Alberoni, ex-promessa do Vasco, pausou carreira no futebol aos 28 anos e trabalha como representante de laboratório farmacêutico

Quinta-feira, 28/02/2013 - 17:55

A passagem pelo Barcelona ainda está clara na cabeça de Alberoni. Em 2004, quando calçava as chuteiras e ia para o campo de treinamento no Camp Nou, ainda alimentava o sonho de alçar voos mais altos na carreira de jogador de futebol. Afinal, via ali, a seu lado nos treinamentos pelo time B, um baixinho argentino que ganhava, pouco a pouco, uma chance entre os profissionais. No entanto, os treinos com Lionel Messi viraram apenas história para contar. Desiludido com os calotes que diz ter levado de empresários, decidiu procurar outro rumo. Sem descartar uma volta ao futebol, o volante, de 28 anos, que chegou a jogar como terceiro homem do meio de campo, divide o tempo entre os estudos na faculdade de administração e o trabalho como representante de laboratório farmacêutico.

A ida para a Espanha e os treinamentos com Messi duraram apenas um mês. Hoje, Alberoni demonstra certo arrependimento de ter se precipitado e saído do clube catalão. Ele contou que, na época, havia sido levado para Barcelona através de um representante da Nike, após ter brilhado pela seleção brasileira sub-17 no Sul-Americano e no Mundial de 2001. No entanto, seu empresário não teria aparecido para assinar contrato, e uma proposta de US$ 200 mil do Independiente pela compra de seu passe falou mais alto. E decidiu ir para a Argentina.

- Eu cheguei no dia da apresentação do Eto’o, lembro como se fosse hoje. Aquela agitação, a primeira entrevista dele e a gente indo treinar. Eu estava bem na pré-temporada, participei dela toda, estava jogando… Ia ser uma virada na minha vida. Mas carreira de futebol é curta. Onde tem oportunidade você vai. E ali eu tinha o contrato todo direitinho, podia ganhar 200 mil dólares. Não tinha nem o que pensar – lembrou.

O problema é que, ao chegar ao clube argentino, todas as promessas se tornaram apenas fantasia. A empresa que intermediara o negócio entre o Independiente e o pai de Alberoni era, segundo ele, fantasma. O dinheiro da contratação jamais teria caído em sua conta. O salário, só teria recebido uma pequena parte. Ao demonstrar desejo de voltar para casa, diz que chegou a encontrar a fechadura de seu apartamento trocada. Alberoni contou ainda que teve de fugir e se abrigar em um hotel. E só depois de muita insistência teria conseguido liberação para retornar ao Brasil, após a intervenção do presidente do clube. Esse teria sido apenas um dos muitos calotes que afirma ter levado na carreira.

Promessa no Vasco, no Inter de Milão e na seleção brasileira

A chance de se tornar um jogador de destaque no cenário mundial apareceu logo cedo na vida de Alberoni. Aos 17 anos, era titular da seleção brasileira da categoria e uma das maiores promessas ao lado de Diego, do Santos. Com a camisa do Vasco, sua geração acumulava títulos nos torneios de base. Naquele time, Morais, Wescley, Coutinho e Anderson enchiam os dirigentes do clube de expectativa para faturar alto. Assim, não demorou para ser vendido, logo aos 18 anos, para o Inter de Milão.

A vida na Itália teve períodos de altos e baixos. Por um lado, se destacava no time B, ao lado do nigeriano Oba Oba Martins e do macedônio Goran Pandev. Por outro, o frio e a solidão eram inimigos. Sem um empresário para cuidar da carreira e com a família no Brasil, o jovem atleta tinha medo do futuro – principalmente de ser emprestado para times italianos de menor expressão. Reuniu-se com o presidente do Inter de Milão e acertou sua ida para o Bahia, com a ajuda de um empresário. Foi o primeiro arrependimento.

- Eu não me arrependo de ter ido para a Itália tão cedo. Eu me arrependo de ter voltado. Eu era uma promessa no Inter, artilheiro da equipe, camisa 10 no time B. Se eu não tivesse voltado tão cedo, não sei, subiria para o profissional, mas provavelmente iria para um time mediano da Itália emprestado, com um bom salário, ia ser valorizado. Eu me precipitei em voltar ao Brasil. Eu achei que todo mundo era safado, mas nem todo mundo é – disse.

