O pernambucano Auremir deixou o Náutico no mês de julho para realizar o sonho de seu pai, Claudemir. Falecido em 2009, o patriarca da família Santos sonhava em ver o filho atuando num grande clube do futebol brasileiro. O sonho se tornou realidade quando o volante aceitou o desafio de substituir Fagner, considerado na época o melhor lateral-direito do Brasil.
O início do jogador de 20 anos foi o melhor possível, pois o Gigante da Colina não tomou nenhum gol nas cinco primeiras partidas de Auremir como titular. O desempenho do jovem começou a cair a partir do jogo contra o Coritiba, quando o polivalente foi substituído pela primeira vez. Uma lesão na sequência afastou o camisa 25 dos gramados por um longo período.
Apesar de não ter mantido o ritmo das primeiras partidas e de ter ficado um tempo lesionado, Auremir fazia parte dos planos do diretor-técnico Ricardo Gomes para a próxima temporada, mas o grave problema financeiro enfrentado pelo Vasco fez com que o jogador encerrasse sua passagem pelo Gigante da Colina de forma precoce.
No último sábado (22/12), Auremir deu uma pausa nas férias para falar com o Blog. Na oportunidade, o volante/lateral avaliou sua passagem pelo cruzmaltino, revelou o que ocasionou sua saída, contou detalhes dos bastidores e agradeceu ao Vasco pela oportunidade dada.
Confira um bate-papo exclusivo com Auremir:
Qual é sua real situação hoje? És jogador do Náutico ou do Vasco?
"Hoje eu sou jogador do Náutico. Eu estava com meus salários atrasados e o Náutico estava sem receber as parcelas de pagamento do Vasco. Então o presidente do Náutico, tentando evitar um imbróglio jurídico, porque o Náutico teria que brigar com o Vasco na justiça comum, pediu para eu entrar na justiça e me desligar do Vasco para voltar ao Náutico. Eu cobrei ao Náutico os salários que não recebi no Vasco e eles não quiseram pagar por conta disso".
Então você acionou o Vasco na justiça?
"Eu tive que acionar a justiça para sair. Eu poderia ficar sem jogar se o Vasco e o Náutico brigassem na justiça. Eu teria que esperar alguma sentença para jogar em algum lugar. O Náutico me queria, pois eu pertenço a eles. O Náutico queria receber o dinheiro, mas como o Vasco passa por problemas financeiros, eles preferiram contar comigo em 2013".
Como você avalia sua passagem pelo Vasco?
"Avalio de uma forma positiva. Foram dezessete jogos, sendo que dez em sequência e como titular. Tive pouco tempo para pegar entrosamento com o grupo, já cheguei jogando, foi tudo muito rápido. Mas eu fiquei muito feliz, muito contente, com essa minha passagem. É claro que a gente não agrada todo mundo, mas eu fiz o meu melhor e tenho certeza que fui bastante regular na maioria dos jogos. Isso que é importante. Foi até por conta disso que as pessoas queriam contar comigo no ano que vem, mas infelizmente não vai ser possível".
Ficou triste por ter saído? Queria ter permanecido no clube de São Januário?
"A gente triste por sair da forma como foi. Acho que eu ainda tinha muito para dar no Vasco, que é uma grande equipe, com grande torcida, com grandes sonhos e com pensamentos grandes. Sou um jogador jovem e também penso grande, penso em ganhar títulos, jogar uma Libertadores. Acho que eu estava jogando no time certo, pois o Vasco tem os mesmos objetivos que eu tenho. A gente fica um pouco frustrado por ter sido uma passagem rápida. Queria ter ficado por mais tempo para jogar bem mais e conquistar alguma coisa. Mas muitas vezes as coisas não acontecem da forma que a gente quer. Faz parte da vida".
O fato de você atuar na lateral em todos os jogos que vestiu a camisa do Vasco te prejudicou?
"Eu acho que não. Eu já vinha numa sequência do Náutico de seis partidas como lateral e já tinha jogado no Estadual. Acho que foi cresci muito nessa posição. Joguei várias partidas de titular na lateral e me destaquei principalmente nos dez primeiros jogos, quando a gente ficou algum tempo sem tomar gols. Foi um início bom, porém tive uma lesão e fui obrigado a parar por um mês. Por isso não consegui dar sequência. Mas eu acho que se não tivesse me machucado, independente da posição que atuasse, eu poderia ter ajudado ao Vasco".
Você gostaria de ter atuando alguns jogos na sua posição de origem, que é a de volante?
"É claro, pois todo jogador que jogar na sua posição de origem. Porém não posso usar isso como desculpa. Fui lá para jogar de lateral e eu também jogo de lateral. Mas eu gostaria de ter tido uma ou duas oportunidades de ter jogado nessa posição".
O que você mais aprendeu dentro do Vasco? Como foi conviver com atletas como o Juninho, seu conterrâneo, e o Dedé, que jogava no seu setor?
"O Vasco é uma das maiores equipes do Brasil e eu tive a oportunidade de vestir a camisa do Vasco, de participar de jogos e de ser cobrando como um jogador de alto nível. Isso me fez crescer como atleta e me fez ver também que tenho condições de jogar em qualquer time do Brasil. Não é fácil você chegar num time grande como é o Vasco e conseguir segurar por algum tempo, apesar de todos os problemas, a titularidade da equipe. Eu aprendi bastante com Juninho, Dedé e Tenório. Aprendi muito com o Juninho, que é para mim uma das maiores referências. Acho que tudo valeu a pena. Tudo foi pouco, mas valeu a pena".
