Carlos Alberto é sempre o último a sair do vestiário. Além dos cremes, carrega na nécessaire duas maquininhas: uma, para depilar as pernas, e, outra, para a barba. Da mesma forma que cuida do visual, o jogador de 28 anos enfim vem dando um trato na imagem, para que os erros do passado não deixem manchas numa carreira vitoriosa. Líder do Vasco, hoje, na final da Taça Guanabara, o pai de Lucca, de 3 anos, e Davi, de 9 meses, está mais centrado do que nunca. Tornou-se, quem diria, homem de confiança do presidente Roberto Dinamite, com quem brigara em 2011. Dá conselhos aos mais jovens e aponta o caminho para o fim da crise: "O título da Taça Guanabara é importante para todos os que dependem da marca Vasco", sintetiza Carlos Alberto, mirando no adversário do dia, o Botafogo.
O que mudou na sua vida depois do nascimento dos filhos?
Muita coisa. Hoje, tudo o que faço é pelo Lucca e pelo Davi. Eu perdi até a vaidade de comprar uma roupa mais legal para mim. Só penso em ver meus filhos arrumadinhos. E penso nas minhas atitudes. O Lucca é esperto e entende tudo. Se chego em casa com alguma dificuldade, algum aborrecimento, vejo meus filhos me esperando para brincar e penso: por que estou me aborrecendo? Isso não me pertence mais. Tenho que me preocupar com a formação do caráter dos meus filhos.
Você gostava de farra?
Já gostei muito. Continuo saindo, só que, hoje em dia, saio com minha mulher. Não deixo de me divertir, não. No momento certo, tomo meu chopinho. Meu tempo hoje é mais escasso. Em outras épocas, era só eu. Agora, sou mais família. Gosto de estar com os amigos, fazer churrasco, jogar baralho. Com moderação, pode-se fazer tudo.
Por que sua imagem divide opiniões?
Porque sou muito autêntico. Mau exemplo, eu nunca dei. Cometi erros, sim. Mas o que mais tem por aí é mau exemplo no nosso país. Na política, na saúde... Tem gente passando fome... As pessoas não podem achar que a coisa mais grave do mundo é um jogador ser visto na noite, tomando sua cervejinha. O Chorão, que morreu, tinha uma frase que até usei numa rede social: "Só quem é de verdade sabe quem é de mentira". E eu sempre fui só verdade.
Que erros cometeu? Acha que conduziu mal a carreira?
Eu cagava e andava quando alguém falava de mim. Em vez de esclarecer, de encerrar a questão, eu deixava pra lá. Pensava que meu marketing maior era minha imagem jogando futebol. Hoje, me preocupo mais. Vejo o Neymar, o Lucas, o Ganso, o Pato... É diferente o modo como cuidam da imagem. Há muita gente envolvida.
Quando se deu conta de que precisava cuidar da imagem?
Na Série B (2009). Ali, caiu a ficha. Era o momento de resgate do clube. Lançaram um boneco meu, fizeram uma peruca imitando meu cabelo... Aliás, até hoje eu tenho uns bonecos lá em casa, mas estão sem os braços... Meus filhos arrancaram (risos).
Com a saída do Juninho e do Felipe, você assumiu a posição de líder do time, embora não seja o capitão?
Não é bem assim. Na verdade, hoje, as pessoas percebem minha liderança com mais clareza porque esses caras que dividiam comigo a responsabilidade não estão mais lá. Quanto a ser capitão, você não precisa ter a braçadeira para exercer a liderança. Com ou sem ela, nunca deixei de fazer o que pensava ser o melhor para o time. Hoje, tenho uma noção maior daquilo que represento no clube.
O atual corte de cabelo tem a ver com esse amadurecimento?
Que nada. Mudei porque cansei de fazer trança. Fiquei de saco cheio de ficar entre duas e três horas numa cadeira. Acho que 24 horas não são suficientes para o meu dia. Não posso mais fazer cabelo de 15 em 15 dias. E, para lavar, era horroroso. Em dia de chuva, ficava com o cabelo cheio de lama e não conseguia lavar a fundo. Só superficialmente. Agora, estou mais limpinho e mais novo (risos). E estou com o cabelo mais parecido com o dos meus filhos. Se eu $que esse corte me rejuvenesceria, teria mudado há mais tempo.
Como está sua relação com o presidente Roberto Dinamite?
Hoje, não temos problema nenhum. Pode perguntar a ele. A gente conversa, ele me passa tranquilidade e me diz o que acha que tenho que passar para os jogadores.
O que dizer a jogadores que enfrentam o atraso de salários num clube amarrado pelas penhoras?
Posso servir de exemplo porque nenhum deles ficou mais tempo sem receber do que eu. Um dia, o (diretor) René (Simões), que é meu vizinho de condomínio, me ligou: "Vou precisar do teu salário para pagar a quem não tem o que botar dentro de casa". Fiquei sete meses sem receber o salário da carteira e também sete meses sem receber pela imagem. Mas já começaram a acertar. As pessoas aqui são sérias.
O grupo é compreensivo?
O grupo sabe que o clube tem problemas políticos e financeiros. Mas quem vai jogar é a gente. Se não for assim, daqui a pouco a gente vai estar passando vergonha no campo. É com o resultado do futebol que o clube pode se fortalecer.
Seu contrato com o Vasco termina em agosto. Vai renovar?
O clube já falou que quer que eu fique. E quero ficar mais tempo no Vasco, mas pedi para conversarmos depois da Taça Guanabara. Quero ficar focado no jogo.
Qual é o seu palpite para a final da Taça Guanabara com o Botafogo?
Quero ser campeão de qualquer jeito. Se possível, com uma vitória, para não haver muito sofrimento.
O Vasco perdeu jogadores de alto nível, mas vem surpreendendo. Qual é o segredo?
Fazendo uma comparação, a gente tinha um grupo muito experiente e, hoje, o time está mais dinâmico. Os jogadores experientes, num momento de pressão, suportam mais. Mas esse grupo novo está aprendendo. Fico muito orgulhoso, satisfeito, por estar com essa garotada disputando já uma final. Se a gente conquistar esse título vai ser de uma alegria imensa, pelo trabalho que vem sendo feito. Hoje, temos três técnicos de futebol: o René, o Ricardo e o Gaúcho. E o Ricardo me ajuda muito. Ele achava que eu gastava muita energia em outras partes do campo, e me disse: “Você não precisa pegar na bola a toda hora. Precisa ser decisivo”.
Fonte: Extra online