Os treinadores podem franzir a testa, os dirigentes talvez batam o pé, mas o presidente da Comissão de Arbitragem do Rio, Jorge Rabello, não é de recuar. Ele promete todo o rigor do mundo no apito para que a disciplina seja mantida nos estádios durante o Campeonato Estadual.
Qual é a principal dificuldade da arbitragem?
Os clubes e a mídia se interessam pouco pela arbitragem. Fazem, na verdade, a avaliação de performance no jogo. Quando assumimos, em 2008, a média de idade do árbitro principal era 41 anos. Hoje, nossa média de idade caiu para 32 anos. A mídia, os dirigentes e os técnicos têm pouca paciência com o árbitro novo. Com o jogador novo, todo mundo tem paciência e sabe que, na sua estreia nos profissionais, ele vai cometer erros. Mas, quando um árbitro novo entra em campo, você já imagina que ele é um Carlos Eugênio Simon. Felizmente, aqui no Rio nós acertamos muito mais que erramos. Quando assumimos, tínhamos três árbitros Fifa. Agora, temos seis.
Quanto receberá cada árbitro no Estadual?
Em jogo de time pequeno contra pequeno, R$ 900. Grande contra grande, R$ 2,7 mil. Na final do Campeonato, R$ 7,5 mil. Os assistentes ganham 50% desses valores. E os assistentes adicionais, que ficam atrás dos gols, ganham a metade do somatório da taxa do árbitro com a do assistente.
O que se pode esperar da arbitragem do Rio, sempre contestada?
Discordo de você que a arbitragem do Rio seja tão contestada. Em 2012, estivemos mal no início do Campeonato. Não era falta de preparo. Talvez, de concentração. Mas, nos momentos decisivos, não erramos. Todos os problemas que temos são em função do trabalho de renovação. Isso não vai passar impune. Vamos botar um garoto lá, como botamos no ano passado o Pathrice (Maia), num Botafogo x Flamengo. E houve um problema. Ele não foi bem. Mas a gente entende que ele vai tropeçar mesmo porque é um árbitro de 26 anos.
O que acha da nova regra, que prevê multa opcional a partir de R$ 500 em vez de suspensão, em caso de terceiro amarelo?
Se você quer saber, eu discordo. Mas foi uma decisão tomada no arbitral. Se eu fosse consultado, seria contra. Essa medida não agrega valor no aspecto disciplinar. E, veja bem... Faz de conta que você é a técnica do Flamengo, tá? O Amaral leva o terceiro cartão amarelo. O substituto dele é o Airton. Você vai pagar para o Amaral jogar? Entra o Airton, pô. É seis por meia dúzia! Se o Wellington não sei das quantas leva o terceiro amarelo, entra o Bruno, pô. Você vai pagar pro Wellington jogar???
Os pequenos saem perdendo?
O cara do pequeno pode sentar a porrada no craque do time adversário e fazer um rodízio. O time pequeno pode botar o cara pra meter porrada. Mas não fico preocupado com a violência porque as decisões serão tomadas. Mas que isso pode ser usado para o mal, pode. Aproveito para informar que não vou tolerar a esperteza do jogador que vai ser substituído e simula lesão. Nem os técnicos na beira do campo. Tolerância zero. Reclamou na beira do campo de forma acintosa? Advertido. Reincidiu? Expulso. Tolerância zero.
Por que tanto rigor com os técnicos?
Quando o goleiro toma um frango, o técnico dele dá soco no ar? E quando o centroavante perde gol? Por que então, quando acha que houve uma falta, o técnico chuta longe o copo d'água? O clube tem o direito de fazer uma reclamação, com vídeo, e encaminhar para a comissão de arbitragem. É nossa obrigação avaliar. A gente não briga com a imagem. No futebol, eu botaria aqui Muricy Ramalho, Adílson Batista, Paulo Autuori... E fico por aí. São caras que vão chegar na entrevista e dizer: "Achei que a arbitragem me prejudicou, mas meu time errou nisso e naquilo". Eles não aproveitam uma falha da arbitragem para esconder os erros de sua equipe, como a maioria faz. Tem cara que, se o time está perdendo, reza por um lance polêmico para se esconder.
No Rio, não há exemplos assim?
Não. Já tive problema no ano passado com o Abel e o Oswaldo (risos), mas não tenho prevenção contra ninguém. Os técnicos ficam "p" da vida comigo porque corneto eles. O cara (Abel) toma um chocolate do Atlético-MG: 27 finalizações do Galo, com três bolas na trave. Entrevista do Abel: "Perdemos no detalhe"... (Risos)... Eles não gostam porque, quando cornetam a arbitragem, eu falo essa p... Quando o Fluminense foi campeão, vieram hastear a bandeira aqui no pátio. Aí, perguntei pro Rodrigo Caetano: "Cadê a minha faixa?" Ele não entendeu e eu disse: "Depois que cornetei o Fluminense, vocês não perderam mais. O Nem era terceiro reserva e virou titular!" Os caras gostam de criticar, mas não admitem ser criticados. Outro dia, num Botafogo x Fluminense, a bola bateu na mão do Valencia. O árbitro era o Felipe Gomes. O Mauricio Assumpção deu entrevista aborrecido e disse que só não ia me ligar porque sabia que eu ia dizer que o goleiro dele leva frango e o atacante perde gol. Ué? Pode vir, mas vem fundamentado.
Algum clube pediu que a comissão de arbitragem fizesse palestra para os jogadores?
Esse ano, nenhum dos 16. No passado, já aconteceu, por exemplo, de a gente dar palestra pro Fluminense... Aí, a gente vai lá, e o Fred fica assim (boceja)... no iphone... Os caras cagam! Uma meia dúzia da comissão técnica presta atenção. Mas o jogador caga. Na verdade, esse trabalho deveria ser feito nas categorias de base. Eles criticam pra cacete, mas contribuem com zero e são os primeiros a reclamar.
Fonte: Extra Online