Até o gol de Bernardo no contragolpe de Eder Luís facilitado pela falha dupla de Gum, da rebatida no pé do adversário até o péssimo posicionamento, o duelo tático entre as equipes de Gaúcho e Abel Braga era interessante.
O Vasco mais contido, ciente de suas limitações, deixava os zagueiros Gum e Anderson saírem jogando e iniciava o combate com Eder Luís acompanhando Carlinhos, Carlos Alberto saindo em Edinho, Wendel mais aberto à esquerda esperando Bruno e Bernardo seguindo Jean. Pedro Ken e Abuda vigiavam Deco, Nei e Thiago Feltri pouco apoiavam e cuidavam de Thiago Neves e Wellington Nem. Dedé, com o auxílio de Renato Silva, duelava com Fred.
Abel surpreendeu com Nem aberto pela esquerda, deixando Thiago Neves para duelar com Feltri, lateral que fazia sua primeira partida na temporada e nunca foi um exímio marcador. Quase deu certo com menos de um minuto com o chute do camisa dez na trave.
A estratégia do campeão brasileiro era clara: ficar com a bola, abafar os contra-ataques cruzmaltinos e rondar a área até marcar o gol que inverteria a vantagem na semifinal. Quase saiu com Anderson. Alessandro salvou no susto sobre a linha.
Antes do intervalo, os ponteiros do Flu já haviam trocado de lado. Mas faltavam espaços para Wellington Nem usar a velocidade para cima de Feltri e Renato Silva. Assim como faltava o passe certo para Eder Luís às costas da zaga adversária. Carlos Alberto mais uma vez pecou pelo drible ou toque a mais que mata a objetividade da ação ofensiva. Atrasou dois contragolpes que seriam mortais.
Quando ficou a cargo de Eder Luís e Bernardo, saiu o gol que enlouqueceu o jogo. Abel, que já havia trocado Bruno, tímido no apoio, e o extenuado Deco por Wellington Silva e Wagner, tirou Anderson, recuou Edinho para a zaga e colocou Rhayner para formar um tridente ofensivo com Nem e Fred atrás de Thiago Neves e Wagner. Time ultraofensivo, quase suicida.
Mas funcional, ainda que no “abafa”. Uma cobrança de lateral e um chute de Carlinhos, gols de Thiago Neves e Wellington Nem. Com a virada, foi a vez de Gaúcho abrir seu time e transformar o jogo numa autêntica “briga de rua”. Sem tática, organização, trabalho coletivo. Puro coração, alma saindo pela boca.
Depois de Fellipe Bastos na vaga de Abuda, Dakson e Romário substituíram Feltri e o exausto Eder Luís. Wendel foi para a lateral-esquerda, Carlos Alberto recuou para articular e os reservas que tinham acabado de entrar criaram a jogada do gol de empate, marcado pelo homônimo do Baixinho.
O resultado era suficiente para o Vasco e o Flu parecia sem forças para transformar os 63% de posse de bola em nova virada. Mas o jogo já estava insano demais para qualquer administração racional.
Em nova falha de Gum saiu o gol de Dedé, que Gaúcho queria na defesa para garantir o empate. Lance emblemático para premiar o melhor em campo, lembrando o defensor seguro e impetuoso da fase esplendorosa da carreira, em 2011. Redenção do zagueiro e do time tratado como "quarta força" em nível regional.
O Vasco espera Flamengo ou Botafogo para a decisão do turno e parece pronto para disputa tática ou jogo aberto. Tudo pela Taça Guanabara e a vaga na final carioca.