"Eu fui um marginal do futebol. Joguei como profissional durante 11 anos, no Brasil, na Argentina e na Itália. Aqui, e na Argentina, uma legenda sempre me acompanhou: a de violento. Mas fiz muitos gols, construí a fama de muitos artilheiros, e ajudei alguns clubes a conquistar títulos. Porém, só fui amado pelas torcidas dos clubes que defendi. Para as outras, e uma parte da crônica esportiva, eu era apenas isso: um marginal.
Esse é apenas um pequeno trecho do longo depoimento prestado por Almir Moraes de Albuquerque a Fausto Neto, e que jornalista transformou no livro "Eu e o futebol", lançado em 1973, dois meses após a morte do craque, que está completando 40 anos no próximo dia 6.
Pois é. Almir foi um dos jogadores mais polêmicos de todos os tempos. O atacante, que também chegou a ser chamado de Pelé branco, defendeu nove clubes de três países: Sport-PE, Vasco, Corinthians, Boca Juniors-ARG, Fiorentina-ITA, Genoa-ITA, Santos, Flamengo e América-RJ. Por esses, foi campeão estadual, brasileiro, sul-americano e mundial. Pelo seu comportamento, Almir não teve muitas chances na Seleção, apesar do seu grande futebol. Participou de apenas oito partidas, entre 1959 e 1960, com quatro vitórias, três empates e uma derrota. Ganhou a Copa Roca e a Taça do Atlântico em 1960.
Almir nasceu em Recife, em 28 de outubro de 1937, e despontou nas categorias de base do Sport. Além dos títulos, participou de pelo menos seis tumultos formidáveis. Confira no Baú da LANCE!TV O mais famoso na decisão do Carioca de 1966, Bangu 3x0 Flamengo. E o último na Rua Bariri, em 1967, quando o América venceu o Olaria por 1 a 0. Os 22 jogadores foram expulsos.
A badalada na Galeria Alaska
Em 6 de fevereiro de 1973, já aposentado, Almir tomava cerveja no Bar Rio Jerez, na Galeria Alaska, na época reduto badalado de Copacabana. Com o ex-jogador, a companheira Helenice e os amigos Alberto Russo e Elói de Lima. Próximo deles, os portugueses Artur Garcia Soares, o filho adotivo José Salazar, e o amigo de ambos, Antônio Samuel Vicente. Segundo o escritor Mário Prata, que foi testemunha do crime, os portugueses provocaram os atores do grupo Dzi Croquettes, que jantavam no local, quando Almir decidiu defendê-los. Artur sacou a arma, atingindo Russo e Almir. Russo morreu no hospital. E Almir, que tomou um tiro na cabeça, ali mesmo, no calçadão da Avenida Atlântica.
Curiosidades
1. Artur fugiu e se apresentou no dia seguinte ao 13º Distrito Policial, acompanhado do advogado Nílton Feital. Aproveitou a má fama de Almir, e disse que agira estritamente em legítima defesa. O delegado Ivan dos Santos Lima registrou seu depoimento e o liberou.
2. Quando a prisão preventiva de Artur foi decretada pelo juiz Ivaldo Correia, do I Tribunal do Júri, uma semana depois, os portugueses já haviam deixado o Brasil. A morte de Almir ficou sem punição. Mas ainda hoje, 40 anos depois, ainda vale a pena contar a sua história.