Passo a passo, Ricardo Gomes inicia uma nova função no Vasco, após se recuperar de um acidente vascular cerebral. Trocou, mesmo que apenas por algum tempo, a beira do gramado por seguidas reuniões. Hoje, não tem que decidir apenas quem entra ou quem sai do time, se vai de 4-4-2, 3-5-2... Suas decisões, admite ele, agora têm impacto maior, aumentando também o risco de errar. Mas nada que o preocupe. Afinal, sabia bem o desafio que teria pela frente. E decidiu encarar.
Franco, Ricardo admite que não é do ramo. Pensará em se especializar como um executivo da bola somente caso não consiga voltar a ser treinador, em 2014. Mas aceitou ser diretor para ajudar, pois, como ele mesmo diz, de algo extraordinário (o AVC), surgiu uma ligação de coração com o Vasco.
Para 2013, mesmo com as dificuldades financeiras, aposta que o Vasco será forte. Fala de contratação de “grande jogador”, mas, principalmente, de recuperar nomes como Felipe, Carlos Alberto, Alecsandro e Bernardo. Para este último, enxerga um futuro ainda mais promissor na Colina.
LANCE!Net: Como tem sido o ritmo nesse início de trabalho?
Comecei com reuniões, tentando uma melhora para o time, mas ainda preciso do aval do Roberto Dinamite para fazer as outras coisas. E agora, com a chegada do René, fico pensando mais apenas no campo.
LANCE!Net: Há uma diferença muito grande quanto ao cargo de treinador?
Tem uma diferença, realmente, do que eu gosto de fazer, do que eu sei fazer, que é no campo. Vamos ver em relação a essa nova função, se eu tenho sucesso. Porque é diferente, claro. Você não vai para campo. Tem de reaprender e ao mesmo tempo aprender pelo melhor do Vasco. Apesar do período complicado, nós temos de ter boas ideias para ajudar o Vasco. No início, é isso.
LANCE!Net: O risco de errar e de sair como culpado se algo não der certo, hoje, é maior?
O risco é maior... Tem a responsabilidade do campo, se armou bem, se armou mal, se mexeu bem, se mexeu mal. No caso do diretor técnico, a responsabilidade de contratação, outras determinações importantes... Mas estou ajudando.
LANCE!Net: E pretende seguir como executivo de futebol, fazer alguma especialização?
Ainda não. Mais tarde. Se eu não conseguir me recuperar, é claro, aí é especialização... Não poderei fugir, mas não é o caso ainda. Estou apenas ajudando, só isso.
LANCE!Net: Então, quando pretende voltar a ser treinador?
Somente com a recuperação total que vou pensar em voltar ao campo. Para 2013, esquece... Essa pergunta é para 2014 (risos).
LANCE!Net: Você sabia que enfrentaria essa situação no clube quando aceitou retornar?
Claro, isso não começou agora. Isso começou em agosto. Começou com a saída de vários jogadores e nós temos de remontar esse time. Algumas contratações foram feitas no segundo semestre, algumas com sucesso e outras, não. Tem de repensar, repensar o Vasco em relação ao campo, ao time. Mas a parte administrativa não é comigo.
LANCE!Net: Por falar em repensar o Vasco, você pensava em ter Diego Souza para 2013? Houve uma frustração?
Esperava, mas não era certo. Sabia dos movimentos de outros clubes e aí foi o Cruzeiro que levou. Mas temos de pensar não apenas no Diego Souza, temos de pensar no todo. Tem a volta do Bernardo e espero que, com mais experiência, ele consiga o posto de titular, porque teve uma grande fase em 2011, mas sempre alternando bons e maus momentos. Espero que ele consiga solucionar. Vamos apostar. Temos bons jogadores no elenco para 2013. Precisamos reforçar, mas tem de pensar em tudo. Será que o Juninho vai ficar? O Diego não deu certo, pelas condições também que ele foi.
LANCE!Net: E o quanto essa nova estrutura do futebol ajuda?
O Vasco tem de remodelar a sua estrutura. Começou com a contratação do Mauro e agora do René. Eles encontrarão as soluções para este ano e em um espaço de cinco, seis anos, teremos novos jogadores da base também. Não é apenas nós que estamos vivendo isso por aí. Fora o Fluminense, que tem um grande patrocínio, é Botafogo, Flamengo e Vasco com muita dificuldade. Isso tem de mudar. Não vai ser fácil, mas tem de ser feito.
LANCE!Net: O grupo tem jogadores que terminaram o ano em baixa, mas que já viveram grandes momentos, como Felipe e Alecsandro, por exemplo. Confia que dá para recuperá-los em 2013?
Alguns jogadores, Felipe, Carlos Alberto e Alecsandro, seriam reforços em qualquer grande time no Brasil. Então, isso pode acontecer. São os resultados que falarão mais alto e eu acredito nesses três jogadores. Mas isso não adianta falar. O discurso está muito bonito, mas tem de resolver no campo. Tudo isso que falamos aqui é muito bom aqui, no “tamo de férias”. Eu quero ver lá no campo. É isso que fará a diferença.
LANCE!Net: E como está sendo o planejamento de reforços: será algo pontual ou terá uma mudança grande?
Quanto mais mudar, mais custo. Vamos fazer uma coisa pontual e correta para o Vasco. Grande jogador? Pode ser. Vamos ver se será possível. Se não, vai ser no crédito de um menino com potencial. Não tem segredo, tem trabalho.
LANCE!Net: Você sempre teve uma ligação forte com o Fluminense. Após esse título na Colina e as seguidas demonstrações de carinho quando sofreu o AVC, dá para dizer que o Vasco também ocupa um espaço grande no seu coração?
O que marcou foi o acidente que eu tive. Recebi apoio de todas as torcidas, eu só tenho a agradecer. Mas a torcida do Vasco ficou, os jogadores do Vasco ficaram muito mais próximos. Tiveram várias homenagens de vários clubes, mas, para se ter uma ideia, a primeira vez que sai de casa foi para a concentração do Vasco. É claro que fica ligado. Por conta de uma coisa extraordinária, nasceu uma coisa de coração com o Vasco.
LANCE!Net: A sua família, em algum momento, foi contra você voltar?
Vocês sabem melhor que eu... Falam muito, mas não tem nenhum problema. Claro que depois do acidente ninguém queria falar de futebol. Mas não tem nenhuma restrição familiar e nem médica.
LANCE!Net: Voltar como diretor foi ideia sua ou da diretoria?
Todo mundo sabia que ainda tinha dificuldade pelo AVC. Eles sabiam, eu sabia. Ninguém teve essa ideia, foi algo que surgiu e que começamos a trabalhar.
Fonte: Lancenet