Supervisor e gandula contam bastidores do trabalho em São Januário

Segunda-feira, 26/11/2012 - 12:20

Gandula, perto do espetáculo, longe de ser foco

Eles na maioria das vezes são esquecidos por nós, apaixonados por futebol. Sempre ligados na partida, eles ajudam a manter a agilidade do jogo, fazendo com que a bola volte rapidamente para dentro das quatro linhas quando ela insiste em sair. Podem ajudar a decidir o resultado de uma partida, dependendo da forma como trabalham. Afinal, quem não se lembra da gandula do Botafogo e sua reposição relâmpago, que foi com certeza o primeiro passo para o gol do clube alvinegro contra o Vasco, time que deu origem a esse tão importante participante dos jogos de futebol: o gandula.

O termo gandula surgiu em 1939, em homenagem a Bernardo Gandulla, atacante argentino contratado pelo Vasco. Não adaptado ao futebol, ele buscou ajudar nas partidas de outra forma: buscando as bolas que saiam do gramado. E o nome de gandula permanece até hoje e com a mesma função.

O supervisor de gandulas do Club de Regatas Vasco da Gama, Professor Temi Buarque, que trabalha no clube desde 1978, responde algumas perguntas sobre a profissão. Confira:

Como é a preparação dos gandulas e como são selecionados? Existe alguma preparação física?
“Primeiramente, a pessoa, para fazer parte dos gandulas, tem que ser vascaíno (a). Depois fazemos uma preleção 30 minutos antes dos jogos. Em uma conversa, passamos que o gandula deve jogar junto com o time, e são orientados para trabalhar de forma que não passe para a arbitragem que estão favorecendo o Vasco, e os gandulas do Vasco tem habilidade nisso. Por exemplo, quando o Vasco estar perdendo e o goleiro adversário esta fazendo cera , o gandula é orientado pular a placa e dar um tapa na bola pra dentro da pequena área pra adiantar o jogo. Quando a preparação física, não existe nenhuma preparação. Para ser cadastrada, a pessoa precisa ter entre 18 e 35 anos e já ter um porte físico adequado, pois gandulas tem muito desgaste físico. Esse ano abrimos vagas para moças gandularem e elas ficam sempre atrás do gol.”

Os gandulas recebem algum tipo de remuneração?
“Sim, recebem 40,00 reais por partida.”

São quantos gandulas por jogo? Existe um número máximo ou é opcional?
“Se o jogo for da Sulamericana ou da Libertadores, são 10 gandulas, ficando 3 em cada lateral e 2 atrás do gol. Se for um jogo em que o resultado não é tão importante, ai são 8, 2 em cada setor. Os gandulas que ficam atrás do gol também são responsáveis por recolher as bandeirinhas de escanteio no final da partida.”

Existe muita procura por parte dos torcedores para trabalhar como gandula?
Sim, muita. No Vasco, tenho 113 pessoas cadastradas.

Qualquer pessoa pode ser gandula? O que uma pessoa que quer se tornar gandula precisa fazer?
“Não, não é qualquer pessoa. A maioria das pessoas entra em contato comigo nos jogos ou então os próprios gandulas as apresentam para mim.”

Gandulas do Vasco



Entrevistamos também a Danielle Torres, de 23 anos, gandula do Vasco da Gama há 4 meses. Estudante de Nutrição, Danielle nasceu em Petrópolis e foi criada em Xerém. Filha de tricolor, ela já nasceu predestinada a ser vascaína, pois seu amor pelo Gigante da Colina não foi influenciado por ninguém, ou melhor, ninguém além de Pedrinho, Juninho e Edmundo. Seu avô é que a presenteava com objetos do Vasco. Casada com um vascaíno (que conheceu em São Januário, em dia de estádio lotado), a festa foi toda vascaína, com direito a bandeiras, doces e bem casados do time. Apaixonada pela linda história do seu clube amado, sempre cita com muito orgulho: ‘’Que honra ser, saiba eu sou vascaína, muito prazer. Jamais terás a Cruz este é o meu batismo!”