Como foi atuar ao lado do melhor zagueiro do Brasil? Ele realmente passa segurança?
"Passa uma segurança enorme. Você poder olhar para trás, para o lado, e ver que o Dedé está te dando cobertura passa uma grande tranquilidade. Foi um prazer enorme jogar com ele. Foi o melhor zagueiro que eu já joguei. Espero que ele volte em 2013 e tenha muitas alegrias".
O fato do Vasco ter acabado de perder um lateral do nível do Fagner também colocou mais pressão em cima de você?
"Com certeza. O Fagner vinha fazendo um grande trabalho e é um grande jogador. Eu cheguei para substituir um dos grandes jogadores, pois ele era uma válvula de escape importante da equipe. Mas, apesar da pressão ter crescido por conta disso, acredito que eu o substitui bem. Se ele era muito bom no ataque, eu era muito bom na defesa. A prova disso é que o time tomou poucos gols quando eu atuei. Cada usa a qualidade que tem, o que tem de melhor. Se a dele era a parte ofensiva, a minha era a defensiva. Procurei fazer o meu melhor no que era bom".
Como estava o ambiente no vestiário na reta final do Brasileiro?
"Era um ambiente de tristeza e frustração. A gente tinha um time de qualidade e que poderia, sem sobra de dúvidas, ter terminado no G4. O Vasco não deixava nada a desejar aos times que estavam na frente. Mesmo assim, acho que temos, infelizmente, que ficar satisfeitos com a quinta colocação no Brasileiro. Apesar de todas as dificuldades, que foram muitas, conseguimos terminar nessa posição. Nenhum time do Brasil encarou as dificuldades que o Vasco encontrou neste ano. Passamos por atraso de salário, problemas com lesão...Tenho certeza que nenhum outro clube sofreu tanto com essas coisas. Acho que poderíamos ter ficado no G4, mas a quinta colocação foi uma grande colocação devido aos grandes problemas que tivemos durante o ano".
Quando você perceberam que o G4 não seria mais possível?
"A gente sabia que uma hora, por conta de tudo que vinha acontecendo, a gente perderia a posição no G4. Depois o jogo contra o São Paulo, quando perdemos e ficamos mais longe do G4, pensamos que não conseguiríamos mais voltar ao G4. Não tínhamos mais forças para passar o São Paulo. Acho que foi depois daquele jogo".
Os atletas comentavam no vestiário que iriam sair e colocar o clube na justiça?
"Comentar em vestiário não, mas a gente já sabia que alguns jogadores não permaneceriam por conta da opção da diretoria. Quanto a por na justiça, eu nunca ouvi nenhum tipo de comentário. Se colocaram, é porque acharam que era o melhor para a carreira".
Pensa em voltar ao Vasco no futuro?
"Sem sombra de dúvidas. Eu acho que deixei as portas abertas. Foi um prazer enorme vestir a camisa do Vasco, pois se trata de uma grande equipe e que possui uma grande equipe. Quem sabe um dia eu não volto? Seria um prazer enorme".
Qual jogador te deu mais forças dentro do Vasco?
"Foi o Juninho. Acho que a vida dele em relação a sair do Nordeste e fazer sucesso no Vasco facilitou. Ele sabia o que eu estava vivendo, sabia como era e sempre tentou me passar tranquilidade, me dava conselhos. Quando um cara como o Juninho fica perto de você, você só tem que aprender e agradecer".
Você sofreu algum tipo de preconceito por ser do Nordeste no Vasco?
"Até eu jogar eu sofri. Depois da primeira partida contra o Santos diminuiu um pouco mais porque perceberam que não sou um jogador de ficar brincando. Sou um jogador que tenho meus objetivos e sou um jogador de me entregar os jogos e que não gosta de perder. Saiu muitas vezes com raiva quando o time que estou jogando perde. É claro que a gente não vai agradar todo mundo, mas eu consegui uma boa parte das pessoas que entendem e vivem do futebol. Eu sofri esse preconceito por parte de torcedor e da imprensa até a minha estreia. Após a minha estreia eu não sofri nada mais disso".
Qual sua expectativa para 2013 vestindo a camisa do Náutico?
"O Náutico é uma grande equipe do Nordeste, com uma grande estrutura. Estamos todos trabalhando com seriedade e mirando objetivos grandes para o ano que vem. Espero que consigam manter o time, pelo menos 70%, para que no ano que vem a gente possa fazer um grande Estadual, já são alguns anos se conquista, e um grande brasileiro".
Que mensagem você deixa para a torcida do Vasco?
"Agradeço a torcida do Vasco pela experiência e pelo apoio que me deram. Obrigado pelas críticas também, pois elas fazem a gente crescer. Eu tive a oportunidade ser elogiado e criticado, o que me deixa muito feliz. Espero que o Vasco viva dias melhores, pois é um clubes Gigante e não merece estar vivendo esse momento conturbado que está vivendo hoje".
Fonte: Blog do Carlos Gregorio Jr - Supervasco