A história que será contada neste texto poderia servir para milhares de jovens que deixaram suas residências bem cedo para tentar a sorte como jogador de futebol, mas o personagem dessa reportagem, diferentemente da grande maioria, vem conseguindo obter sucesso dentro do esporte.
Nascido na cidade de Santana do Ipanema, que fica localizada a 207 quilômetros de Maceió, capital de Alagoas, Dakson Soares da Silva começou a praticar futebol muito cedo num campinho localizado a alguns metros da sua casa. Ao lado de vizinhos, o menino esbanjava talento e causava preocupação na sua mãe, pois muitas vezes matava aula para jogar uma pelada:
- Na infância eu saia da minha casa para jogar num campinho que ficava perto. Eu era criança e queria jogar bola sempre. Às vezes eu matava até aula, deixava de estudar, para ficar no campinho jogando bola. Minha mãe reclamava muito (risos). Ficava o dia todo jogando - disse à Só dá Vasco TV.
Apesar das broncas, o garoto continuou fugindo das aulas e driblando os companheiros de bairro. A rotina seguiu assim até que uma pessoa bastante especial entrar em cena. Trata-se de Chicão, primeiro treinador e descobridor de Dakson. Ao observar o jovem jogando, Chicão não pensou duas vezes e o convidou para fazer parte do seu time de Futsal:
- Eu estava jogando uma vez e um treinador que foi importante na minha carreira, o finado Chicão, me viu e me chamou para jogar futsal num time da cidade. Como eu tinha que jogar de tênis, minha mãe deu um jeito e comprou um tênis para mim. Eu ficava todo bobo e fica olhando tudo, a quadra, o tênis - revelou à Só dá Vasco TV.
A passagem de Dakson pelo time da AABB de Santana do Ipanema foi bastante sucedida. Foi graças a esse desempenho dentro das quadras que ele foi convidado para fazer testes em clubes do Rio de Janeiro. O engraçado é que Dakson por pouco não acertou com o Vasco. Isso só não aconteceu porque o responsável por sua ida era torcedor do Tricolor carioca:
- Fiquei seis anos jogando futsal e só depois daí que recebi o convite para fazer o teste lá no Fluminense. Até que surgiu uma proposta do Vasco primeiro, mas como o rapaz que me deu oportunidade era tricolor, ele me levou para o Fluminense - afirmou à Só dá Vasco TV.
Apesar de estar com o teste garantido, Dakson teve que se virar para arrumar condução para ir até a Cidade Maravilhosa. Isso porque seu pai, seu Cícero, não tinha condições de bancar sua passagem. O jeito foi pedir ajuda aos amigos, que não hesitaram em conceder recursos para viabilizar a ida do 'craque da AABB' para o Rio de Janeiro:
- A gente teve dificuldade, mas meu pai sempre trabalhou e nunca me deixou faltar nada. Ele vai ser um exemplo sempre para mim. Mas a dificuldade sempre existiu, até porque era ele sozinho para cuidar de mim, dos meus irmãos e da minha mãe. No começo foi difícil. Quando eu fui para o Rio para fazer o teste, várias pessoas me ajudaram e arrecadaram dinheiro para bancar a minha viagem. Meu pai não tinha condições e até mesmo por isso eu fui de ônibus. Foram mais de 2500 quilômetros, quase três dias de viagem. Meu pai tem até um papel que contém o nome das pessoas que ajudaram com dois, três, dez reais... Mas o sacrifício valeu e vale muito a pena, pois são coisas que não vou esquecer. Dificuldade vai ter sempre. Agradeço a todas as pessoas que me ajudaram e ao meu pai especificamente, pois é um cara que é um exemplo para mim. Essas pessoas que me ajudaram sempre estarão no meu coração - disse à Só dá Vasco TV.
Citado por Dakson, seu Cícero lembra com orgulho do início e da trajetória do filho no futebol. O mesmo fez questão também de revelar como fez para matar a saudade do filho durante o período em que ele atuou na Bulgária:
- O início do Dakson foi muito difícil. Ele começou jogando umas peladinhas atrás de casa e depois passou a jogar na quadra. Ele foi chamado para o Rio por um amigo nosso, fez um teste no Fluminense e passou. Em 2006 ele foi para a Bulgária, onde passou cinco anos, e enfrentou muitas dificuldades. Foi muito difícil para a família também. Eu matava a saudade quando ele vinha em casa. Não tinha como a gente telefonar, até mesmo por isso a gente só se falava quando ele ligava. Ele sempre ligava para mim - relembrou o pai de Dakson em entrevista à Só dá Vasco TV.
