Marlon Azevedo dos Santos tinha tudo para ser mais um trabalhador rural da cidade de Augustinopólis, localizada no Estado do Tocantins, mas um dia, um encontro inesperado, mudou o rumo de sua vida. A história começa no dia 04 de abril de 1992 quando uma jovem de treze anos dá a luz a dois meninos loiros e resolve colocá-los para adoção por não ter condições financeiras de mantê-los. Tal fato fez com que os dois irmãos se separassem e seguissem trajetórias de vida diferentes. Marlon foi criado pela família materna (avó e mãe) e Marlone foi adotado por uma família amiga.
Enquanto Marlone continuou residindo na cidade de Augustinópolis, Marlon foi morar no Piauí. Se Marlone encantava a todos na base do Vasco da Gama ainda muito cedo, Marlon dava duro na roça para garantir o pão de cada dia. A vida de Marlon começou a mudar quando ele resolveu voltar a sua cidade natal. Foi nesse dia, doze anos depois, que encontrou pela primeira vez o irmão famoso, o irmão jogador de futebol. O encontro foi emocionante, porém eles não passaram muito tempo juntos. Por conta de compromissos particulares, ambos seguiram seus destinos:
- A nossa mãe teve a gente com treze anos. Por falta de maturidade, uma pessoa de treze anos não tem maturidade para lidar com a gravidez, e da condição financeira da família, ela resolver dar nós dois. Só que minha avó resolveu me criar. O Marlone ficou em Tocantins, onde eu também permaneci até os cinco anos. Com cinco anos eu fui para o Piauí e aí a gente passou doze anos sem se ver. Na semana santa eu fui visitar lá a cidade, fui visitar o Tocantins, e a gente se encontrou por um acaso. Eu tava passando no carro, ele me viu e a gente se encontrou. Foi a primeira vez que a gente se viu. A gente se separou logo depois porque tive que voltar ao Piauí e se encontrou algum tempo depois. Agora nós estamos morando juntos – revelou.
O início no futebol
Marlone voltou ao Rio de Janeiro e Marlon ao Piauí. Mal sabia o gêmeo menos famoso que em breve estaria ao lado do irmão na luta por um lugar de destaque no futebol. Luta essa que foi iniciada graças a um pedido de Marlone ao seu empresário. Ao tomar conhecimento da paixão do irmão pelo esporte, o atual camisa 31 de São Januário deu um jeito de arrumar um teste para ele no Olaria e de bancar a vinda do mesmo para a cidade maravilhosa. O investimento valeu a pena, pois Marlon foi aprovado na peneira realizada pelo time azul e conquistou uma vaga no time de juniores.
Muitos devem pensar que a partir deste momento as dificuldades de Marlon acabaram, mas não foi bem assim. Acostumado a jogar descalço nos campos de barro do Piauí, o jovem levou um tempo para se acostumar a jogar calçado e isso o prejudicou no início de sua trajetória no Olaria. Além disso, a saudade da família foi outro fator que Marlon teve que superar:
- A primeira dificuldade foi a obrigação de ter que jogar de chuteira. Eu não tinha costume de jogar de chuteira porque os campos lá no Piauí eram todos de barro e não dava para jogar de chuteira, jogava descalço. Até eu me adaptar a chuteira e a forma de correr, de chutar a bola, levou um tempo. Foi um pouco difícil, mas consegui me adaptar. Na vida a maior dificuldade que tive foi em relação à distância da família. Ter que deixar a família cedo, não ter o convívio diário e ter que passar o natal longe, por exemplo, foi um pouco complicado. Mas se o cara que vencer tem que enfrentar tudo isso – declarou.
Oportunidade no time profissional, dicas de Pedrinho e admiração por Marlone
O tempo passou e Marlon evoluiu como jogador, tornando-se rapidamente craque e camisa 10 da equipe júnior do Olaria. O sucesso foi tanto que o garoto acabou sendo promovido aos profissionais. Isso aconteceu em 2012, período no qual Marlon pôde pegar dicas de Pedrinho, eterno ídolo vascaíno:
- Tive contato com o Pedrinho neste ano. Nesse ano quando subi ao profissional eu me encontrei com o Pedrinho e ele me deu dicas. Pedi muita orientação para ele – conta.
Nome garantido no elenco do Olaria que disputará o Carioca de 2013, Marlon vem sendo apontado como um dos jogadores que podem arrebentar no Estadual. Fã de Cristiano Ronaldo, o ‘Russo de Olaria’ promete dedicação e empenho para corresponder às expectativas colocadas pela diretoria do clube azul:
- Espero oportunidades. Vou trabalhar e dar meu máximo. Prometo honrar o escudo que defendo. Hoje sou muito grato ao Olaria e vou fazer de tudo para ajudar ao Olaria. Vou trabalhar e dar o meu máximo. Não vou ficar me preocupando, porque se a gente ficar pensando muito é pior. Vou trabalhar e chegar dentro de campo para tentar corresponder – disse.
Embora esteja concentrado no seu próprio futuro, Marlon não esquece o irmão e deseja sorte para o mesmo na temporada de 2013. É o ‘Russo de São Januário’ quem também serve de inspiração para a joia do time da Rua Bariri:
- Eu fico muito feliz com o sucesso do meu irmão. A vitória dele é a minha vitória. Eu já me sinto um vencedor só de ver ele no profissional do Vasco e de estar junto dele. Passamos um longo tempo separados e estamos juntos só agora. Me sinto bastante feliz por tudo que está acontecendo na vida dele. Aprendo muito com ele, me inspiro nele também. A gente conversa muito, dá conselho um ao outro. Eu sempre peço a Deus para dar tudo certo para ele – revela.
Bate-papo com Marlon, meio-campo do Olaria
Como foi sua trajetória no futebol até agora?