O que te levou a querer ser gandula? Qual é a "graça" da profissão?
"A sensação de estar ainda mais próxima do seu time do coração. De poder 'jogar' com eles. O prazer de estar ajudando ainda mais de alguma forma."

É fácil ser gandula? O que é mais difícil?
"Não é um bicho de sete cabeças, porém é uma responsabilidade grande. É só ficar ligada no jogo! O mais difícil é se conter como torcedor (risos). A vontade de torcer, gritar, vibrar é ainda maior dentro de campo, mas temos que manter a postura!"

Não dá pra comemorar nem em caso de gol?
"Podemos comemorar sim, mas não como a arquibancada comemora! Dá pra dar um sorriso, esboçar alegria. Mas não podemos pular, gritar ou coisas desse tipo, que chamem atenção."

E como você faz pra controlar a euforia nos gols, a alegria?
"É difícil! Mas eu foco no jogador, na comemoração! O sorriso é incontrolável, mas dá pra se sentir feliz, vendo a comemoração deles! Acho mais difícil controlar o desespero do gol que não sai!"

E o trabalho do gandula. Tem alguma outra função além de repor as bolas?
"O trabalho em si é esse. Cada posição tem as suas ordens (gandular na lateral é diferente de gandular atrás dos gols), devemos 'dar conta' das bolas antes e após o jogo, assim como das bandeiras de escanteio. É basicamente isso!"

Teoricamente vocês não podem ter contato com os jogadores, na prática funciona ou tem como dar uma "escapadinha" da regra e ter algum contato com os jogadores?
"Nós não podemos assediar pedir camisa e tira foto. Mas não somos proibidos de falar com eles. Os jogadores mesmo cumprimentam a gente. Alguns nos reconhecem, brincam. Dá pra ter um contato, com moderação."

Se fizer uma reposição errada, o que acontece?
"Com relação à partida, podemos ser advertidos pelo arbitro ou auxiliares. No Clube, podemos levar suspensão de jogos, ou ate sermos afastados da função."

O que, por exemplo, poderia causar um "problema" com o STJD que pudesse resultar em alguma punição?
"Geralmente quando há reposição de bola rápida somente para o time mandante, ou quando fazemos ''cera''. Mas primeiramente o arbitro adverte o gandula, que é orientado pelo coordenador a trocar de posição com outro, somente se ainda assim o gandula descumprir alguma ordem, poder ser chamado ao STJD."

E sobre a valorização dessa profissão. Você acha que os gandulas são pouco valorizados?
"Bem, lá no Vasco não! Somos tratados bem e valorizados lá dentro, se disponham a ouvir nossas idéias, realizar reuniões. O Vasco ajuda na valorização da profissão, nos dando todo apoio e ajuda necessária. Acho que fora de lá, a profissão também está crescendo, mostrando sua importância! Nós já podemos até ser julgados no STJD, isso é um progresso (risos)!"

Você consegue imaginar um jogo sem gandulas?
"Conseguir, eu consigo. Pois alguns jogos de base não tem gandulas, porém com certeza prejudicaria o jogo em si. Tanto para os jogadores, e até para o árbitro. Não teríamos reposição de bola rápida, que prejudicaria no tempo final do jogo. Os jogadores se cansariam mais, na tentativa de repor a bola mais rapidamente. As vezes uma reposição de bola bem feita, pode decidir uma jogada."

Que dica você dá pra quem quer se tornar gandula?
"Primeiramente, que a pessoa tenha vontade de estar ali, pois é um trabalho importante dentro do jogo. Faça com carinho, dedicação. Sempre com o intuito de ajudar o Clube (justamente por isso o primeiro dever do gandula é ser torcedor do Vasco). A pessoa deve ter entendimento das regras futebolísticas e ter um bom condicionamento físico, fora isso, é só ter boa vontade e querer mesmo!"

Danielle e Prof. Temi, supervisor dos gandulas


Saudações Vascaínas,
Laís Eger
@laiseger

Fonte: Blog Laís Eger