Outra adversidade que o meia teve de superar foi o falecimento de sua mãe em 2005, ano no qual ele trocou o Campo Grande pelo Fluminense e se tornou Campeão Mundial sub-20. Com carinho, Dakson lembra que sempre recebeu o apoio da pessoa que o colocou no mundo:
- Minha família sempre acreditou em mim. Minha mãe, que faleceu em 2005, e meu pai principalmente - lembrou emocionado à Só dá Vasco TV.
A passagem pelo Fluminense e o desafio na Bulgária
Diferentemente do que muitos pensam, o primeiro clube de Dakson no Rio de Janeiro não foi o Fluminense e tampouco o Vasco. Foi no Campo Grande que o jovem deus seus primeiros passos no futebol de campo. Lá, Dakson aprendeu fundamentos e reuniu atributos para brilhar na base do tricolor carioca. É justamente dessa sua passagem no Flu que Dakson guarda boas recordações.
Apesar de ter tido sucesso na equipe sub-20, marcou dois gols na final do Mundial sub-20 vencido pelo Fluminense, Dakson não recebeu oportunidade no time de cima. Foi justamente por esse motivo que ele resolveu largar o futebol carioca e tentar a sorte na Bulgária:
- Quando eu estava no Fluminense não tive oportunidades para jogar no time de cima e esse era um dos meus objetivos. A gente veio de uma competição que foi o Mundialito, onde fomos campeões, e eu esperava ter uma oportunidade no time de cima. Infelizmente não tive e resolvi entrar num acordo com a diretoria do Fluminense e rescindir o contrato. Assim que eu rescindi, demorou um pouco e apareceu um convite da Bulgária. Eu não sabia nada sobre a Bulgária, então foi um desafio. Falei para mim mesmo que iria enfrentar e ver no que ia dar - revelou à Só dá Vasco TV.
Dentre os principais desafios que Dakson enfrentou no país europeu, onde chegou em 2006 para defender as cores do Lokomotiv Plovdiv, destaca-se a língua. O atual meio-campo do Vasco levou quase dois anos para aprender o idioma local:
- Foi meio complicado por conta da alimentação, da cultura, que era diferente, e principalmente do idioma. Eu não via falando búlgaro e até mesmo por isso levei quase dois anos para aprender. Mas sabia que tinha que aprender para me comunicar, para ir para as coletivas. Foi complicado no início, mas depois ficou tudo tranquilo - contou à Só dá Vasco TV.
Fora o idioma, Dakson também teve que se adaptar ao estilo de jogo praticado na Bulgária. De acordo com ele, os búlgaros executam um futebol muito mais pegado que o brasileiro:
- Em termos de futebol é a técnica. O futebol brasileiro tem muita técnica e é muito mais bonito e muito mais bem jogado. O futebol búlgaro é mais força, muito mais pegado. Essa é a diferença que existe entre o futebol búlgaro e o brasileiro. No início foi complicado - disse à Só dá Vasco TV.
Acerto com o Vasco e possibilidade de fazer sucesso num grande do Brasil
A trajetória de Dakson no país europeu poderia ter sido ainda mais longa se ele tivesse recusado a proposta do Vasco para se naturalizar búlgaro e jogar pela Seleção local. O desejo de voltar ao Brasil e de defender um dos maiores clubes do seu país de origem fizeram o meia largar tudo:
- A primeira coisa que eu fiz quando soube do interesse do Vasco foi arrumar as malas e perguntar quando iria viajar. Receber um convite do Vasco é o sonho de qualquer jogador. Todo jogador que jogar num clube da expressão do Vasco. Não pensei nem duas vezes quando recebi o convite, aceitei logo - revelou à Só dá Vasco TV.
Poucos sabem, mas o acerto entre Dakson e o Vasco poderia ter acontecido em 2011. Na época, o cruzmaltino acabara de conquistar a Copa do Brasil e brigava pelos títulos do Brasileiro e da Sul-Americana. Apesar de ter ciência desse fato, o alagoano não sabe explicar por qual motivo não acertou com o Gigante da Colina no ano passado:
- Teve uma época que eu recebi um convite, mas não sei explicar o motivo que impediu o acerto. Acho que já estava guardado para este ano. Tanto é que não deu certo naquela vez, mas agora deu tudo certo e estou muito feliz por estar no Vasco. Espero dar alegrias para a torcida vascaína - disse à Só dá Vasco TV.
O sonho de Dakson de dar alegrias para a torcida vascaína poderia ter sido interrompido antes mesmo de sua estreia. Isso porque o jovem foi inscrito no último minuto da janela transferências de internacionais e os documentos vindos da Bulgária demoraram a chegar. Até mesmo por conta disso, Dakson ficou um longe período sem saber se poderia atuar pelo Gigante da Colina em 2012:
- Foi um período complicado. Até porque é chato você ficar só treinando e não jogar. Eu temi que a negociação não desse certo, pois existiu dificuldade até na transferência (risos). Mas tenho certeza que isso que aconteceu foi para que mais na frente eu tenha boas notícias. Foi um período complicado, mas graças a Deus passou - afirmou à Só dá Vasco TV.
