Na noite desta terça-feira (18/12) o programa Só dá Vasco realizou uma entrevista exclusiva com o meio-campo Morais, ex-Vasco e atualmente sem clube. O jogador que possui uma longa história no Gigante da Colina parou de jogar por cinco meses para resolver alguns problemas particulares, mas já está pronto para retornar ao futebol na temporada de 2013.
Revelado pelo Vasco, onde chegou em 1997, Morais fez parte da famosa geração 84, que ficou vários anos sem perder uma partida em torneios de base. O antigo camisa 98 foi o que mais obteve sucesso com a camisa vascaína dessa geração. Isso porque o meia disputou mais de 165 jogos pelo time profissional e chegou a ser convocado pela Seleção.
No bate-papo com o 'Só dá Vasco', Morais relembrou sua trajetória no Gigante da Colina, explicou os motivos que o levaram a sair do clube em 2008, fez juras de amor ao cruzmaltino, cantou o hino e revelou que gostaria de voltar a atuar no time de São Januário.
Confira na íntegra a transcrição da entrevista:
Você chegou ao Vasco muito cedo, em 1997, e passou por todas as categorias da base do clube. Como você avalia sua passagem pelas categorias de base do cruzmaltino?
“Eu vivi bons momentos. Eu cheguei aos trezes anos após passagem pelo CRB-AL. Cheguei num grupo que era muito respeitado, que era a geração de 84. Depois da minha chegada a gente ficou quatro anos e meio sem perder. Foi uma geração onde se venceu muito, se conquistou muito, mas que não deu certo porque pegou um momento difícil do Vasco. Isso acabou prejudicando um pouco. O ideal seria subir um ou dois garotos para jogar ao lado de experientes, mas na época o Vasco não tinha dinheiro para contratar ninguém e acabou todo mundo subindo. Isso prejudicou muitos atletas”.
Você fez parte da geração de 84, que ganhou tudo na base e ficaram vários anos invictos. Por qual motivo você acha que os jogadores dessa geração não obtiveram o sucesso esperado no time profissional do Vasco. Cito aqui Claudemir, Diego, Alberoni, Ygor, Wescley e Anderson.
“Acho que foi por conta da queima de etapas que a geração 84 não conseguiu corresponder. Eu estreie com 17 anos assim como muitos outros. Houve uma quebra de sequência e acho que não foi respeitado o tempo de amadurecimento. O jogador quando sobe deve treinar um tempo com os profissionais e só depois começar a ser utilizado. Eu que na época o clube vivia um momento difícil, estava com os salários atrasados e não chegaram grandes jogadores para dividir a responsabilidade e carregar mais o peso que os garotos. Então, eu acho que esse foi o fator o principal para o desaparecimento de alguns desses garotos. Acho que deveria ter sido pouco a pouco, sem queimar etapas. Só assim o jogador iria amadurecer e render mais do que rendeu”.
Do que mais você lembra em relação a sua vida de torcedor em São Januário?
"Eu acabei acompanhando o melhor momento do Vasco, que foi em 98, quando o Vasco conquistou a Libertadores. Lembro que os jogos do Vasco eram na quarta-feira, depois da novela, o jogo era às 22 horas. Lembro que tinha que chegar de 19 horas para pegar um lugar bom. Eu sei muito bem o que é o Vasco. Pode estar numa situação ruim hoje, numa boa amanhã. Sei muito bem o que é o Vasco. Como todos sabem, sou Vascaíno e estarei sempre torcendo. Se não puder jogar, estarei torcendo".
Você começou a treinar com o time profissional em 2001 graças ao pedido do técnico Hélio dos Anjos, mas só estreou no profissional em 2002. Apesar disso, você só conseguiu atuar em uma partida nesta temporada. Por qual motivo você acha que não se firmou no Vasco antes de sua saída para o Atlético-PR?
