fez um convite para fazer a integração entre futsal e futebol de campo. Estamos hoje fazendo essa transição. Nós temos na geração 99, que foi campeã carioca mirim no ano passado, o lateral-direito Cayo Henrique, mais conhecido como Tenório, o Robinho, o Linnick e o João Bernardo. Todos esses citados vieram do salão. Nosso objetivo hoje no mirim é revelar jogadores para a categoria infantil. Me orgulha bastante a conquista que a gente teve no ano passado com essa geração 99, que é uma grande família. É super importante a gente está buscando jogadores e nesse processo a captação do clube ajuda muito a gente. Estamos sempre buscando o melhor para o clube. Nesses dez anos o que me deixa mais orgulhoso é saber que nesse período eu só vesti uma camisa nessa vida, que foi a do Vasco. Isso me enche de orgulho".
Todas as categorias da base do Vasco possuem um coordenador. Existe uma comunicação com os outros profissionais das outras categorias?
"Total, total. No ano passado nós ganhamos um título contra o Flamengo no mirim e todo o departamento compareceu. O Teixeira é um cara por quem tenho carinho, uma admiração e um respeito fora do comum. É um cara que me ensina, que me ajuda sempre. Tem o Jair Bragança, que é um cara renomado e está ajudando no juniores. Ele foi lá, deu apoio. Como o mirim treina a tarde e o juniores também, às vezes encontro o Jair e vejo o trabalho dele. Isso me deixa bastante feliz. No ano passado fiquei satisfeito por ver todos lá. Isso me deixou muito animado. A vinda do Mauro Galvão para a gente foi primordial nesse processo. O Mauro é um cara que todos devem ter o prazer de conhecer, falo não apenas do profissional, mas também da pessoa. Hoje eu tenho convívio diário com o Mauro Galvão e converso com ele todos os dias. Ele sempre me pergunta o que está acontecendo, se a gente está precisando de alguma coisa. Se precisar ele conversa com a mãe dos atletas. Tem gente que chega lá e me pede para conhecer o ídolo Mauro Galvão e eu vou lá e apresento. Hoje o departamento de futebol amador é completamente articulado em todos os tipos de situação. O senhor Manuel e o Mauro Galvão dão apoio total. Nossa comissão técnica hoje tem liberdade para fazer o que achar melhor. O contato com a gerência de futebol amador é direto. Eu ganhei vários títulos no futsal, mas nenhum deles foi tão emocionante como foi o do ano passado no mirim. Ganhamos em Xerém com chuva e com um jogador a menos. Vencemos o Botafogo em General Severiano. Além disso, vencemos o Flamengo na final. Muita gente chega para mim e diz que não devo ficar tão feliz por ganhar um título no mirim, mas eu fico feliz e ainda estou feliz".
O fato de você ter trabalhado por muito tempo no Futsal facilita em que sentido a introdução de atletas oriundos do salão na categoria em que você trabalha atualmente?
"Quando o senhor Manuel me convidou foi justamente para melhorar essa transição futsal e campo. Um exemplo é que eu já tinha ido para o campo, mas segui acompanhando os treinos de futsal e identifiquei o Cayo. Arrumei o contato dele e o puxei logo para o campo. Ele veio como atacante e o professor Adriano Barreto o colocou como lateral. Hoje ele é uma realidade nessa posição. É um grande menino e o Mauro Galvão tem um carinho especial por ele. É importantíssima essa ligação. Falo isso não só pela categoria mirim, mas também pela categoria pré-mirim. Nós vamos disputar agora o Mundialito e quase 90% dos atletas da categoria mirim são oriundos do futsal do Vasco. Esses meninos todos que estão chegando ao campo são meninos que já jogaram em ginásios lotados e que são acostumados a jogar contra Flamengo, Fluminense. São meninos vencedores e que conquistaram títulos. No salão a gente fez viagem para São Caetano, para Santos e já fomos visitar o Palmeiras. Então isso mostra que esses meninos chegam no campo já sabendo o que representa vestir a camisa do Vasco. Nessa viagem que nós fomos agora para o Rio Grande do Sul eles viram o que é realmente a torcida do Vasco. Não existe nada mais gratificante do que ver um menino que surgiu no salão fazendo sucesso no campo".
