Melhor desde Da Guia
Até o momento em que escrevo, o Vasco e Dedé resistiam à proposta do Corinthians pela transferência do jogador. É claro que este cronista, que nunca escondeu sua condição de torcedor vascaíno, torce para que ele permaneça no Vasco. Até porque apareceu outro cronista recomendando a mudança de clube, sob o pretexto de que o jogador correria o risco de não manter a boa fase "atuando em um time desfigurado e problemático". E rasgou a fantasia: "Não acredito, a mudança para o forte Corinthians seria interessante".
Lembro minha condição de veterano para dizer que, no meu tempo, jornalismo esportivo não era assim, não. No meu tempo, jornalismo era jornalismo e corretagem era corretagem. Mas deixa pra lá. O que interessa é que Dedé recuperou a forma, é novamente o melhor zagueiro do Brasil e está em lua de mel com a torcida vascaína.
Olha que ser zagueiro e assumir a condição de jogador mais brilhante do time não é fácil. Tal destaque é atribuído, quase sempre, aos atacantes, aos jogadores do meio do campo e até aos laterais. Vejo futebol há mais de 60 anos e nunca vi um zagueiro brilhar tanto. Não vi Domingos da Guia, infelizmente, mas estou convencido de que foi o melhor de todos, até do que Dedé. Mas vi Mauro, Orlando e o próprio Beline, que não era nenhum craque, mas cumpria muito bem as suas obrigações, e nenhum desses jogadores me impressionou como Dedé. Ele tem sobre os maiores zagueiros que vi a condição de melhor jogador da equipe. Ele defende, apoia, ataca e espalha para o time inteiro uma disposição para a vitória que, em várias oportunidades, foi vital para o Vasco.
Nem tudo é perfeito, porém, a começar pelo próprio Dedé, que, sendo humano, pode errar, levar dribles etc. Mas imperfeita mesmo é a relação do jogador com o Vasco, que só agora parece ter acordado para o fato de que detém apenas 45% dos direitos de Dedé. O restante foi dividido entre empresas e empresários, identificados como "investidores". Longe de mim a idéia de protestar contra essas coisas do mundo capitalista, mas imagino que seria incômodo para mim, se fosse um jogador de futebol, se tivesse de conviver com essa variedade de patrões. E soa estranho para este vascaíno, pois quem paga todas as despesas durante as contusões dos jogadores é o clube e quem paga todas as obrigações trabalhistas também é o clube.
Seria desnecessário repetir minha grande admiração por Dedé, um jogador que acompanho desde o tempo em jogava no Volta Redonda. Desde, exatamente, um jogo em que marcou um gol de cabeça para o Voltaço. Acompanhei, portanto, as dificuldades enfrentadas no próprio Vasco e a sua evolução no clube. Cumpro, assim, ao afirmar que se trata do maior zagueiro brasileiro, desde Domingos da Guia, a observação do meu mestre Armando Nogueira a um treinador chamado Arquimedes, que cuidou de Nilton Santos ainda no São Cristóvão e nunca disse isso. Se fosse o outro, o de Siracusa, gritaria para o mundo "Eureca! Eureca!". É o que eu grito.
Fonte: Coluna Sérgio Cabral - Lance