“Eu tinha feitos alguns treinos pelos profissionais em 2002,na época o time estava disputando o Campeonato Carioca e esse não estava tão valorizado, chamavam de Carioca ‘Caixão’ se eu não me engano. Fui ter mais oportunidades em 2003 com o Antônio Lopes e depois que ele saiu, trabalhei com o Galvão. Em 2004 com a chegada do Geninho eu virei titular absoluto, mas só que em fevereiro acabou o meu contrato e a gente não chegou a um acordo. O único acordo que teve foi o de renovar e depois me emprestar. Por conta disso, eu acabei indo para o Atlético Paranaense”.
Você saiu, foi para o Atlético-PR e voltou em 2005 para o Vasco, tornando-se rapidamente um dos principais jogadores do time. Qual foi a importância da passagem pelo Furacão? Foi graças a ela que você voltou ao Vasco mais maduro?
“Com certeza. Hoje eu vivo um momento um pouco parecido. Na verdade a gente foi vice-campeão brasileiro em 2004. No Atlético-PR eu era titular absoluto após a venda do Jadson, mas acabou que fui expulso num jogo e acabei sendo afastado do elenco antes das finais do paranaense. Eu fiquei quatro meses treinando separado e isso ficou de aprendizado. Depois disso eu voltei para o Vasco em 2005 e na época estava com muita vontade de jogar. Foi bom para mim essa experiência, os títulos que conquistei e o aprendizado de jogar no sul, onde o futebol é bem mais pegado. A minha volta para o Vasco foi bom por causa disso. Eu estou vivendo um pouco desse momento agora. Estou cinco meses parado por conta de alguns problemas pessoais, teve a doença do meu pai e por conta disso eu resolvi ficar em casa para viver esse momento mais de perto. Mas hoje eu estou bastante motivado, estou com uma vontade e estou parecendo um menino de 17 anos novamente. Parece que estou subindo para o profissional agora”.
Como você hoje fisicamente?
“Na verdade eu só estou dois meses parado. Eu fiquei um pouco triste com algumas situações e queria parar mesmo. Só que graças a Deus as coisas melhoraram e meu pai está bem. Ele está podendo fazer as coisas deles. Como meu pai melhorou, eu comecei assistir jogo de terça até domingo. Ai começou a bater a vontade de jogar. Achei que era uma coisa momentânea, mas não foi. Por isso voltei a treinar, entrei na academia e já contratei um amigo meu que é personal trainer. Estou bem. Vou para academia três vezes na semana, assim como na praia. Estou bem. A questão é de pegar uma pré-temporada, perder dois ou três quilos e voltar a jogar”.
Em 2006 você viveu sua melhor temporada com a camisa do Vasco. Levou o time à final da Copa do Brasil e quase fez o time voltar a Libertadores via Brasileiro. Foi neste ano que você alcançou a Seleção Brasileira. Concorda conosco? Acha que foi realmente sua melhor temporada pelo Vasco? O que você poderia falar sobre esse ano?
“Foi um ano em que o Renato Gaúcho com o jeitão dele conseguiu armar um bom time mesmo com todas as dificuldades. Pegamos o Fluminense na semifinal da Copa do Brasil e jogamos muito bem. Depois teve a parada para a Copa do Mundo e isso acabou atrapalhando muito a gente. Perdemos a final para nosso maior rival, que era o Flamengo, mas mesmo assim não abaixamos a cabeça e continuamos fazendo um bom Brasileiro. Infelizmente não conseguimos ganhar o Figueirense na última rodada e acabamos terminando em quinto, um posição abaixo da Libertadores. Acho que foi um ano muito proveitoso, um ano em que fui convocado e onde recebi muitos prêmios individuais também. A única coisa que faltou para eu me realizar dentro do Vasco foi um título, mas paciência. Quem sabe num futuro próximo ele não pode vir?!”.
Por qual motivo você acha que não teve sequência na Seleção? Acredita que a lesão no Púbis te prejudicou?