Vida de cigano: cinco países e 14 clubes em dez anos

No time baiano, nem chegou a jogar. Por uma divergência com seu empresário, o presidente do Bahia impediu os atletas agenciados por ele de atuarem na equipe. Foi uma passagem de apenas algumas semanas, até ter a chance de treinar no Barcelona. No time catalão, treinou por um mês e foi contratado pelo Independiente, da Argentina. Sem receber, conseguiu voltar ao Brasil e acertou com uma empresa que agenciava atletas. Nessa época, seus ex-companheiros de Vasco, como Morais e Anderson, já estavam entre os profissionais do clube.

Enfim, começou a ter chances de jogar, mas os períodos em que ficava nos clubes era curto. Disputou o campeonato estadual pelo Paraná em 2005 e, ainda durante a competição, foi contratado pelo Avaí. Apesar das boas atuações no Campeonato Catarinense, começou a perder espaço na campanha da Série B, até ser negociado com o União de Leiria, de Portugal. No time português, diz ter voltado a conviver com os calotes.

- Eu nem cheguei a jogar em Portugal. Quando recebi o primeiro salário, vi que só 40% tinha sido depositado. Os outros 60%, que eram do contrato de imagem, não caíram. E, lá, o presidente tinha um poder muito grande, era o que ele falava e acabou. E ele falou que não ia me negociar, mesmo que eu não quisesse jogar. Foi quando, em 2006, pintou o interesse do Vasco para atuar entre os profissionais. Eu tive que chorar na frente do cara, até que ele deixasse eu voltar para o Brasil – lembrou.

Dali, Alberoni continuou sua vida de peregrinação, sem muito sucesso nos clubes em que passou. No Vasco, era reserva do grupo que terminou vice-campeão da Copa do Brasil de 2006. Sem espaço, foi negociado com o Las Palmas e, meses depois, chegou ao Alavés, ambos da segunda divisão da Espanha. Em 2007, foi contratado pelo Botafogo, sem ter muitas oportunidades. Nos anos seguintes, passou por Novo Hamburgo, Duque de Caxias, Slavia, da Bulgária, até o ASA de Arapiraca, seu último clube, em 2011.

- Na Bulgária, eu treinava com temperaturas de vinte graus negativos. Não conseguia entender nada, ler nada. Foram 10 meses. Lá eu aprendi a dar valor às coisas. O futebol pode ser uma escolha que não dá certo. As pessoas acham que eu estou rico, mas o máximo que eu ganhei de salário foi R$ 8 mil, no Vasco. Ganhei experiência, cultura, mas dinheiro não.

Volta aos gramados

Há mais de um ano longe do futebol, sobram histórias para contar. Além de treinar com Messi, no Barcelona, jogou com Crespo, Batistuta e Materazzi no Inter de Milão. No Independiente, jogou ao lado de Agüero , com quem fez amizade. “O pai dele era muito coruja, não perdia um treino, um jogo. Eu ficava espantado com a semelhança dele com o Romário.”

A última tentativa de voltar ao futebol foi no fim de 2012. Após receber um contato do River-PI, o jogador acertou as bases salariais e assinaria com o clube piauiense, que chegou a anunciar sua contratação. No entanto, ao disputar um jogo beneficente em dezembro, voltou a sentir dores no joelho direito, fruto de uma antiga lesão nos ligamentos, e teve mais um motivo para se manter distante dos gramados. Assim, preferiu dar continuidade a seu novo trabalho, onde projeta uma carreira.

- Não encerrei a carreira não, mas minha prioridade hoje é o estudo, meu novo trabalho. Eu procurei algo que fosse dinâmico, que nem é o futebol. Eu não ia conseguir ficar dentro de um escritório. Fiz um curso específico para a profissão e comecei a mandar currículo para as empresas. Pode-se dizer que o futebol me abriu portas: meu gerente é vascaíno doente, lembrou do meu nome e me deu essa oportunidade. A indústria farmacêutica é um mercado muito restrito – disse.

Desapegado, Alberoni guarda poucas camisas dos clubes por onde passou


Com estoque de remédios, ele trabalha como representante de laboratório farmacêutico


Fonte: GloboEsporte.com