Edmundo, sobre ser dirigente: 'Todo e qualquer convite do Vasco seria bem-vindo'

Domingo, 09/12/2012 - 06:06

Não foi fácil marcar esta entrevista com Edmundo. Para ser sincero, ele não ia com a cara deste colunista. Problemas do passado que ficaram por lá. Uma das assistentes da coluna teve que ir a uma reunião com ele cerca de duas semanas antes de acontecer a entrevista. Ele queria saber se era uma arapuca. E descobriu que só queríamos conhecer melhor esse cara tão polêmico. E o resultado está aí: uma das mais sinceras e diretas entrevistas que esta modesta coluna já fez.

Você já trabalha como comentarista da Band há três anos e seu contrato vai até 2015. Você montou um escritório com assessores. Foi para criar uma nova imagem?
Comecei muito jovem como atleta e tive uma ascensão muito rápida. Não estava preparado para as coisas que iam acontecer. Hoje, futebol é muito mais marketing. Na minha época, era só futebol. Eu já estava na Seleção Brasileira e ia treinar de ônibus. Hoje, o jogador nem é profissional e já tem carro, tem casa...

Você pensou duas vezes quando surgiu a proposta para ser comentarista?
A princípio, a remuneração era muito baixa em relação ao que eu ganhava na época. Mas a RedeTV! estava em ascensão e não tinha comentaristas. E decidi seguir o conselho de amigos e me preparar, estudar e fazer disso profissão.

Você fez aulas?
Fiz fonoaudiologia e aulas de interpretação em vídeo. Coisas que eu pretendo retomar. Eu fiquei na RedeTV! oito meses, mas toda a diretoria da emissora foi para a Band e me levou.

Aí seu salário melhorou?
Sim, hoje dá para viver como comentarista.

Em quem você se espelha como comentarista?
Gosto muito do Paulo César Vasconcellos (Sportv) e admiro o Casagrande (Globo). Acho que o comentarista que foi atleta leva vantagem na parte técnica, porque viveu aquilo ali.

E como é a sua rotina de trabalho?
Eu faço os jogos de quarta e domingo, e principalmente os jogos aqui do Rio, do Vasco e do Palmeiras, time que eu também tenho afinidade. Os torcedores querem geralmente saber a opinião de quem conhece bem o clube.

Você parou de jogar na hora certa?
Acho que não. Meu último jogo pelo Vasco foi quando o time foi rebaixado para a segunda divisão.

Esta semana a nova diretoria do Vasco tomou posse. Já te convidaram para fazer parte do clube como dirigente?
Convite, nunca. Especulação, sempre.

Mas você iria?
Todo e qualquer convite do Vasco seria bem-vindo.

Você seria treinador?
Não. A rotina de treinador é muito estressante e eu não estou preparado.

Você não acha que se fosse treinador você poderia arriscar o seu legado na história do clube?
Pode ser. Mas eu quero fazer algo pelo clube que me deu tudo. Para mim, a gratidão é a mãe das virtudes.

Pensou em ser político?
Já houve convites, mas não despertou meu interesse.

Você votou no Romário?
Não.

Por quê?
Porque tinha um amigão concorrendo à eleição.

Mas você e o Romário se dão bem?
Acho que ele foi uma grata surpresa como político. Nós tínhamos uma amizade forte, mas nos afastamos.

Por quê?
Eu era fã do Romário. Ele me abraçou como pupilo, mas de uma hora para outra nós passamos a disputar vaga na Seleção Brasileira, artilharia de campeonato, ele no Flamengo eu no Vasco...Nós já brigamos muito pelos jornais, mas nunca pessoalmente. Eu era um moleque, ele tinha seis anos a mais que eu e ele me manipulava. Mas hoje ele cresceu como ser humano. Aliás, uma das propostas que eu recebi para ser político foi para vir numa dobradinha com o Romário. Ele viria como federal e eu como estadual em 2006.

O apelido Animal te incomoda?
Depende (risos). Depende da conotação. Essa coisa do Animal começou lá em São Paulo, porque o Osmar Santos (locutor) me elegeu diversas vezes o "animal" em campo. Mas depois aconteceram alguns incidentes (acidente no qual ele se envolveu em outubro de 1999, em que cinco pessoas morreram) que tornaram esse apelido dúbio.

E a sua relação com a imprensa? Você se arrepende de algo?
De muita coisa. O problema é que os jornalistas setoristas do Vasco eu considerava como meus amigos. E, quando eles falavam mal de mim, eu não aceitava, tratava eles mal, virava a cara. Eu achava que a nossa relação era pessoal, não profissional.

E por que hoje em dia não tem um jogador tão polêmico como você era?
Foram os próprios jornalistas que acabaram com os jogadores autênticos.

Você não acha que, na verdade, eles estão blindados por assessores de imprensa?
Foram criados benefícios, treinamento sobre como lidar com a imprensa, que podem ter ajudado. Na minha época, eu tinha que me policiar e ver onde eu iria acabar o jogo. Se o juiz apitasse e eu estivesse perto da imprensa, eu falava tudo. Hoje eles dão entrevista no backdrop, de banho tomado, depois de ouvir muitos conselhos.

E você quase virou um bad boy naquela época?
Você trabalha com isso e sabe que as pessoas vão ganhando rótulos. Eu ganhei um rótulo negativo e isso me atrapalhou muito.

Mas hoje você é cercado de assessores?
Mas hoje é necessário um mínimo de aparato para não ser detonado.

