Apesar da recomendação de rejeição pelo Conselho Fiscal e pelo Conselho de Beneméritos, o Conselho Deliberativo do Vasco aprovou as contas do exercício de 2011 da gestão de Roberto Dinamite. A reunião, realizada na sede náutica do Vasco, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul do Rio, teve a presença de 142 conselheiros. A votação terminou com 76 a favor da aprovação do balanço e 66 contra.
O Deliberativo é composto por 300 membros, sendo 150 natos (beneméritos e grandes beneméritos), 120 da chapa vencedora da última eleição presidencial e 30 da segunda colocada, de Leonardo Gonçalves, da Cruzada Vascaína. A primeira vez que o tema entrou em pauta no Deliberativo foi em outubro de 2012. Em reunião polêmica, o presidente do órgão, Abílio Borges, encerrou a sessão sem a votação das contas, com prazo de 60 dias para que fossem feitas as correções recomendadas pelo Conselho Fiscal.
Eurico Miranda, presidente do Conselho de Beneméritos, que já apoiara a aprovação das contas de 2009 e 2010, ajudou a articular este acordo na ocasião. Cerca de um mês depois da reunião, Abílio Borges pediu licença do cargo, que passou a ser ocupado por Roberto Monteiro, pré-candidato à presidência do clube. Abílio, contudo, antecipou seu retorno às vésperas do novo encontro para votação das contas.
- Os conselheiros que votaram contra a aprovação das contas votaram seguindo o Conselho Fiscal. Os que votaram a favor simplesmente disseram que o Conselho Fiscal do Vasco não existe e que inclusive foi eleito pela própria situação. O Conselho Fiscal do Vasco apontou irregularidades no balanço e o Deliberativo disse que não houve. A votação foi nominal, sabe-se quem votou contra e a favor. Eu votei como membro do Conselho Fiscal e dos Beneméritos. Tem um ditado que diz "onde há fumaça, há fogo". Esse resultado demonstra que há uma série de medidas irregulares dessa nova diretoria - disse Eurico.
Leonardo Gonçalves, membro do grupo Cruzada Vascaína, também lamentou a aprovação.
- O principal foi que houve debate. Abílio conduziu muito bem a reunião. Eu não sou advogado, mas tenho advogados em meu grupo, e acho que quem aprovou essas contas pode ser solidariamente responsabilizado num possível incidente de falsidade, em relação àquele aditamento de contrato da Penalty, assinado em 2012 com data de 2011. Fora isso, quem aprovou desrespeitou o Conselho Fiscal. Eles se colocaram ao lado de dois fornecedores que lesaram o clube. Assim é complicado falar em crise financeira - declarou Gonçalves.
Mesmo com a vitória no Deliberativo, Dinamite, que não compareceu e foi representado pelo vice geral, Antônio Peralta, vive momento de asfixia financeira e fragilidade política no Vasco. Com todas as receitas penhoradas por execuções fiscais e cobrança de dívida de Romário, o clube atrasa todo tipo de pagamentos. Roberto Dinamite perdeu diversos dos seus vices, incluindo os dois principais de sua gestão, que tocavam o dia a dia do clube em seu primeiro mandato: José Hamílton Mandarino e Nelson Rocha. Ao se reeleger em 2011, Dinamite passou a centralizar as decisões e acabou se desgastando com sua diretoria.
- O Vasco é isso. É uma democracia, não é de agora, desde a sua fundação. Havia forças contrárias à aprovação, mas acredito que todas no sentido de ajudar o Vasco - disse Peralta.
Questionado sobre as declarações de Eurico, o vice-presidente geral destacou que os pontos que geraram dúvidas já estão sendo resolvidos.
- Isso é fala do Eurico. É fala de quem perde. As duas dúvidas, os dois quesitos apontados pelo Fiscal, já estão sendo corrigidos. Tivemos que fazer em três meses o que era para ter sido feito em um ano. Tivemos que refazer o balanço todo. Acredito que dentro de 15 dias estará tudo corrigido - completou.
Eram contestados principalmente dois pontos da prestação de contas de 2011: o contrato celebrado com a fornecedora de material esportivo Penalty e o programa de fidelidade para o torcedor, da empresa Torcedor Afinidade, ambos tidos como lesivos ao clube. Mesmo com prazo de 60 dias para que fossem feitas as correções, um novo parecer do Conselho Fiscal, emitido há uma semana, mostrou que os ajustes não foram a contento.
Sobre o programa de sócios, o último parecer do Conselho Fiscal ressaltava que "os extratos bancários apresentados não comprovaram a integralidade dos recebimentos provenientes dos sócios", referindo-se a uma receita de R$ 4.378.248,19. Em outro item, referindo-se a uma despesa de R$ 1.757.745,16, o documento aponta também a falta de comprovação nos extratos bancários dos pagamentos de impostos, honorários dos serviços e das demais despesas. Além disso, o parecer diz que o conselho constatou "que os valores dos impostos não tiveram comprovação do pagamento pela empresa e foram descontados da receita do clube pela Torcedor Afinidade Ltda. de forma indevida e irregular" e que que não há "registro na contabilidade do clube de nenhuma nota fiscal de serviços referentes aos honorários" da empresa que faz a gestão do programa.
Quanto ao contrato da Penalty, o parecer do Conselho Fiscal aprova duas das correções feitas, mas novamente rejeita a regularização do "lançamento irregular de uma dívida de R$ 340.000,00 no balanço patrimonial". O documento ressalta que foi enviado pela diretoria do clube à diretoria do Deliberativo um termo de aditamento ao contrato com a Penalty em 4 de novembro de 2011. O Conselho Fiscal, porém, diz no parecer que não tem conhecimento de qualquer aditivo contratual no acordo com a empresa e que em reunião realizada em julho de 2012 com presença do vice-presidente de finanças na época, Nelson Rocha, foi confirmada a não existência de outro contrato ou aditivo.
Fonte: GloboEsporte.com