Durante esse período complicado, forma como Dakson descreveu o momento em que não sabia se atuaria ou não em 2012, o meia contou com o apoio de Juninho Pernambucano, a quem rasgou elogios:
- Juninho é um cara sensacional. Por mais que você fale nunca vai alcançar palavras que defina o Juninho. Ele foi um cara que me ajudou muito, realmente me ajudou bastante mesmo. Me deu muitas orientações e eu procurei sempre escutar, pois tudo que ele me dizia era visando facilitar a minha adaptação. Aprendi muitas coisas com ele no dia a dia e até mesmo por isso procurava ficar sempre perto dele. Fiquei um pouco triste com a saída dele, pois é uma perda muito grande para o Vasco. Mas se ele se sentir feliz, eu fico feliz por ele. Ele merece tudo de bom e que tem uma bela história no futebol. É um cara que já jogou na Seleção e disputou a Copa do Mundo. Se ele saiu foi porque tinha motivos. Ele é ser humano e tem que procurar um lugar onde se sinta bem. É chato, é triste para o Vasco, para a torcida, mas a gente tem que seguir em frente. Espero que ele tenha sucesso no novo clube e dê alegrias aos torcedores de lá. Espero também que antes de encerrar a carreira eu possa jogar com ele novamente. Que ele volte para encerrar a carreira com a camisa do Vasco - afirmou à Só dá Vasco TV.
A estreia e a expectativa para 2013
Passado o período de incertezas, Dakson passou a treinar com a certeza de que já poderia entrar em campo com a camisa cruzmaltina. Apesar de se destacar nos treinamentos, o alagoano só estreou com a camisa cruzmaltino no penúltimo jogo do Campeonato Brasileiro. Na oportunidade, o Gigante da Colina enfrentou o Flamengo no Engenhão.
Apesar de querer que sua estreia fosse em São Januário, a casa do Vasco, Dakson se emocionou da mesma forma quando foi chamado pelo técnico Gaúcho e entrou em campo pela primeira vez como profissional por um dos maiores clubes do Brasil:
- Você estar no Engenhão, num jogo contra o Flamengo e você ali com a expectativa de entrar... É uma coisa que por mais que eu fale aqui não conseguirei explicar. Foi uma coisa marcante tudo isso que aconteceu. Nem tenho palavras para descrever o que senti quando fui chamado para entrar. Acho que consegui corresponder e ajuda nos minutos que estive em campo. Fiquei feliz pela estreia, mas fiquei triste pelo resultado, pois a gente poderia vencer. Mas espero que a gente possa ganhar vários jogos do Flamengo. A rivalidade sempre vai existir entre Vasco e Flamengo e é importante honrar essa camisa nesse clássico - declarou à Só dá Vasco TV.
Ainda desconhecido para grande parte da torcida vascaína, Dakson recebeu uma nova oportunidade contra o Fluminense na última rodada do torneio nacional. Demonstrando qualidade, o 'craque da AABB' fez uma boa exibição e chegou inclusive a dar um belo passe para um dos gols da vitória vascaína sobre o tricolor:
- Eu fiquei feliz com a minha atuação contra o Fluminense. Mais feliz ainda pelo fato de termos saído com a vitória. Eu penso sempre que as coisas acontecem no momento certo. Passou aquele problema da documentação, talvez aquela não fosse a hora para eu estrear, e aconteceu no momento certo. Joguei dois clássicos que não valiam muita coisa, mas a gente sabe como é a torcida vascaína, ela quer sempre vencer independente do momento. Acho que as coisas aconteceram no momento certo e estou muito feliz. Quero começar 2013 com muita vontade, com muita força e ajudar o Vasco bastante no decorrer da temporada - disse sorridente à Só dá Vasco TV.
Ciente de que ainda precisará fazer muito mais para conquistar o respeito e a admiração dos vascaínos, Dakson promete se dedicar na pré-temporada, que será realizada em Pinheiral-RJ, para convencer a comissão técnica que merece uma oportunidade no time titular:
- Eu sempre confio no meu trabalho e vou continuar trabalhando para merecer isso. O ano de 2013 vai começar e eu espero começar com o pé direito. Vou mostrar o meu trabalho, pois não é na entrevista que eu vou me escalar e dizer se vou jogar ou não. Quem vai decidir é o treinador e eu espero mostrar nos treinamentos que mereço ser titular. As coisas vão acontecer naturalmente. Vou trabalhar na pré-temporada para ser recompensado no decorrer do ano - afirmou à Só dá Vasco TV.
