O Estádio Internacional de Yokohama não deve ter muitos torcedores do Chelsea na final do Mundial de Clubes, no domingo, às 8h30m (de Brasília) contra o Corinthians, e na Inglaterra a mobilização não parece muito grande, mas os Blues poderão contar com apoio incondicional justamente no país do rival: no Brasil, muitos quilômetros longe do Japão, um grupo de fanáticos pelo clube londrino acordará cedo para torcer por Oscar, David Luiz, Ramires e companhia.
Num exemplo de como o futebol se torna a cada dia mais globalizado, o Chelsea agora tem uma torcida fiel no Brasil, a ponto de o bombeiro Leandro Tavares, de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro, ter transformado seu terraço num verdadeiro santuário dos Blues. Apelidado de Stamford Bridge, o nome do estádio do time, o espaço, cuja personalização custou cerca de R$ 2.000, vai receber os fãs da equipe para a decisão do Mundial.
- Eu estou respirando a final. O terraço já está todo pronto, vamos fazer um café da manhã, já está tudo organizado. Convidamos muitas pessoas – contou Leandro, ex-vascaíno e membro do Chelsea Brasil, grupo que começou a se mobilizar como um blog e hoje já tem até o reconhecimento oficial dos Blues.
Transformar o terraço num estádio - o próximo passo é comprar um piso verde para simular um gramado - não é a única prova de amor de Leandro pelo Chelsea. Fã do meia Frank Lampard, ele batizou seu filho com o nome do ídolo, já viajou para conhecer o verdadeiro Stamford Bridge e, claro, tentou ir para o Japão.
- Meu filho estava para nascer no dia 27 de abril, mas num exame de rotina minha esposa teve de ser internada no dia 24, quando o Chelsea ia enfrentar o Barcelona pelas semifinais da Liga dos Campeões. Falei para minha a esposa: “E agora, e o jogo do Chelsea?”. O Lampard é um dos maiores profissionais que eu vi jogar. Então, para eternizar o Chelsea de vez na minha vida, coloquei o nome dele no meu filho. Faço questão que meus amigos o chamem de Lampard – diz o pai do pequeno Leandro Lampard, que completa um ano em maio e já tem até tema para a festa: os Blues, é claro.
Apesar de tantas “loucuras”, Leandro teve de adiar o sonho de acompanhar o Chelsea no Mundial.
- Eu tentei ir para o Japão de todas as maneiras, consegui até patrocinadores, minha esposa liberou, mas não teve jeito, por causa do meu trabalho no Corpo de Bombeiros. Já tinha esgotado todas as possibilidades de licença, e a corporação vive um momento delicado. Eu tinha um dinheiro guardado, mas não podia arriscar ser expulso da corporação.
Craque italiano inspirou início da torcida
Assim, Leandro terá de se contentar em sediar o encontro dos torcedores dos Blues no Rio de Janeiro. O presidente do Chelsea Brasil, Guilherme Neto, estima que até 20 pessoas vão se reunir para acompanhar a partida. Em São Paulo, terra do rival Corinthians, porém, os fãs não devem promover algo parecido.
- O pessoal de São Paulo não quis organizar nada por conta da torcida do Corinthians. Tem um pub lá no qual eles costumam se reunir, mas já avisou que não vai permitir a galera com a camisa do Chelsea – disse Guilherme, que virou torcedor do time britânico por causa do craque italiano Gianfranco Zola, bem antes da chegada do bilionário Roman Abramovich.
- Eu era fã do Zola, porque via o Campeonato Italiano pela televisão. Quando ele foi para o Chelsea, comecei a acompanhar e me apaixonei pelo clube. Em 2009, já tinha outros amigos que torciam pelo Chelsea e havia dificuldade para encontrar notícias do clube em português. Resolvemos criar um blog – lembrou Guilherme, afirmando que atualmente o site conta com membros em todas as partes do país.
As coisas ficaram sérias de vez quando a torcida conseguiu ser reconhecida de forma oficial pelos Blues. O processo todo durou cerca de seis meses, mas a espera valeu a pena. Atualmente, o Chelsea Brasil mantém contato regular com o clube, tem facilidade para conseguir ingresso para fãs que viajam para a Inglaterra e consegue acesso até a conteúdos do site original do time londrino. O primeiro encontro organizado foi na decisão da Liga dos Campeões, em maio, contra o Bayern de Munique.
Blues em primeiro plano
O envolvimento com o Chelsea, aliás, modificou a relação de Guilherme com o futebol. A exemplo de Leandro, ele abdicou da paixão pelo Vasco para se tornar um fã "exclusivo" dos Blues.
- Hoje, eu posso dizer que o Vasco está em segundo plano, não por conta da crise do clube, mas porque me envolvi muito com o Chelsea, até por causa da relação com o pessoal da Inglaterra. A maioria do pessoal que cuida do site é assim também, tirando a galera que torce para o Corinthians – contou Guilherme.
Leandro, por sua vez, admite que sofreu críticas por causa da escolha pelo Chelsea. Para “compensar”, adotou uma estratégia diferente:
- Em vez de rebater as críticas, eu começava a explicar a história do Chelsea. Comprei camisas e dei para as pessoas, e elas foram entendendo, tiveram outra visão. Eu queria muito torcer pro Vasco igual eu torço para o Chelsea, mas não consigo. Eu ia em todos os jogos do Vasco, mas passei a não me interessar mais – afirmou o bombeiro, que culpa o momento do futebol brasileiro pelo crescimento de clubes estrangeiros no país.
- Eu queria que o Chelsea ganhasse do Corinthians de uns 5 a 0. O futebol brasileiro precisa levar uma surra para mostrar que precisamos mudar muito.
Confiança no título e homenagem
Se depender da confiança dos torcedores na decisão, o desejo de Leandro pode virar realidade. Guilherme reconhece as qualidades do Corinthians, mas, ainda assim, acredita num triunfo suado dos Blues.
- O Corinthians é um time enjoado. Eu, como vascaíno, fui aos dois jogos na Libertadores deste ano e vi. É um time chato, mas se o Aboutrika (meia do Al Ahly) jogasse desde o começo na semifinal não sei se o Corinthians tinha vencido aquele jogo. Acredito que seja uns 2 a 1, de virada. Quero que seja dois gols brasileiros, do Oscar e do Ramires, mas também confio no Fernando Torres - disse Guilherme, que não pensa em derrota.
- Dizem que os torcedores na Inglaterra não ligam muito para o Mundial, mas isso não é bem verdade. O que há é o desconhecimento dos adversários. Muitos lá só conhecem o Corinthians por causa do Ronaldo e do Adriano. Mas a importância do título é grande. Ganhar o Mundial é obrigação - completou.
Já Leandro também crê no sucesso do Chelsea. Ele sonha com um gol de pênalti do ídolo Lampard e já cogita até mesmo nomear o próximo herdeiro com o nome de um craque brasileiro.
- Não pretendo ter outro filho, mas Oscar é um nome bonito. Quem sabe?
Leandro no seu Stamford Bridge, com a filha, ainda vascaína |