Atletismo: Vascaínos falam sobre os primeiros treinos no Engenhão após a interdição do Célio de Barros

Segunda-feira, 28/01/2013 - 08:19

Se for verdadeiro o ditado “Há males que vêm para bem”, a recente interdição do Estádio de Atletismo Célio de Barros — cuja pista vem sendo usada na reforma do Maracanã — pode ter ocasionado a transferência da comunidade do atletismo para o melhor palco no Rio: a pista principal do Engenhão, onde atletas e alunos de escolinhas já treinam desde meados da semana.

Verdade que o Célio de Barros, inaugurado a 25 de outubro de 1974, faz parte da história, por ter recebido os campeões olímpicos Adhemar Ferreira da Silva, Joaquim Cruz e Maurren Maggi. Mas diante da interdição recente e da possível demolição, para que o local vire estacionamento do Maracanã, usar a pista do Engenhão sem choque com treinos de futebol do Botafogo pode ser a solução. Isso até ser erguido o novo estádio próximo à Quinta.

Um exemplo da convivência pacífica futebol/atletismo ocorreu quarta-feira. Às 9h, enquanto o futebol do Botafogo treinava no campo auxiliar do Engenhão, 50 atletas do Vasco, de outras equipes e alunos do Projeto Rio-2016 corriam na pista principal do estádio, à paisana, parte do acordo.

APREENSÃO NO JÚLIO DE LAMARE

Esta convivência terá de ser alinhavada entre o presidente da Federação de Atletismo do Rio, Carlos Alberto Lancetta, e o diretor executivo do Botafogo e do Engenhão, Sérgio Landau.

— Sem dúvida futebol e atletismo podem conviver no Engenhão. Sempre foi o projeto do Botafogo usar a pista. Já treina lá há mais tempo o Projeto Brasil Vale Ouro. E como o time raramente treina no campo de jogo (onde está a pista principal), a convivência será possível — afirma Landau. — Temos campos, pistas, vestiários, banheiros, salas livres. É a nova casa do atletismo.

Atletas de arremessos irão para o Cefan. O gramado do Engenhão não pode ser atingido por dardos, discos, pesos.

— O equipamento (barreiras, colchões) do Célio de Barros será transportado para o Engenhão — diz Lancetta.

— Não temos estádio para competições, nem transporte (para o Engenhão). Mas temos a promessa do governador quanto ao transporte.

Treinar pesa no bolso, como dizem atletas e pais de crianças do Rio-2016.

— Para o Célio de Barros, pegava uma kombi. Agora, mais dois ônibus. Vai ter dia de não treinar, sem dinheiro — diz Marcelle Souza, 16 anos, da escolinha.

Boa ideia talvez seja a de Laura Teixeira, mãe de Matheus e Ester:

— Queria o Riocard para atletas.

Para quem convivia no Célio de Barros, a possível demolição apavora. Caso da técnica do Vasco, Solange Chagas:

— O Engenhão não é nossa casa. É emprestado. Queremos o "Célio" de volta. Não vamos desistir! Eles têm a ideia de acabar com o Célio há tempos. A Copa e a Rio-2016 são desculpas!

Professora da escolinha Rio-2016, Edineida Freire antecipa que haverá ato contra a demolição no dia 31:

— O Engenhão é muito bom, mas não é para o atletismo. É espaço do futebol. Já Vania Valentino, treinadora do velocista Aldemir Gomes, que foi a Londres-2012, diz que demolir o Célio é inadmissível para quem vai sediar as Olimpíadas. Para Aldemir, o Célio de Barros é sua segunda casa:

— Foi como perder um parente. Está a caminho da destruição. Quem faz isso pouco está se lixando para o atletismo. Aqui não estaremos à vontade. Ele não é tão nosso quanto o Célio.

Para Nina Santoro, de 17 anos, líder do ranking de menores nos 100m com barreiras, a pista do Engenhão supera a outra, mas demolir o antigo estádio será um golpe fatal no atletismo. Já a barreirista Fernanda Tavares, 28 anos, acha que o Engenhão já deveria ter recebido o atletismo há mais tempo:

— O atletismo é pai de todos os esportes, mas é visto como algo menor.

Velocista, Ivan Mello, de 19 anos, acha que atletismo e futebol não prejudicam um ao outro:

— Este aqui será o espaço para 2016.

No Julio De Lamare, treinam seleções de nado sincronizado junior e adulta (também usam o Maria Lenk, na Barra), além da Associação Peneira Olímpica de saltos ornamentais. De 30 de janeiro a 1º de fevereiro, o local vai receber a seletiva de saltos para o o Sul-Americano Aquático Juvenil do Chile, em março. De acordo com a assessoria da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, com sede no Julio De Lamare, nada se falou sobre o destino da entidade após o fechamento do local. Segundo a Suderj, "não há data para a transferência das atividades do Julio De Lamare", mas os alunos do projeto Rio 2016 serão transferidos para o Tijuca.

Atleta do Mackenzie, César Castro utiliza a piscina de saltos. Prata no Pan do Rio, bronze no Pan de Guadalajara-2011, quinto no Mundial de 2009 e finalista olímpico em Atenas-2004, ele lamenta a decisão de demolir o local:

— Sem ele, só haverá de alto nível o Maria Lenk e o Cefan. Para uma cidade olímpica, que vai receber atletas do mundo todo, será muito pouco.

Esperança. Atletas de várias equipes do Rio treinam na pista principal do Engenhão, devido à interdição do estádio de atletismo Célio de Barros: ideia é convivência pacífica com o futebol


Fonte: O Globo