No início de janeiro, Juninho embarca para um novo desafio na carreira. Mas a motivação pelo que vai encontrar no New York RB, dos Estados Unidos, contrasta com a ponta de amargura que deixou após o fim da sua segunda passagem por São Januário. Incomodado com as críticas de quem acha que ele abandonou a nau do Vasco afundando, o meia de 38 anos deixa claro à torcida que cumpriu sua missão e tem a consciência tranquila por ter provado em diversas ocasiões seu comprometimento com o clube. Mas até o amor tem limite. Sem enxergar pespectivas de recuperação do clube no curto período que lhe resta de carreira, preferiu não permanecer e buscar uma casa organizada e saudável, bem diferente da sujeira que disse ter vivido em São Januário em virtude das turbulências extracampo recentes.
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, direto de sua casa no Recife, Juninho reforçou seu carinho pelo Vasco, mas explicou os motivos que o levaram a acertar um ano de contrato com o New York RB, deixando para trás uma tentadora proposta do Atlético-MG, segundo ele um candidato forte ao título da Libertadores em 2013, e que lhe ofereceu mais do que os outros. Apesar de ter considerado renovar mesmo em meio à incerteza do pagamento de salários, o jogador mostrou-se muito incomodado com o fato de poder ser usado para abafar a crise.
- Se eu ficasse, poderia aumentar a idolatria da torcida por mim. Mas não sou vaidoso. Além disso, não adianta forçar a situação. Ao sair, ajudei o Vasco. Agora que o Juninho saiu, todo mundo vê que a situação está realmente difícil. Então, acho que vão trabalhar ainda mais para mudar. Se eu ficasse, iria contra tudo o que sempre falei para os próprios jogadores. Cobro a diretoria, vou às reuniões e aceito como está? Com certeza o Vasco arrumaria um jeito de me pagar. Se eu exigisse o que fosse, resolveriam, mas eu não queria dessa maneira - esclareceu, confirmando também que rejeitou o patrocinador exclusivo que só cuidaria de seus vencimentos.
Juninho se apresenta dia 21, um dia antes do início da pré-temporada. Sua estreia em Nova Iorque está marcada para o dia 3 de março. Ele poderá ficar mais perto da filha Giovanna, que faz intercâmbio em Los Angeles até o meio do ano que vem. Embora convicto de que tomou a melhor decisão, o Reizinho, triste pela despedida, reforçou sua ligação eterna com o Vasco antes de ir embora em tom novamente de resposta.
- Podem falar o que quiser, mas depois do Sport, no Brasil eu só vesti a camisa do Vasco.
Confira abaixo a entrevista completa:
GLOBOESPORTE.COM - O que espera desse novo desafio na carreira?
Juninho - Espero fazer o que sempre fiz: dar o meu melhor, como aconteceu nos outros clubes que defendi. Quero aproveitar a oportunidade de ajudar o clube a conquistar um título, o que nunca aconteceu. Além disso, o fato de atuar ao lado do Thierry Henry também pesou.
Mas vocês podem fazer as perguntas polêmicas, viu? Estou aqui para isso.
Então, explique o que o levou a sair do Vasco neste momento e buscar uma nova experiência profissional.
Para responder essa pergunta é preciso voltar um ano e meio. Não sou um cara que fala uma coisa e faz outra. Tinha uma proposta de renovação do Al Gharafa, mas sabia que era o momento de jogar novamente no Vasco ou então não jogaria mais. Por isso, fiz um contrato de risco. Na época, o discurso era jogar seis meses e depois fazer o que quisesse da minha vida. Passou esse tempo, joguei bem melhor do que imaginava e passei a ter uma ligação cada vez mais forte com a torcida. De seis meses, virou um ano e meio. Minha obrigação é jogar futebol, apenas isso. Agora tenho o direito de buscar o que é melhor para mim. Meu contrato com o Vasco terminou, não é que eu esteja saindo por quebrar um contrato.
E o que o motivou a não permanecer no Vasco?
A minha sorte é que eu não jogo mal. Então passei a incomodar. Algumas pessoas não queriam a minha volta. Outras achavam que eu não jogaria p... nenhuma e que iria embora depois de seis meses. O grande problema são os euriquistas de plantão. Tem gente da direção, do conselho, funcionários e jornalistas que fizeram um ambiente sujo, pesado. Muitos ali dentro querem se aproveitar e encontrar um espaço para entrar. Eu não quero ficar como escudo. Agora, só porque não fiquei eu não sou vascaíno? Não é nada disso. Lamento por quem pensa assim.
Então acredita que seria de certa forma usado? Se ficasse, a diretoria mostraria força. Se saísse, passaria a ser o jogador que abandonou o barco...