Esse conhecimento das categorias que você possui por conta do futsal facilita o seu trabalho?
"Eu comecei no Vasco como estagiário, pegando e enchendo bola. Eu fiz de tudo no futebol de salão, no futebol de salão do Vasco. O Futsal do Vasco me fez conhecer o Brasil e o campo do Vasco me fez conhecer a Europa. Fui para o Mundialito duas vezes, fui para o Ibercup. O conhecimento que eu tenho das categorias e o conhecimento que a gente aprendeu no Futsal ajuda muito. Hoje eu estou na geração 2000 e eu conheço ela toda por conta do salão. O mirim atual tem vários jogadores que trabalham comigo desde os oito anos de idade. Você cria uma relação do garoto, conhece os pais dele, já tem uma amizade e ele já sabe como é o nosso método de trabalho. Para mim é muito mais fácil. Essa geração 98 que hoje é infantil do Vasco possui jogadores como o Matheus Pet, o Evander e o Andrey já foi campeã no salão conosco. A geração 97 do Caio e do Muriqui também passou pelas nossas mãos. Isso torna as coisas mais fáceis".
Os meias Linnick e Robinho, hoje no Infantil, e o Matheus Índio, hoje no Juniores, são exemplos de jogadores que vieram do salão e hoje se destacam na base do Vasco. Ambos chegaram a jogar de maneira simultânea nos dois pisos. Até que idade você acha que é proveitoso o atleta treinar no campo e no futsal? Como fazer para não sobrecarregar o atleta?
"A gente tem um cuidado muito especial para não sobrecarregar. No mirim ano passado a gente não teve nenhum dos jogadores com lesão. No ano passado eles jogaram pouco salão, até porque tiveram uma competição em Portugal, que foi a Ibercup, competição que o Vasco conquistou no ano retrasado com a geração 98. Antes de viajar para Portugal, a gente foi campeão contra o Botafogo no Espírito Santo. No ano passado eles jogaram pouco salão e não precisou muito desse cuidado. Mas a gente sempre está preocupado com essa questão aí. No primeiro semestre o mirim praticamente não tem competição nenhuma, apenas treinamos bastante. O 2001 tem essa competição agora em Portugal e o 2000 não faz nada. O 2000 recebeu um convite semana passada para disputar a ESCUP, competição que a gente ganhou no ano passado e que nesse ano passou para maio. Eu vou levar para o departamento, que vai avaliar se vale a pena participar dessa competição. Em julho podemos participar do Ibercup, ainda estamos confirmando e podemos ir de novo. No final de julho começa o Carioca. No primeiro semestre eles estão bem focados no salão e recebem um acompanhamento especial. Eu acho que essa categoria mirim precisa muito do futsal e eu sou um defensor muito grande do mesmo. Infantil complica um pouco mais, pois os meninos são maiores, mais fortes e o trabalho físico é intenso. O Matheus Índio e o Thiago Mosquito jogaram futsal até o Infantil. O Allan, que chegou ao profissional, jogou até o infanto do salão, ele sempre tentou conciliar. Se você pegar depoimento do Mosquito, que saiu, e do Índio, que hoje é uma realidade dentro do Vasco, eles vão elogiar bastante o trabalho feito no Futsal".
O Vasco teve um participação razoável na Copa Cidade Verde e agora vai disputar o Mundialito em Portugal. Que avaliação você faz desse início de trabalho?
"Essa edição da Copa Cidade Verde foi a primeira que disputei. Foi uma experiência para a gente e para os meninos maravilhosas. Nós perdemos para o Grêmio nas quartas de finais. O time do Grêmio ganhou essa competição e chegou para enfrentar a gente sem ter tomado um gol na competição. Eles saíram na frente, fizeram 2 a 0, e a gente empatou no segundo tempo. Quando o Vasco tinha acabado de empatar teve um pênalti, mas o árbitro obviamente não marcou o pênalti. Um pênalti claríssimo em cima do nosso centroavante Roger, que é nascido em 2001 e é muito bom, fez inclusive dois gols nesse jogo. Nos pênaltis foi 8 a 7 e infelizmente a gente não passou. Na cidade todo mundo estava comentando que o Vasco merecia ter passado. Para a gente esse torneio foi ótimo. A avaliação dos atletas foi ótima, da comissão técnica também. Quero ressaltar aqui o trabalho do Adriano Barreto, ao Alegria, que é preparador físico, e do Guilherme Almeira, que é preparador de goleiros. Ele é um grande profissional e a prova disso é que o Alexander tomou apenas seis gols no ano passado".