“Foi o melhor momento em 2006 e cheguei a ser convocado para a Seleção. Vivi grandes momentos com o Renato Gaúcho como treinador, até porque ele me dava muita liberdade. Ocasionou que eu fiquei no banco na primeira convocação e não joguei. Na sequência teve o retorno do Kaká e do Ronaldinho Gaúcho, que eram titulares indiscutíveis da Seleção. Depois, quando fui pré-convocado para a Copa América, acabei cortado e não pude assumir a vaga do Zé Roberto, que pediu dispensa. Eu tive uma lesão no púbis que me deixou fora por cinco meses. A minha oportunidade na Seleção acabou por conta dessa lesão. A oportunidade que tive acabei não aproveitando, mas não tenho do que reclamar da minha carreira. Sou um cara realizado e tenho certeza que terá algo bom para mim em 2013”.
O que você poderia falar sobre a temporada de 2007? Na oportunidade você ficou um tempo sem jogar por conta de uma lesão.
“A gente começou bem em 2007. Teve a chegada do Conca e se criou uma expectativa muito grande no meio-campo formado por nós dois. Tinha o Leandro Amaral no ataque que vivia um grande momento. A gente iniciou vencendo por 2 a 0 o Nova Iguaçu. A gente fez a pré-temporada muito boa no interior do Estado, mas quatro meses depois eu me lesionei e isso prejudicou o estilo de jogo do time. A gente jogava com dois meias e quando eu me machuquei acabou ficando jogadores sozinhos e acabou que o ano não foi tão proveitoso. Fique seis meses parados e passei até por um problema psicológico, pois tinha vontade de voltar a jogar e não conseguia me curar. Eu tinha apenas 22 anos na época e não conseguia entender porque não conseguia me recuperar. Quando me machucava eu sempre me recuperava rápido. Foi um lesão que me atrapalhou muito em 2007”.
O Ramon jogou com você em 2006 e certamente te ajudou bastante. O que você poderia falar sobre ele?
“O Ramon é uma pessoa muito boa. Na minha estreia em 2002 eu acabei dividindo o quarto com ele. É uma pessoa muito boa. Na época ele já tinha uma idade avançada, não tinha a mesma condição física, mas nos ajudou bastante. Contribuiu muito com sua experiência e me ensinou muita coisa. É um cara que conquistou muitos títulos no Vasco e nem mesmo por isso era vaidoso, sempre teve perto me dando conselhos. Eu acho que o Ramon foi um cara importantíssimo. Ele não é muito de ficar na mídia, mas se você for ver os números do Ramon, as assistências, vai ver que ele é um cara que tem que ser muito respeitado na história do Vasco”.
E sobre o Felipe e o Juninho? Certamente você deve tê-los como referências e ídolos.
“Eu cheguei a conviver um pouco com o Felipe. É um cara que sempre me dava moral e para o pessoal das categorias de base. É um cara que sempre conversou comigo, me deu dicas sobre o jeito correto de jogar. E o Juninho tem a história que todo mundo sabe. Foram jogadores em que eu me inspirei muito. Graças a Deus eu consegui chegar ao profissional. Pena que não joguei com eles. Queria eu estar no Vasco no ano passado quando o clube brigou pela Sul-Americana e o Brasileiro. O time era muito forte. Tinha o Dedé na zaga, Romulo de volante, Juninho, Felipe, Eder Luis e Alecsandro. Tinha um time todo formado. Mas paciência, não tive essa oportunidade. Mas sempre procurei honrar a camisa do Vasco quando a vesti”.
Você iniciou 2008 voando e chegou a despertar o interesse de clubes como o Porto, o Hamburgo e Boca. Por qual motivo você decidiu ficar no Vasco?