“Eu só fui jogar federado num clube da cidade de Augustinópolis-TO no ano de 2009. Joguei no Grêmio. Eu não tive base nenhuma. Sempre joguei em pelada no Piauí e nunca joguei em nenhum time federado. Eu só vim jogar mesmo em 2009, quando eu tinha 17 anos, no mesmo time que o Marlone começou. Em 2010 vim fazer teste no Olaria, passei e joguei o Campeonato Carioca. Fiz minha base toda no Juniores e agora estou no profissional. Nunca passei por mirim, infantil ou juvenil, comecei no Juniores mesmo”.
A saudade da família foi uma das dificuldades que você enfrentou no futebol?
“Para toda conquista requer um sacrifício. Eu não vou ter nem férias agora. Vou passar natal e ano novo longe da família. A gente tem muita saudade, mas tem que conviver com isso. Hoje a gente está chorando, sofrendo, mas amanhã a gente pode estar sorrindo com uma vida boa. A gente está aqui lutando por eles também. A gente entra em campo pensando na nossa família. Até porque a gente não quer voltar para lá e viver de roça. O futuro lá é roça. É complicado, mas têm pessoas aqui que ajudam a gente muito. Tem que passar por isso. A família mora longe, a gente tem saudade, mas tem que superar isso para lá na frente ter o que contar. Dizer que conseguiu porque superou tudo. Não é fácil ficar longe de quem você ama”.
O que representa o Olaria para você?
“O que eu posso falar é que o Olaria é tipo um pai para mim. Aprendi muita coisa e sou muito grato a esse clube. Sou muito agradecido por tudo que os treinadores fizeram por mim, principalmente o professor Carlinhos, que teve bastante paciência comigo. Ele que me ajudou a me posicionar dentro de campo. O fato de eu não ter tido base me fez ficar perdido durante muito tempo dentre de campo. Esses três anos que passei no Olaria foram muito bons para mim”.
Qual foi o seu melhor ano dentro do futebol?
“O ano passado. Em 2011 o juniores do Olaria liderou o Campeonato Carioca durante várias rodadas e superou os times grandes. Na época recebi várias propostas, inclusive do Vasco, que queria me levar para o time de Juniores. O ano passado foi um ano marcante para o clube e para mim também, pois estava de titular. Foi um ano marcante mesmo”.
Por qual motivo você não acertou com o Vasco?
“Tava dependendo da situação do Marlone. Ele tava para subir após a Copa São Paulo. Era ele subindo e eu chegando para o Juniores. Só que aí não deu certo, ele não subiu e eu acabei ficando no Olaria mesmo”.
O Vasco foi o único clube que te procurou?
“Já tive sondagens do Atlético de Madrid logo que cheguei ao Rio. Só que meu empresário achou melhor não aceitar pelo fato de eu não ter muita experiência no futebol. Ele achava que eu não teria maturidade suficiente para jogar no Juniores do Atlético de Madrid. Nesse período curto que tenho de carreira só recebi essas duas propostas. Teve também uma sondagem do Botafogo também, mas foi uma coisa que não evoluiu”.
Como você foi parar na posição de meio-campo?
“Eu sempre joguei de segundo volante, mas depois passei para meia. O professor Carlinhos, técnico do Juniores, viu a força física, o bom chute de fora da área e a arrancada e me aconselhou a jogar na meia. Eu jogo também de segundo volante, mas gosto mais de jogar como meia”.
Em quem você se inspira no futebol?
“Eu vejo bastante vídeo do Cristiano Ronaldo, mas um craque em que me inspiro muito é o meu irmão, por incrível que pareça. A gente vê juntos DVDs com jogadas. Me inspiro muito nele mesmo. Não só por ser meu irmão, mas porque o acho um bom jogador. Assisto vídeos dele, dos jogos que ele fez na base e no profissional. Hoje eu tenho ele como referência na minha vida. É um cara que está conquistando o espaço dele e está realizando um dos sonhos dele. Eu acredito também que o que ele está conseguindo eu posso conseguir também”.
Como você vê a atual fase do seu irmão Marlone, hoje profissional do time do Vasco?
“Eu fico muito feliz. A vitória dele é a minha vitória. Eu já me sinto um vencedor só de ver ele no profissional do Vasco e de estar junto dele. Passamos um longo tempo separados e estamos juntos só agora. Me sinto bastante feliz por tudo que está acontecendo na vida dele. Aprendo muito com ele, me inspiro nele também. A gente conversa muito, dá conselho um ao outro. Eu sempre peço a Deus para dar tudo certo para ele”.
Quem é melhor: Marlon ou Marlone?
“É uma pergunta difícil. Eu acho que é ele por todo trabalho que ele teve na base. Muitos dizem que se eu tivesse o trabalho que ele teve, eu jogaria mais. Mas eu o tenho como ídolo e me inspiro muito nele. Por ele ter passado por todas as categorias da base do Vasco, adquiriu mais experiência e hoje está um passo na minha frente. Mas eu vou chegar lá”.
Qual a expectativa do Olaria para o Campeonato Carioca?
“A expectativa é boa. Chegou comissão nova. Vamos brigar pelo título ou para ficar entre os três. A expectativa é muito boa mesmo. A diretoria está esperando um grande campeonato no ano que vem”.
Onde você espera estar no final de 2013?
“Eu sempre fui vascaíno, não é só porque o Marlone está no Vasco. A gente tem almejar coisas boas e eu espero um dia, não sei quando, jogar no Vasco. Sonho em jogar com meu irmão, jogar com o Marlone e vestir o mesmo escudo que ele. Essa é a minha expectativa. Vou trabalhar para isso”.
Fonte: Blog do Carlos Gregório Jr - Supervasco