O que espera do Mundialito? Como está a preparação?
"A preparação para o Mundialito está boa. Nessa semana fizemos um amistoso contra um time que atuou com todo o elenco do Fluminense, inclusive comissão técnica. Essa geração 2001 nunca venceu o Fluminense. Eles perderam no ano passado no pré-mirim dentro de São Januário na Copa Light e já tinham perdido na Copa Rio Bonito. Nós jogamos contra esse mesmo time, todos os jogadores, não estavam com a camisa do Fluminense, mas era todo o time do Fluminense, e ganhamos de 4 a 1. Isso mostra que esse negócio de não ganhar do Fluminense vai acabar. Costumo dizer que você para vestir a camisa do Vasco tem que comer um pedaço de grama. Os atletas entendem a nossa filosofia, o nosso trabalho e não vendem resultado barato de maneira nenhuma. Nós entramos bem determinados para esse jogo de preparação para o Mundialito e eu achei que foi ótimo vencer um time forte e que a gente nunca tinha vencido. A gente está bem esperançoso e acreditando numa boa campanha em Portugal. Sabemos que é difícil até porque o futebol é de 7. Mas estamos trabalhando forte para fazer uma boa campanha".
A categoria mirim é a porta de entrada no clube. Na sua visão ela é a mais importante das categorias de base? Pergunto porque é nela que muitos jovens descobrem uma posição e passam a investir na mesma durante a carreira. Cito aqui o exemplo do Cayo Tenório, que era atacante e virou lateral.
"Não é questão de ser a principal, mas é a porta de entrada. Às vezes tem muito menino que desiste, que sai e não volta mais. Começamos o ano com quarenta atletas e terminamos com 25 atletas. Eu acredito que é a porta de entrada sim, mas se é a principal não sei dizer. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas acho ela super importante. Eu tinha um atleta chamado Ruan, que hoje está no Infantil e é 99, que tem a família morando no Espírito Santo. Ele nunca via a família. A gente que está nessa categoria acaba virando a família desses atletas. A mãe dele durante a confraternização do título que a gente fez no ano passado virou para mim e disse: "Meu filho foi campeão, a medalha daqui a dois anos vai ficar pretinha, mas vocês da comissão técnica ajudaram a formar o caráter do meu filho. Isso que vocês criaram nunca vão apagar". Isso para mim é algo que nunca vou esquecer. Você cria um vínculo com esses meninos e acaba virando a família dele".
Deixe uma mensagem para a torcida vascaína.
"Queria dizer ao torcedor do Vasco que o pessoal das divisões de base do Vasco são muito comprometidos. Do Jair Bragança, que hoje está no juniores, ao pré-mirim são todos comprometidos. O que a gente faz pela instituição é o melhor. A gente respeita os outros clubes, mas para ganhar da gente o cara tem que correr muito, não tem que correr pouco não, mas muito. Eles têm que fazer muito mais que a gente. Para ganhar do Vasco o cara tem que fazer muito, não é mais ou menos não, é muito. A gente vende muito caro. Gostaria de elogiar o Guilherme Almeida, que é preparador de goleiros e um cara muito comprometido. A prova disso é que ele se mudou recentemente para Maricá, que é longe, e sempre está com todo gás. Temos o nosso roupeiro Jacó, que vai para Portugal com a gente. Ele está maluco, pois vai fazer a primeira viagem internacional. Tem o Alegria, que é um garoto novo e que possui uma vontade de trabalhar muito grande. Temos o senhor Ademir, que possui muitos anos de Vasco e já trabalhou no profissional. Então, a gente queria que o torcedor do Vasco soubesse que lá embaixo, lá no mirim, tem gente que honra muito, muito a camisa que veste. Para ganhar do Vasco, como disse, o cara vai ter que comer muito. Isso foi provado no ano passado quando fomos campeões".
Com informações do Programa Só dá Base/Só Dá Vasco.