Bernardo disputou sua última partida pelo Vasco no dia 15 de fevereiro. Deixou o gramado hostilizado pelos torcedores e discutiu com o alguns. Para sair de São Januário, precisou da escolta de seguranças. Tudo porque naquela quarta-feira decidiu acionar o clube na Justiça, pedindo a rescisão de seu contrato por atraso de salários e outros pagamentos devidos. No entanto, está ansioso para se reapresentar com o grupo cruz-maltino no dia 3 de janeiro. E, de volta ao Rio, já sentiu que terá essa mesma torcida ao seu lado. O posto de xodó está mantido, e ele sabe muito bem o porquê.
Na ocasião, o Vasco quitou toda a dívida com Bernardo, mas naquele momento já não havia clima para sua permanência no clube. Emprestado ao Santos, o meia fez um Brasileirão apagado, prejudicado por uma lesão muscular que o deixou no departamento médico por três meses. Por isso, entende que precisa recuperar o futebol e se destacar em 2013. E nada melhor do que fazê-lo no clube onde diz sentir-se melhor.
Em enquete do GLOBOESPORTE.COM, 89% dos torcedores responderam que apoiam a volta de Bernardo, contra 11%. O primeiro termômetro dessa popularidade será neste sábado, quando Bernardo volta a São Januário para disputar o jogo beneficente Futshow da Paz. No entanto, ele sabe que precisa recuperar a confiança do clube que, mesmo mal financeiramente, investiu R$ 3,5 milhões na compra de seus direitos econômicos, firmando um contrato até 2015, e se viu desafiado pela ação judicial movida pelo jogador.
Em entrevista exclusiva já no Rio de Janeiro - onde vai passar os próximos dias para rever amigos e procurar um apartamento para morar -, Bernardo se desculpou por ter ido aos tribunais contra o Vasco, prometeu dar o máximo em cada jogo e garantiu que seu objetivo é, finalmente, tornar-se titular.
GLOBOESPORTE.COM: Que análise faz da passagem pelo Santos?
Bernardo: Foi complicado, porque achava que seria um bom ano num grande clube. Mas infelizmente sofri uma lesão logo no começo do Brasileiro. Atrapalhou muito. É complicado ficar sem confiança onde você não tem identificação. Não é como o Vasco, onde tenho o carinho do torcedor.
Que expectativa guarda para essa volta ao Vasco?
Estou ansioso, esperando que chegue logo o momento da reapresentação, em janeiro. Vou poder rever amigos, companheiros de time e diretoria. Quero que comece logo o Campeonato Carioca para vestir a camisa do Vasco novamente.
Depois do que aconteceu, de que maneira acredita que será sua recepção em São Januário?
Espero ser bem recebido, apesar do episódio difícil. Às vezes a gente age sem pensar. Era um momento em que eu estava precisando. Não era para prejudicar ninguém, principalmente o Vasco, ou desrespeito à torcida. Se eu faltei com respeito à torcida, peço desculpas. Hoje eu posso falar, peço milhões de desculpas pelo que fiz no início do ano, depois do esforço que o Vasco fez para me comprar. Entendo o sentimento que ficou por mim, mas tenho que pensar na minha parte, tenho uma família e coisas a progredir na vida. E por isso optei por fazer daquela forma. Mas agora é pensar para a frente e buscar reconquistar todos de novo.
E em relação ao elenco? Acredita que haverá ambiente em sua volta, já que muitos jogadores reprovaram sua atitude na época?
Quando o Vasco foi jogar contra o Santos na última vez, passei no hotel e o bom ambiente comigo permaneceu. Todo mundo me tratou como se eu ainda estivesse no clube. Espero chegar bem, com força e com vontade para fazer grande ano em 2013.
Apesar de tudo o que aconteceu, a maior parte da torcida mostrou que aprova a sua volta ao Vasco. Por que esse carinho e popularidade?
Sou querido por tudo que fiz ano passado. Pode ser que os torcedores tenham sentido a falta daquele jogador explosivo, que entrava nos jogos e brigava, se dedicava e corria como um doido dando a vida pelo Vasco. Acho que deixei essa imagem. Nos jogos do Vasco que vi depois, a equipe estava bem, estava com elenco legal mas depois perdeu alguns jogos seguidos. Isso não pode acontecer. Não tinha aquela explosão, alguém como eu fazia. Agora quero voltar do mesmo jeito para levantar tudo (risos).
Dessa forma, acredita que ainda não perdeu o status de xodó da torcida do Vasco?
Tenho esse título ainda, isso não muda. Vejo nas redes sociais muitas pessoas fazendo fã-clube, mostrando carinho e pensando no meu bem. Espero que continue assim e seja ainda mais. Quero ser um ídolo, e para isso é preciso correr, se dedicar, fazer gols. Tenho esse pensamento muito positivo para ser um ídolo do Vasco.
Você era considerado o 12º jogador do Vasco. Agora, com o elenco provavelmente enfraquecido, acredita que suas chances de ser titular são maiores?
Neste ano a concorrência pode ser um pouco menor, e se eu trabalhar, me dedicar e mostrar que mereço ser titular, vou agarrar essa chance. Preciso ser titular de um grande clube para não ter mais esse negócio de 12º jogador. Por uma parte isso é legal, mas preciso jogar, ter uma sequência para ir bem. Porque, caso contrário, o jogador fica sem confiança.
Seu retorno acontece no momento em que o Vasco vive uma crise financeira ainda mais grave, comparada à época em que você saiu. Preocupa?
Claro que preciso pensar no lado financeiro e profissional. Mas neste momento o principal é que preciso jogar. Este ano foi horrível para mim. Penso sempre na parte financeira, mas agora quero esquecer um pouco isso. Quero estar tranquilo para entrar em campo e jogar.
Que lição tirou do episódio?
A lição é não cometer o mesmo erro. Fiz algo sem pensar, sei que algumas pessoas vão ficar com o pé atrás, mas podem confiar em mim. Eu entrava nos jogos e quase sempre pude fazer alguma coisa, ajudei o Vasco. Não quero que isso aconteça de novo, porque acaba me prejudicando no clube. Daqui para a frente quero dar só alegria para a torcida.