No tabuleiro de xadrez montado para a decisão do título da Taça Guanabara, todas as estratégias são válidas. Pelo menos, é assim que pensa o técnico Gaúcho, do Vasco, que decide contra o Botafogo, domingo, às 16h, no Engenhão, quem vai dar a volta olímpica.
Com a vantagem do empate do seu lado, pelo fato de a equipe ter sido a primeira colocada no Grupo A (os alvinegros ficaram em segundo), o técnico não quer dar qualquer pista sobre a tática traçada para a partida. Pelo contrário. Esconde o jogo e tenta pôr o adversário em xeque. Se o Botafogo aposta na hipótese de iniciar a decisão enfrentando um time recuado, pode correr risco.
— Temos que pensar em uma coisa diferente para este jogo. Muitos acham que vamos jogar recuados, devido ao fato de termos a vantagem do empate. Podemos ter uma surpresa no início — avisa Gaúcho.
O momento chegou
Se depender do que o Vasco treinou durante a semana, a dúvida lançada por Gaúcho faz sentido. Em nenhum dia, ele comandou coletivos. Na quinta-feira, o treino foi tático, de 15 minutos, com nove jogadores exercendo forte marcação a partir do meio de campo. Bernardo e Carlos Alberto ficaram de fora, participando de um animado futevôlei. Sinal de que são dois jogadores sem tanto compromisso com a marcação e liberados para a criação das jogadas no ataque.
Outros 15 minutos foram dedicados ao ataque. Éder Luís, Pedro Ken e o lateral-direito Nei criam jogadas pelo lado direito. Carlos Alberto atua mais centralizado, e Bernardo, Wendel e Thiago Feltri apoiam pelo lado esquerdo.
Na formação ofensiva, existe liberdade para a troca de funções. Segundo Gaúcho, é uma maneira de jogar que o time assimilou bem.
— Este esquema de jogo, sem jogadores com posições fixas no ataque, funcionou com este grupo. Estamos conseguindo criar várias oportunidade — lembrou o treinador, deixando em aberto a possibilidade de partir para cima no início do jogo no Engenhão.
Por outro lado, a tática adotada na vitória de 3 a 2 sobre o Fluminense, na semifinal da competição, de jogar com o regulamento na mão, agradou os atletas. Nei explicou:
— No primeiro tempo daquela partida, a gente recuou e não conseguiu sair jogando, por causa dos erros de passes. Quando corrigimos isso, o time cresceu de rendimento e se impôs no meio campo. Então, é jogar com inteligência e sem recuar muito — recomendou o lateral-direito.
Para Gaúcho, se o Vasco conseguir conquistar o título da competição, será uma realização pessoal muito grande.
— Eu trabalhei muitos anos fora do país. No próprio Vasco, tive chance apenas como interino ou dirigindo os juniores. Agora, o momento certo chegou para conquistar este título e meu trabalho ganhar maior visibilidade — afirma Gaúcho.
As jogadas de bola parada não foram esquecidas. Nesta sexta-feira, o trabalho foi todo direcionado para finalizações, cruzamentos e cobranças de faltas com lances ensaiados. O mais mortal deles, o chute preciso de Bernardo na cabeça de Dedé, na entrada da área. Em várias ocasiões, a bola entrou — mesmo com uma forte marcação no zagueiro capitão do Vasco.
De olho em Seedorf
Uma coisa é certa. O apoiador holandês Seedorf, do Botafogo, será vigiado de perto — tanto se recuar para organizar o jogo, quanto se avançar para tentar armar o ataque.
Pela sua experiência e talento, é um jogador que pode desequilibrar o jogo e merece atenção especial. Porém, Gaúcho vai decidir se o melhor será marcá-lo por zona ou adotar a marcação individual com um jogador no seu encalço.
— O Seedorf é um craque e merece atenção, assim como vários outros jogadores do Botafogo. O meio de campo deles é muito forte, e o time toca muito bem a bola — disse Gaúcho, sem esconder sua aposta na boa forma do time de São Januário, que está bem descansado e pronto para dar tudo na decisão.
— Por tudo que o nosso time fez, merece muito este título. Sinto a equipe em ascensão e preparada, mas com os pés no chão para conseguirmos uma grande vitória — disse.
Na estratégia de Gaúcho, mistério e uma boa mexida de peças andam juntos para o xeque-mate e a celebração final em pleno campo adversário.
Fonte: O Globo online