Em dez anos como jogador profissional, Carlos Alberto poderia estar cansado da rotina de concentração e farto das pré-temporadas. Mas o prazer da convivência com os companheiros o faz enxergar esses como momentos preciosos na rotina do futebol. Perto de completar duas semanas de reclusão em Pinheiral (RJ), o camisa 10 do Vasco recordou alguns casos curiosos que viveu quando atuou fora do Brasil. Eles mostram que mesmo com fama de fechados, os atletas europeus também podem transformar o período de clausura em descontração.
Carlos Alberto passou um ano e meio no Porto e integrou uma equipe que conquistou quase todos os títulos disputados. Ele desembarcou em Portugal com 19 anos e logo mostrou-se integrado a um elenco repleto de brasileiros e jogadores experientes. Não houve muito tempo para timidez. Em seus primeiros dias de clube, ganhou o apelido de Feijão e sofreu com as brincadeiras.
- Lá eles fizeram o almoço de equipe, que serve para apresentar o novato. Fomos até Mealhada, uma região famosa pelos leitões. Chegamos no restaurante e disseram que eu comeria as orelhas do porco, falaram que era a melhor parte. Eu nunca tinha comido leitão na vida e provei. Mas é horrível, a pior parte. Parecia que tinha mordido carvão. Fiquei com as mãos e dentes pretos. Os caras tiraram uma foto minha e colocaram no mural do vestiário. Eu pensei, então, que estava batizado - lembrou.
Mas não havia terminado. No dia seguinte, Carlos Alberto se arrumava para treinar quando foi chamado por Jorge Costa, Deco e Vítor Baía, três líderes do elenco: o técnico José Mourinho o convocava para uma reunião no campo. Preocupado, o jovem foi em direção ao gramado e viu o treinador com cara de bravo. Quando pisou fora do túnel, teve uma supresa.
- Lá de cima, Costinha, Bosingwa e o goleiro reserva Nuno jogaram um galão de isotônico gelado em mim. Era inverno e estava muito frio. Todo mundo riu da minha cara, e o Mourinho participou de tudo.
Em Portugal, Carlos Alberto se mostrou positivamente surpreendido com a integração entre brasileiros e europeus. Segundo ele, os trotes serviram para criar amizades e facilitar sua adaptação. E apesar de estarem na Terrinha, eram os brasileiros quem ditavam o ritmo da concentração.
- No ônibus do Porto já tinha pandeiro e tantã. Os portugueses falavam nosso dialeto: diziam “resenha”, “migué”... No fim da temporada eles já estavam fazendo churrasco e cantando pagode - brincou Carlos Alberto, que em Portugal conquistou Liga dos Campeões, Mundial de Clubes, Campeonato Português e Supertaça de Portugal.
Na Alemanha, Carlos Alberto viveu um contraste. Na temporada 2007/2008 defendeu o Weder Bremen e viu de perto a frieza europeia. Com os jogadores sozinhos em quartos na concentração, eram poucos os diálogos, também dificultados pelo idioma.
- Eu sempre precisava perguntar o que estavam falando e, por isso, era o último a rir das piadas. Jogava videogame na concentração, mas sem falar nada. Era muito chato, porque cada um ficava num quarto separado. Se é para integrar, para que isso? Aqui em Pinheiral, por exemplo, os quartos estão sempre cheios. Por isso o ambiente é muito melhor - observou.
Mas nem mesmo o distanciamento alemão impediu que Carlos Alberto levasse os trotes. Além de ser obrigado a pagar seu jantar de apresentação ao elenco, precisou degustar bebidas oferecidas por cerca de 20 companheiros de clube como forma de “batizado”.
- Lá eles têm essa cultura de beber e precisei passar por essa situação. Até me relacionei bem com o grupo, mas aqui no Brasil o ambiente é muito mais propício para a integração. E está comprovado que isso influencia no desempenho em campo. No Vasco, principalmente, o clima é ótimo e esse tempo de isolamento acaba sendo muito bom pela nossa boa convivência - destacou.