Ninguém parece ter se adaptado tão bem à era dos pontos corridos, que hoje encerra sua primeira década, quanto paulistas e cariocas.
Em dez edições, apenas a primeira, em 2003, ficou nas mãos de um time de fora do eixo -o Cruzeiro de Luxemburgo. Ironicamente, quando a fórmula era discutida dez anos atrás, somente clubes de São Paulo e do Rio foram contrários ao formato.
Dos oito grandes, somente o São Paulo à época foi favorável à adoção do sistema. A campanha impecável na primeira fase do Brasileiro de 2002, somado à derrota para o Santos nas quartas de final, acendeu toda a discussão.
O Clube dos 13 iniciou a reforma, contrariou a Globo, que defendia o mata-mata, e aprovou os pontos corridos. O principal argumento de quem era contra era o público. Sem decisões, diziam, a média iria despencar.
Na verdade, ela subiu discretamente. Segundo o Datafolha, entre 1992 e 2002, a média de pagantes do Nacional foi de 12.271. Já nas edições de 2003 a 2012 -ainda sem contar a rodada de hoje-, a média aumentou para 13.399.
Se o avanço do público foi discreto, não se pode falar o mesmo do dinheiro. À época, a Folha noticiava que a Globo pagou R$ 136 milhões ao Clube dos 13 pelos direitos do Brasileiro de 2002. O SBT oferecia até R$ 200 milhões.
Em 2012, após uma revolução que praticamente dissolveu o Clube dos 13, os times passaram a negociar diretamente com a emissora. O valor pago aos clubes na atual edição bate R$ 1 bilhão. Apenas Corinthians e Flamengo, juntos, receberam R$ 200 milhões pelo atual Nacional.
Se era contrária à fórmula na época, agora a Globo aceita o formato e contabiliza os lucros. Um dos principais motivos é a capitalização em cima do pay-per-view. No mata-mata, os pacotes resumiam-se à primeira fase e aos clubes que se classificavam. Agora, todos os clubes fazem o mesmo número de jogos.
"Não mudei em nada minha visão em relação ao que eu pensava quando fui presidente. Não é o formato de disputa ideal. Acho que no campeonato de pontos corridos corre o risco de acontecer como neste ano, que seis rodadas antes já se sabe quem vai ser o campeão", disse Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco, um dois principais defensores do mata-mata.
Em dez anos da nova fórmula, o campeão foi conhecido na última rodada em seis edições. Por outro lado, há campeonatos em que a última rodada já não vale praticamente nada -hoje, por exemplo, campeão e G4 estão definidos. Está em jogo apenas a definição do último rebaixado à Série B.
A partir de 2013, times de outros Estados tentam quebrar a hegemonia de paulistas e cariocas, que polarizam até a prancheta: oito dos dez treinadores campeões nasceram no Rio ou em São Paulo.
Fonte: Folha de São Paulo