Endividado. Assim Felipe se sente em relação a torcedores, dirigentes e integrantes da comissão técnica do Fluminense. A primeira passagem pelo clube, em 2005, foi marcada por uma suspensão e muitas polêmicas. Como resultado, pesquisa realizada pelo GLOBOESPORTE.COM indicou a rejeição de 70% dos tricolores à sua contratação. E é justamente esse sentimento de dívida que aumenta a motivação do jogador para deixar uma lembrança positiva nesta segunda chance nas Laranjeiras. O processo de limpar a imagem deve começar já neste domingo, no clássico contra o Botafogo, quando o apoiador deve ficar como opção no banco de reservas.
Experiente, Felipe não quis acompanhar o noticiário antes de ser anunciado oficialmente pelo Fluminense. Aos 35 anos, diz não se importar com o que falam e afirma que não precisa provar mais nada para ninguém.
- Não acompanhei, mas fiquei sabendo do que falaram. Isso só me dá motivação. Sei que posso ser útil e todos conhecem a minha capacidade em campo. Fora dele, quem me conhece sabe como sou e quem não conhece interpreta do jeito que quiser. Existem pessoas maldosas que querem prejudicar.
O trunfo para isso, além do bom futebol, é a experiência. Como ele próprio gosta de dizer, os cabelos diminuíram e ficaram mais brancos. Há 15 anos, quando a calvície estava longe de preocupá-lo, Felipe ganhou a Libertadores com a camisa do Vasco. O meia aposta na conquista de outro título da competição sul-americana para ajudá-lo a pagar a dívida com os tricolores. Além do desejo de conquistar novamente a Libertadores, Felipe fala sobre a recepção nas Laranjeiras, garante que o Vasco faz parte do seu passado e lamenta não ter participado da despedida do amigo Pedrinho, em São Januário. Confira a íntegra do bate-papo.
GLOBOESPORTE.COM: Como você se sente no início de sua segunda passagem pelo Fluminense?
Felipe: Desde que saí do Fluminense, em 2005, quando encontrava o doutor Celso Barros casualmente falava que tinha uma dívida e que gostaria de pagá-la. Não pensava em voltar e não achava que teria essa chance, mas aqui estou. Não sei se vou conseguir pagar, mas vontade não me falta.
A estreia pode acontecer já neste domingo. Se sente pronto para voltar a vestir a camisa do Fluminense?
Já me sinto bem melhor. Tenho feito treinamentos em tempo integral, já participei de atividades com bola... Agora é esperar. Espero estar à disposição para entrar um pouquinho e começar a adquirir ritmo de jogo, até porque não sou mais nenhum garoto.
E como foi a recepção do grupo do Fluminense? Já conhecia alguns jogadores?
Com o Fred, tenho amigos em comum. O Thiago Neves, eu já conhecia do mundo árabe. Fui muito bem recebido e só tenho a agradecer. Espero ser uma opção a mais e poder ajudar o Fluminense.
Olhando o passado, você reconhece que a primeira passagem pelo Flu - com 19 jogos, dez vitórias, cinco empates, quatro derrotas e três gols marcados - não foi a ideal?
Poderia ter sido melhor, sim. Em função da suspensão (Felipe recebeu um gancho de seis meses por agressão), não pude corresponder às expectativas que foram criadas. A desconfiança existe, mas estou muito mais maduro e motivado. O Fluminense tem um grupo qualificado e venho para somar. Este ano será melhor do que 2005.
A Libertadores é uma competição que você conhece bem. Acredita que o Fluminense está no caminho certo para conquistá-la?
O Fluminense, de uns anos para cá, entra mais respeitado pelas conquistas, pelo elenco e pela tradição. O clube está no caminho certo. A temporada exige muito e, para ir bem nas competições, se faz necessário ter um elenco qualificado. O Flu tem isso hoje. O calendário é curto e é difícil manter o alto nível em todos os jogos. A Libertadores é um torneio que exige muito, é o título que todos almejam. Já tive a felicidade, e o Fluminense ainda não. Não esperava voltar a disputá-la e, por isso, estou feliz. É uma oportunidade única. Espero que dê certo.
Chegar em um elenco com estrelas como Thiago Neves, Deco e Fred gerou algum receio? Acredita que possa ter problemas de relacionamento? Aceitaria bem o banco?
Já joguei no Vasco em um elenco de estrelas do nível de Romário e Edmundo e não tive problemas. Não vai ser hoje que terei. Faço questão é de jogar bem e ajudar. Estou feliz e quero corresponder. Ano passado, o Cristóvão Borges (ex-técnico do Vasco) optou por me colocar no banco e eu respeitei. Em outros momentos, eu mesmo disse que o ideal era sair para reforçar a marcação. Podem não acreditar, mas penso mais no grupo do que em mim.
O que acha que mudou do Felipe de 2005 para o de 2013?
Estou mais careca e com o cabelo mais branco (risos). Tinha vindo do Flamengo para cá e jogava de maneira diferente. Algo como faz o Wellington Nem hoje em dia. Era mais jovem e hoje estou mais experiente. A vontade é a mesma. Quero entrar na história.
É mais um guerreiro?
- É isso. Já falei com a rapaziada: sou mais um guerreiro.
Ficou chateado com a maneira como saiu do Vasco?
- Foi uma opção do presidente e do diretor de futebol. A torcida ficou chateada, fez um movimento para que eu voltasse e só posso agradecer. Mas o Vasco hoje ficou de lado.
E a despedida do seu amigo Pedrinho (jogo entre Vasco e Ajax, no último dia 13). Ficou chateado por não poder participar?
- Assisti ao jogo. O Pedrinho é merecedor de tudo isso. Gostaria, sim, de ter participado, mas não foi possível. Falo com ele todos os dias, estive em sua casa no dia do jogo e sei que ele ficou emocionado com todo o carinho.
Fonte: GloboEsporte.com