“Eu tinha um sonho de ser campeão pelo Vasco. Enquanto isso não acontecia, eu não me sentia pronto para sair. Eu tinha na minha mente que só deixaria o Vasco após ser campeão. Chegaram muitas propostas, muitos me deram conselhos e mandaram-me ir embora, mas eu acabei renovando com o Vasco. Infelizmente acabei saindo pelas portas dos fundos no final. Eu acho que foi meu coração naquele momento. Eu vivia aquele sentimento diariamente. Os torcedores, grande parte, não tinham noção de como eu vivi aquele meu dia a dia ali, de como eu sofria nas derrotas, do quanto eu vibrava nas vitórias. Eu procurava sempre melhorar a cada dia, sempre soube da situação do clube, que ele não poderia trazer grandes jogadores e muitas vezes eu parava para pensar e sabia que tinha que assumir a responsabilidade. Nunca fugi e sempre dei entrevista, seja na derrota ou na vitória. Só que chegou a hora que ficou tudo em cima de mim e eu resolvi sair”.
Você acha que essa vontade de ser campeão falta em alguns jogadores hoje em dia?
“Se você jogar em clube grande hoje e não tiver isso, você não fica. Eu joguei em outros clubes grandes, como o Corinthians e o Bahia. Tem que correr, tem que vestir a camisa, representar aqueles torcedores, aquela galera que paga ingresso e que está no dia a dia. Eu sempre acompanho o Vasco. É que o Vasco já vem a um tempo empurrando com a barriga. Não consegue seguir uma linha correta, de pagar seus salários em dias, de passagem uma imagem boa para que os jogadores que estão nos outros clubes possam receber a proposta e ligar na hora para o jogador e perguntar se está maneiro, se está pagando em dia, se tá organizado, se o presidente tá no dia a dia, se a diretoria está junto...Acho que falta um pouco disso. Eu acho que o Vasco vive um pouco isso. A presidência tem que chegar mais junto para fazer com que os jogadores tenham esse suporte. Em 2008, no momento que eu mais precisava da diretoria, num momento em que uma parte da torcida foi lá me cobrar, simplesmente não tinha nenhum segurança no clube, o presidente não falou nada depois. No momento que eu mais precisei, fui abandonado. Foi isso que culminou na minha saída”.
Você se sente realizado por ter vestido a camisa do seu clube do coração?
“Eu acho que vestir a camisa do Vasco já é uma felicidade muito grande. Pode ter tantos jogos com a camisa do Vasco, ter feito gols e ver as placas que tenho hoje em casa, é muito gratificante. Ter podido vestir a camisa, ter jogador em São Januário lotado, ter disputado grandes jogos no Maracanã e ter defendido as cores do Vasco fora do país, quando a gente jogou em Dubai. Eu não me arrependo de nada. Tudo deveria ser do jeito que tinha que ter sido. Eu não sai, fiquei, suei a camisa e no time que torcia quando criança. Você realizar o sonho de ser jogador tem que agradecer muito a Deus, imagina jogar com a camisa do clube que você torcia quando era criança?!”.
O que representa o Vasco para você?
“O Vasco é minha segunda casa. Eu sai do Vasco em 2008 e tinha 24 anos, onze anos de Vasco. Então, eu tinha vivido treze anos em Maceió e onze anos no Vasco. Morei cinco, seis anos, embaixo da arquibancada. É um clube que vou torcer, que quando parar de jogar vou estar torcendo e que vou estar sempre te acompanhando”.
Gostaria de voltar ao Vasco?
“Acho que sou apenas mais um vascaíno como vocês. Se aparecer essa oportunidade é muito bem-vinda. Se trata do clube que me colocou no futebol nacionalmente e vai ser um prazer. Vamos ver o que acontece. Já estou treinando e estou pronto para voltar a jogar. Vamos torcer para que eu esteja no Vasco no ano que vem.”
Então se pintasse uma proposta você diria sim?
“Sim. Eu acho que eu já falei no início da entrevista. É um clube que não guardo mágoa nenhuma, pelo contrário, é um clube que acompanho e torço. Não tenho mágoa nenhuma. Estou na torcida e se eu torço é porque quero voltar. Vamos ver o que acontece nos próximos dias para a gente conversar melhor”.