Quem seria, hoje em dia, o novo Edmundo?
Tem um garoto do Vasco, que está no Santos, chamado Bernardo, que tem um comportamento intempestivo mas que não teve a mesma ascensão que eu tive. Em termos de rapidez em ascender, só dá para me comparar com o Neymar. Eu estreei em janeiro, em abril eu já estava na seleção. E nunca fiquei no banco. O Neymar é mais carismático do que eu fui. E ele ocupou a lacuna do Ronaldo.

E as festinhas dos jogadores continuam as mesmas em relação à sua época?
Existe um mito em relação a esse assunto. Eu convivi e convivo em todos os meios e as festas dos jogadores não são nada diferentes das demais festas. Tem meia dúzia de jogadores que vai para a igreja, outra meia dúzia que é maridão fiel e a rotina é trabalho/casa e tem a galera que gosta da noite.

E você pertencia a qual galera?
A todas... Mas uma coisa é preciso ressaltar: a pressão que existe em cima dos jogadores. Se um deles bocejar no treino vai pro jornal no dia seguinte. Um dia eu fui dar uma entrevista com a barba por fazer e já disseram que eu estava vindo da noitada. Mas muitos jogadores abrem mão da vida pessoal em nome da carreira.

Não foi o seu caso...
Eu fui casado quase o tempo todo com a Adriana (Sorrentino).Mas se eu saísse uma vez já ia para as manchetes dos jornais. Para você ter uma ideia, eu não bebia. Só passei a beber porque o preparador físico disse que era melhor que refrigerante.

E como você analisa o Adriano?
Ele é uma pessoa queridíssima, com um coração maravilhoso. É um grande desperdício! Era para estar na seleção, mas a morte do pai o abalou muito. Mas ele tem que saber o que quer. Não adianta ficar na noite e não conseguir treinar no dia seguinte.

É preciso saber parar?
Eu conversei com Adriano poucas vezes e ele deixou claro que parou. Ele foi contratado pelo Flamengo por questões políticas. A Patrícia (Amorim), perto das eleições para vereador, decidiu contratá-lo. Mas não soube cuidar.

Você é sócio da casa de shows Barra Music?
Sou sócio investidor, tenho 15%. Eu tinha entrado em vários negócios antes que não deram certo. Esse deu.

A ideia daquele camarote com vidro fumê onde não é possível ver o que acontece dentro foi sua?
Não. Mas eu já fui vítima de um fotógrafo que vendeu para sua coluna do outro jornal.

Hoje você está casado?
Estou com a Clarissa (Ivalski) há cinco anos.

Você não usa aliança?
Aliança me incomoda. Já perdi muitas por causa dos treinos e nós não somos de fato casados. Ela usa aliança, eu dei de presente para ela quando ela engravidou.

Mas você se sente um homem casado?
Sim, e hoje eu sou um melhor marido do que eu fui para a Adriana.

E qual a sua relação com o Alexandre Mortágua?
Cara, é uma relação, como eu vou explicar? Eu adoro o Alexandre.

Ela existe?
Existe, é pequena mas ela existe. Em função da Cristina (mãe de Alexandre), a gente ficou um pouco distante. Hoje ele é um homem, rebelde, por conta da idade.

Você acha que essa rebeldia vem do seu DNA?
Pode ser uma mistura, né, porque a mãe dele também não é fácil. Acho que sim, acho que os filhos têm muito dos pais. A gente ficou distante até por conta da sexualidade dele, que todo mundo diz mas ele nunca falou comigo.

Mas precisa falar?
Precisa. No mundo de hoje, as coisas são tão abertas, a gente vê na TV... Esse assunto não me incomoda em nada.

Você não concorda que é uma ironia do destino colocar um filho gay na história de Edmundo, um cara megamulherengo?
Cara, eu vejo casos em outras famílias, mas ele nunca falou nada comigo. Não consigo falar sobre isso com ele. Mas pelos trejeitos... Até que prove o contrário, é meu filho Alexandre e ponto!

É muita pressão em cima dele, né?
Ele é um menino que ganhou independência muito cedo.

Financeiramente?
Não, ele tinha que se virar sozinho.

Porque a mãe não dava conta do recado?
Isso é você quem está dizendo! Eu tenho um medo dela danado!

Você jura?
Claro, ela se aproveita de uma vírgula para aparecer ou para processar.

Mas você paga a pensão em dia? E quanto é?
Claro que pago, se não eu estava em cana. São R$ 18.660!

Mas como é sua relação com a Cristina Mortágua?
Nenhuma, nada, nada!

Foi o que, então?
Conheci ela no Banana..

O que é isso, Banana?
Uma casa do Zé Victor Oliva (empresário) em São Paulo. Saímos de lá juntos.

O que ela fala é viagem da cabeça dela?
Sobre você, sobre mim. Ela namorava um cara lá do Clube das Mulheres quando me conheceu, foi uma traição, enfim.. E ela me jurou de pés juntos que ninguém iria saber que esse filho é meu, que ela não ia me atrapalhar. Eu acreditei nisso. Soube que iria ser pai pela imprensa.

Você acompanha as crises dela pelo Twitter?
Ela manda mensagem para mim a cada dez minutos. Ontem ela mandou! Eu não falo com ela, eu não atendo, quando eu ouço a voz dela eu desligo. Ela não me incomoda.

E aquela história de que você teria dito no Camarote da Brahma que "comeu muito gay"?
Eu não me lembro de ter dito isso. Só sei que eu não quero ir mais ao Camarote da Brahma.

Para finalizar, eu queria que você desse notas para você como pai, como comentarista, marido e homem.
Comentarista: 7,5. Marido: 7. Pai: 10 e Homem: a melhor nota de todas: 10.



Fonte: Coluna Leo Dias - O Dia