De roupa social e gravata, o rubro-negro Leonardo Barros saiu do escritório direto para o Engenhão. O traje que poderia ser de gala foi por conta da correria para conseguir chegar no horário do jogo, que começava às 19h30m do último dia do mês, em plena quinta-feira e com preços de ingressos salgados. O resultado dessa mistura foi que o Vasco x Flamengo, um dia rotulado de Clássico dos Milhões, teve apenas 12.423 pagantes pagantes. Antes da partida, vencida pelo Rubro-Negro por 4 a 2, os arredores do estádio tinham ares bucólicos de um bairro qualquer do subúrbio do Rio.
- Viemos direto do trabalho, não deu nem para trocar de roupa. Vou ficar num cantinho para torcer à paisana. Esse jogo poderia ser no domingo – sugeriu o torcedor do Flamengo Leonardo Barros, que foi acompanhado do amigo vascaíno Marcoli, ambos na beca.
Do lado de fora do Engenhão, a dupla de torcedores se misturava aos poucos torcedores que circulavam pelo local. Geralmente muito movimentada, a rua onde se concentra a torcida do Flamengo abrigou muitos vendedores e poucos consumidores. As cervejas até tiveram bastante procura, mas muito churrasquinho encalhou.
- Último dia do mês, quinta-feira, às vésperas do Carnaval, tá todo mundo duro – chiou um dos vendedores ambulantes.
Em meio aos torcedores de Vasco e Flamengo, um menino nem ligava para a rivalidade clubística. De camisa do Botafogo, a “briga” do garoto era com um grupo que corria atrás de uma pipa que dava sopa próxima a uma das entradas do estádio.
Ao contrário do que acontece em clássicos com grandes públicos, os ônibus dos times chegaram ao Engenhão sem enfrentar corredores de torcedores que se dividem entre apoio e hostilidade, de acordo com suas bandeiras. Os veículos entraram no estádio sem problema algum e, estacionados lado a lado, não foram procurados nem mesmo para fotos.
Pouco antes do jogo, as bilheterias tinham movimento bem abaixo do que se espera de um jogo entre Vasco e Flamengo. Torcedores entravam tranquilamente nas bilheterias, por vezes um a um, sem maiores incômodos. Meninas espalhadas com um colete verde fluorescente e a frase “Posso ajudar?” tiveram pouco trabalho nesta quinta-feira.
Policiais montados a cavalo andavam tranquilamente nos arredores do estádio numa espécie de romaria.
Muitos torcedores chegaram já com a bola rolando, às pressas, não em busca de lugares, já que podiam escolher onde sentar. Mais do que as cores preto, vermelho e branco de rubro-negros e vascaínos, o azul das cadeiras vazias do Engenhão deu o tom do clássico.