Bate-bola com Dakson, meio-campo do Vasco
Você nasceu na cidade de Santana do Ipanema, mas não iniciou sua trajetória no futebol em nenhum clube de Alagoas. Antes de se transferir para a Bulgária, você chegou a atua no Fluminense. O que você poderia falar sobre esse início da sua carreira? Quais as maiores dificuldades que você enfrentou?
“Eu sou natural daqui de Santana do Ipanema, uma cidade pequena e que só tem 60 mil habitantes. Eu acho que o início de carreira de todo o jogador é complicado e morando numa cidade que é localizada no sertão, no interior do Estado, é mais difícil sair para conquistar um sonho, que acho que é o sonho de toda criança. Toda criança quer ser jogador de futebol. Tiveram vários amigos da minha cidade que me ajudaram e gostaria de agradecer a um amigo em especial, que é o Marcão, que mora no Rio de Janeiro. Foi ele que me deu uma força quando eu fui para o Fluminense no ano de 2002 junto com um amigo meu aqui de Santana do Ipanema, o Luiz Euclides. Além deles, minha família, meus pais e meus irmãos, sempre estiveram comigo e me deram bastante força. Graças a Deus estamos lutando bastante, alcançando os objetivos com muito trabalho e esforço. Se Deus quiser vamos chegar num lugar mais alto, bem melhor”.
O futebol é paixão nacional na Bulgária como é no Brasil? Como é a pressão da torcida neste país?
“Apesar de não ser um país com muita tradição no futebol, não ser um país conhecido dentro do esporte, possui uma torcida muito apaixonada. O pessoal lá na Bulgária gosta bastante de futebol. A pressão não é igual a daqui, pois se trata de uma torcida de pequeno porte. Mas no futebol sempre existe pressão, pois ninguém quer perder. Mas é diferente do Brasil, pois nosso país é o país do futebol. A pressão sempre existe independente do clube que você defenda, mas é claro que num clube de grande porte, como é o Vasco, ela será muito maior”.
Como você foi recebido pelo elenco do Vasco? Quem mais esteve ao teu lado dando apoio nos momentos de dificuldade?
“O Vasco tem um grupo excelente. Todos me apoiaram e me receberam muito bem. É um grupo muito unido, muito fechado e isso facilita minha adaptação. Você chegar num grupo fechado, onde todos querem o mesmo objetivo, faz com que a sua adaptação seja mais rápida e fácil”.
Você pensa em se firmar no time titular do Vasco em 2013?
“Esse é o meu maior objetivo. O Vasco tem jogadores de qualidade e é sempre bom você ter um elenco recheado de jogadores de qualidade. Isso facilita até o trabalho dentro de campo. Meu maior objetivo é conquistar títulos importantes com a camisa do Vasco e quem sabe mais no futuro fazer uma história”.
Você demorou a estrear por conta da falta de oportunidades na sua posição. Em entrevista ao Só dá Vasco, Gaúcho declarou que você é um jogador que atua mais pelo centro e que não queria te prejudicar colocando você para jogar numa outra função. O que pensa sobre isso?
“Todo jogador gosta de jogar na sua posição, pois vai render mais e ajudar a equipe. Mas o Gaúcho me deu uma oportunidade contra o Flamengo e eu tive que ajudar na marcação. Deixei sempre bem claro que estou aqui para ajudar em qualquer posição. Eu tenho minha posição, mas na hora que o treinador achar que devo jogar em outra para ajudar a equipe, irei jogar. O importante é você ajudar sua equipe independente da posição que você vai entrar. O momento do jogo é que vai dizer onde cada jogador vai jogar”.
O que você poderia falar sobre as saídas do Eduardo Costa, Nilton, Rodolfo e Alecsandro?
“São jogadores que poderiam ajudar ao Vasco bastante. Até porque eles foram para clubes de porte. Mas acho que o Vasco também vai correr atrás de jogadores que possam vir e honrar a sua camisa”.
Como é a sua relação com os mais jovens do elenco? Dá conselhos para eles?
“Eu sempre converso com eles e nós trocamos experiências. É claro que não sou tão experiente e a diferença de idade é pouca, até porque eles possuem apenas 20 anos. O Maicon Assis, um grande amigo que tenho lá dentro, passou por Portugal e também pode passar experiência. É sempre bom o clube ter jogadores de qualidade e eles têm muita. Espero que eles consigam alcançar os objetivos e dar alegrias para a torcida”.
Você se sente um vencedor por ter saído de sua cidade, Santana do Ipanema, e ter conseguido atuar pelo Vasco?
“É muito gratificante a gente sair, jogar num clube igual ao Vasco e levar o nome da cidade. Espero continuar levando o nome desta cidade, pois é a minha cidade e a cidade que eu amo. Vou levar o nome desta cidade por todos os lugares que eu for”.
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