Se eu ficasse, poderia aumentar a idolatria da torcida por mim. Mas não sou vaidoso. Além disso, não adianta forçar a situação. Ao sair, ajudei o Vasco. Agora que o Juninho saiu, todo mundo vê que a situação está realmente difícil. Então, acho que vão trabalhar ainda mais para mudar. Se eu ficasse, iria contra tudo o que sempre falei para os próprios jogadores. Cobro a diretoria, vou às reuniões e aceito como está? Com certeza o Vasco arrumaria um jeito de me pagar, se eu exigisse o que fosse, resolveriam, mas não que fosse dessa maneira.
Como enxerga o atual momento do Vasco?
Acho que não é irreversível. Mas é uma situação a longo prazo. Não vai ter resultado da noite para o dia. O clube vai se apoiar em grandes profissionais, colocar um mínimo de ordem na casa para contar com os bons jogadores que tem. Mas eu tenho longo prazo como jogador de futebol? Não. Tem que apostar na base, em quem dê retorno.
A atual diretoria tem parcela de culpa ou enxerga a situação como consequência de administrações passadas?
A direção atual tem menos culpa do que a anterior. Mas o grande erro da direção atual foram as parcerias firmadas, que não protegiam o Vasco. Anderson Martins arrebentou e saiu sem o clube poder fazer nada. Neste ano foram Romulo, Diego Souza, Allan, Fagner... Quando o jogador recebia proposta, saía. Vocês têm que fazer matéria sobre isso também. Tenho muito respeito ao Roberto, que foi me buscar no Qatar. Mas a diretoria tem parcela de culpa porque a equipe não poderia ter sido dissolvida durante a competição.
Acredita que sua decisão de não permanecer vai motivar a saída de outros atletas do Vasco? Você tem falado com alguns a respeito?
Quando você tem propostas, pode analisar o que é melhor. E quando o contrato acaba, o jogador tem a sua liberdade. Não sei se alguns vão sair porque eu saí. Cada um tem sua vida. Acho que com algumas saídas, cada vez mais o clube vai fazer de tudo para mudar a situação. Além disso, penso que a análise tem de ser feita tecnicamente. Deve ficar quem merece. Quem estiver insatisfeito é melhor sair mesmo, e o Vasco coloca a garotada, respira economicamente e volta a contratar depois, quando estiver melhor. Mas hoje ainda há um time competitivo: Dedé, Fellipe Bastos, Tenorio, Eder Luis... um elenco que também pode fazer entrar dinheiro no clube. De repente, quando os jogos começarem, a camisa vai pesar, a torcida empolga e a gente pode nem mais lembrar de crise daqui a dois, três meses.
O que efetivamente foi oferecido pelo Vasco em sua renovação? Muito se falou de carreira como dirigente, jogo de despedida, patrocinador exclusivo...
O Vasco não me passou proposta nenhuma, porque primeiro queria acertar o que tinha de dívida. Também se cogitou a possibilidade de a direção procurar esse patrocinador para pagar o meu contrato, mas nada oficial. Eu também não aceitaria, porque acho que incomodaria diante da situação atual do clube. Essa história de contrato de diretor é mentira. Qual a função que eu faria? Nem tem espaço para isso. O Vasco acabou de contratar dois, não posso ficar numa situação como essa. Também não quero exigir isso do clube. Não aconteceu praticamente nada. Fiquei muito tentado com a proposta do Atlético-MG, pela estrutura, o projeto e pelo time muito forte. Mas sempre falei que ir para os Estados Unidos era a prioridade.
Em relação a 2014, você acha que há chance de voltar ao Vasco?
O New York me ofereceu um contrato de dois anos e eu não me senti em condição de aceitar. Então, é só um. Não quero prometer nada. Prefiro nem responder essa pergunta.
Nem que seja para um jogo de despedida?
Ano passado, no dia da minha apresentação, a torcida gritou mais o nome do Edmundo do que o meu. Isso não me incomoda. É legal essa despedida do Pedrinho. Se tiver a minha, ótimo. Caso contrário, não vou ficar frustrado. Se eu quiser, terei até uma despedida no Lyon. Não quero que o clube se sinta obrigado. A preocupação do Vasco não pode ser essa ou a minha volta no ano que vem. A situação é catastrófica, nunca vi um negócio desse no futebol. Só não declara falência porque não é empresa. Mas precisa resolver isso com urgência.
Na última segunda-feira, dia em que sua contratação foi anunciada, você estava em Recife e o New York RB divulgou uma foto sua nos Estados Unidos mostrando os símbolos do clube. O acerto aconteceu anteriormente?
Fui para lá com minha esposa para conhecer o clube e fiquei três dias. Visitei apartamentos para alugar, escolas, tudo organizado por eles. Fiz aquela foto sem vestir a camisa (apenas um casaco por causa do frio) e eles me disseram que divulgariam a imagem somente se eu fechasse. Na última segunda-feira eu assinei o contrato pela internet e eles publicaram a foto. Havia a chance de eu ficar, mas a cada semana foi ficando mais complicado, mais longe...
Fonte: GloboEsporte.com