Sufocados financeiramente, os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro estudam uma união com o objetivo de buscar soluções para uma dívida conjunta de quase R$ 1 bilhão e penhoras que chegam aos R$ 178 milhões na Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. Além de ações na Justiça na tentativa de emplacar liminares para reduzir os montantes retidos, os dirigentes estão sendo assessorados por escritórios de advocacia terceirizados que trabalham para fazer com que Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco respirem um pouco melhor a partir de 2013.
O trabalho é árduo e de difícil solução. A principal justificativa dos advogados envolve o fato de que os clubes não conseguem se sustentar com elevados percentuais de receitas penhoradas. Com isso, pagamentos de salários atrasam e jogadores têm o caminho facilitado para rescisões de contrato, o que aconteceu recentemente no Vasco com o goleiro Fernando Prass.
O Gigante da Colina, inclusive, tenta com uma sequência de liminares para reduzir a penhora de 100% das receitas para 5% ou 2,5%. Com três meses de salários atrasados, o clube cruzmaltino vive crise financeira gravíssima e mobiliza dirigentes. Para se ter uma ideia, o Vasco teve êxito em uma ação na última terça-feira e pouco resolveu o problema. A 5ª Câmara Cível do Rio de Janeiro decidiu reduzir de 100% para 50% o bloqueio das verbas do Vasco em relação ao patrocínio da Eletrobrás e das cotas da CBF. No entanto, o clube não terá acesso ao montante, já que a Fazenda Nacional retém a totalidade das rendas a título de pagamento de dívidas.
O clube comandado por Roberto Dinamite deve R$ 43,4 milhões para a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e possui uma dívida total de R$ 170 milhões. “É inviável um clube sobreviver com 100% das receitas bloqueadas. O Vasco não quer deixar de pagar, apenas negociar e reduzir as penhoras para poder tocar o seu dia a dia e manter os salários em dia. Esse é o nosso objetivo. No modelo atual fica inviável. O problema não é só com o Vasco. Todos os clubes do Rio de Janeiro estão sofrendo com isso e trabalham para solucionar o impasse. É luta de todos”, afirmou o mandatário cruzmaltino.
O clube da Colina histórica é o que mais sofre com a situação no momento e serviu de alerta para os outros três grandes. O Botafogo é o que mais deve no Brasil. De acordo com levantamento feito pela Pluri Consultoria, são R$ 318 milhões, sendo R$ 41 milhões com a Fazenda. Incomodado, o presidente Maurício Assumpção considera que a união é realmente uma solução importante para diminuir os prejuízos.
“Os quatro grandes do Rio e de São Paulo tiveram todas as rendas de TV penhoradas por conta de dívidas com a Receita Federal. Não digo que não devemos pagar, mas é preciso fazer um acordo. A Receita tem de rever, pois os clubes se tornarão inviáveis no ano que vem se continuar assim. Nosso departamento jurídico, com um escritório terceirizado, que presta serviço para os quatro grandes do Rio, está vendo o que fazer. Estamos lidando com a realidade e acompanhando o sofrimento de todos os clubes”, comentou.
Um acordo nos moldes do realizado com o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) pode ser uma alternativa. Nele, 20% de qualquer renda é retida para pagamento de tributos. A iniciativa é apoiada por todos os dirigentes. Peter Siemsen, presidente do Fluminense, revelou dificuldades mesmo quando os clubes conseguem liminares para ter acesso aos montantes bloqueados. O Tricolor tem R$ 220 milhões de dívidas e vê um débito de R$ 35 milhões com a Fazenda Nacional.
“São várias ações com valores variados, que somados dão os R$ 35 milhões. Quando conseguimos uma liminar para receber uma receita, outra vai lá e penhora o valor que temos para receber. O ideal é ter todo mês um valor razoável para tentar pagar essa quantia em três anos e não matar o devedor. Isso complica o planejamento, pois causa imprevisibilidade. Uma receita que era certa para determinado mês acaba não sendo mais. Não tem sentido bloquearem todas as contas. Esse tipo de dívida é muito perigosa. Quem sofre é quem vem depois. Pois você fica “congelado” e não consegue pagar o imposto atual. Tem que existir um limite”, disse o dirigente tricolor, que luta para pagar os salários atrasados de novembro e teve metade do prêmio pelo título brasileiro penhorado – cerca de R$ 5 milhões.
A situação do Flamengo é igualmente dramática. O Rubro-Negro teve cerca de R$ 20 milhões penhorados por problemas com a Justiça do Trabalho referentes aos anos de 2007, 2008 e 2009, além de mais R$ 38,7 milhões da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. Por conta disso, não consegue colocar os salários em dia desde setembro. Apelou para empréstimos no primeiro mês e aumentou ainda mais a dívida, que tem um total de R$ 258 milhões.
Ciente das dificuldades, a nova diretoria criou um comitê de renegociação da dívida. Este trabalho será comandado por Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central. Wallim Vasconcellos, líder do grupo que venceu a eleição e novo vice de futebol, deu um panorama sobre a situação delicada do clube mais popular do país.
“Não adianta reclamar muito, até porque a dívida está aí. Temos que trabalhar para minimizar os estragos. É preciso muita criatividade, ainda mais em um momento que o time precisa de reforços. O novo comitê vai receber as planilhas do clube, fazer um estudo do caso e tentar renegociar esta dívida. É o que nos resta”, encerrou.
A situação é tão crítica no rubro-negro que até mesmo a receita da TV Globo, principal fonte de renda, será minimizada. Entre adiantamentos e penhoras, o clube receberá menos de R$ 10 milhões em 2013. Inicialmente, o contrato previa mais de R$ 100 milhões. Até 2016, pelo menos, a fatia a ser recebida não será inteira por conta de problemas de dívidas na Justiça. A união é talvez a última tentativa para salvar os quatro grandes do Rio, desesperados e donos de grandes torcidas no país.
Fonte: UOL