Principal referência e um dos destaques do Vasco em 2013, Carlos Alberto recebeu o LANCE! em São Januário para fazer um balanço da carreira, de seu início de temporada e do que vem pela frente. “Veterano” da bola mesmo com apenas 28 anos, foi logo “preparando” a reportagem, tendo um irreverente breve bate-papo com um funcionário do clube:
– Você (funcionário) acha que, hoje em dia, esses caras (jornalistas) me pegam? Estou há 12 anos nisso (futebol). Já conheço até as perguntas. Já sei até quando vocês fazem uma pergunta só para o cara dar uma resposta embutida. Só para o cara falar: “É, com certeza...”
Experiente, de fato, aprendeu, com o passar do tempo, a ouvir e a medir cada palavra, mas jamais se furtou a responder. Com seu jeito “Carlos Alberto de ser”, deixou o “com certeza” de lado, abriu o coração e falou sobre tudo. Confira o bate com o camisa 10 vascaíno:
LANCE!: Te surpreende este seu início de ano tão bom?
Carlos Alberto: Surpreender não sei se é bem a palavra, mas estou bem feliz, porque no futebol você planeja alguma coisa, mas nem sempre o que planeja, acontece. Fico feliz porque o que está sendo planejado, está acontecendo no momento certo. Fico surpreso pela sequência, por não ter nenhum problema físico.
LANCE!: Ano passado o Vasco tinha outros líderes como Juninho e Felipe. Agora, a impressão é que está tudo mais concentrado em você...
Carlos Alberto: Ano passado tinham vários jogadores que dividiam a responsabilidade, mas isso não quer dizer que eu deixava de participar, de ter opinião. Esse ano está mais concentrado em alguns, mas o meu papel tem sido o mesmo. Sempre tive tranquilidade para conviver com isso. Acho que funciono bem quando tenho essa responsabilidade, essa pressão.
LANCE!: E você tem essa preocupação de orientar os mais novos?
Carlos Alberto: Eu, quando subi para o profissional, sempre tive curiosidade de saber, por exemplo, por que o Romário era o Romário. Então, tive a oportunidade de jogar com ele (Fluminense) e queria sugar tudo de bom que ele fazia para saber o motivo pelo qual ele era tão diferenciado. Acho que, hoje em dia, falta um pouco disso aos mais jovens, mas aqui no Vasco o bacana é que a garotada escuta bem e, assim, a gente vai trocando experiência.
LANCE!: Seu contrato se encerra em agosto. Você acredita que este momento bom que atravessa pode influenciar em sua permanência?
Carlos Alberto: Estou super tranquilo em relação a isso e já até conversei com o René Simões (diretor-executivo), porque sei que, na hora certa, vamos conversar. Estou completamente focado em fazer meu papel em campo.
LANCE!: Mesmo já tendo uma experiência internacional vitoriosa, ainda pensa em atuar no exterior?
Carlos Alberto: Tive oportunidades na vida, tracei um plano financeiro e, hoje, estou tendo tranquilidade para jogar aqui no Brasil e ser bem remunerado. Não sei. É uma coisa que, hoje, posso estar falando que não, mas, amanhã, posso estar sendo escravo da minha língua. Deixo o tempo andando da forma como quer.
LANCE!: Muitos jogadores deixaram o clube no início deste ano e você ficou. Por qual motivo?
Carlos Alberto: Vou ser bem sincero. Já tinha conversado com o René e acreditei na situação. E as coisas que me foram propostas também não eram interessantes. Sou do Rio, tenho ambiente e identificação com o clube, então para que vou sair sendo que já tenho toda uma situação aqui e pessoas que confiam em mim? Cada um que saiu teve sua questão pessoal e respeito. Torço para todos, só que tomei minha decisão, estou feliz e espero estar cada vez mais até o fim do contrato. Se possível, renovando-o.
LANCE!: Sua carreira é marcada por muitos episódios. O que você tirou de lição dos altos e baixos?
Carlos Alberto: Futebol é uma profissão que te dá a oportunidade de recomeçar. Talvez, em outros segmentos da vida, uma pessoa tenha que esperar muito tempo, e o futebol dá essa oportunidade de, semana a semana, mês a mês, dar a volta por cima. Se você passa por um momento difícil, tem que reciclar isso sem ser de uma forma ruim. Saber que o céu e o inferno é uma linha muito tênue.
LANCE!: Há alguns anos, você procurou uma ajuda espiritual (igreja evangélica Bola de Neve). O quanto isso lhe ajudou?
Carlos Alberto: É sempre bom cuidar dessa parte espiritual. Sempre que posso, gosto de ir, levar meus filhos, estou sempre em comunhão e gratidão com Deus por tudo o que ele proporcionou na minha vida. Por eu ter uma família bacana, dois filhos lindos, com muita saúde... As pessoas, hoje, no mundo, deveriam buscar mais paz e tranquilidade, porque quem tem fé, tem ajuda para buscar e conquistar alguma coisa.
LANCE!: Todos depositam confiança e reconhecem seu talento, mas alguns se preocupam no que se refere a lesões. O que tem a dizer?
Carlos Alberto: Se for pegar meu histórico, nunca tive lesão grave. Agora, não gosto quando ficam toda hora tocando neste assunto porque é um assunto chato. Quando um atleta se contunde, ele não fica contente. Quando o cara se machuca é o momento mais difícil que ele tem, pois tem que ir mais ao clube, trabalha mais que os outros jogadores... E eu me entrego muito nos jogos. Posso até jogar uma partida mal, mas nunca vou deixar de lutar em campo, me entregar. Isso ninguém pode falar.
LANCE!: Em 2009, seu ex-técnico José Mourinho o elogiou como promessa, mas disse que não sabia onde estava jogando. Como lidou com isso e com críticas de que não correspondeu como o esperado?
Carlos Alberto: Sempre aprendi muito com ele e o respeito, mas, na altura que ele falou, eu estava na Série B. Talvez por isso não sabia. Hoje, se perguntar, acho que vai saber, porque o Vasco está na série A e é um clube grande. Acho que é até normal, porque já morei fora e não lembro de terem transmitido Série B. Com relação às críticas, como não correspondi se sou campeão da Champions League, mundial, da Copa do Brasil, brasileiro e tenho 28 anos? Se pegar, no país, jogadores com meu currículo e com a idade que tenho, vão ver que são poucos. Como falei, não sou alérgico à críticas, mas também vamos falar as verdades. Quando entro na minha casa, tem tudo o que já fiz. Tem a minha família, que se sente orgulhosa de mim, meus amigos...Então isso já basta. Não tenho a necessidade de provar. Minha história já fala por mim.
LANCE!: Em paralelo a isso, o técnico Gaúcho já até o cita na Seleção. Isso está nos seus planos?
Carlos Alberto: Lógico que tenho esse sonho de representar meu país. Tenho minhas metas, mas, hoje em dia, prefiro guardá-las para mim, porque tenho que lidar com algo que hoje é real para mim. E o que é real? É o Vasco e a possibilidade de participar de uma semifinal. Então, não adianta pensar na frente.
LANCE!: Os vascaínos sempre tiveram carinho com você. Um título agora marcará você de vez?
Carlos Alberto: A Série B foi um momento ímpar, o mais importante da História do clube e fico feliz por ter participado. Na história do clube já estou, mas quero cada vez mais me consolidar. O vascaíno sempre me abraçou de forma especial. O plano é, depois das boas atuações e vitórias, dar alegria para eles com um título.