Sorato teve uma carreira agitada como jogador, num vai e vem que lhe rendeu 23 clubes no currículo. Mas carregou sempre o jeito introvertido e tranquilo. E é com esse perfil que atua em sua nova função, como treinador de juniores do Vasco: nada de gritos em excesso, gestos agressivos ou inquietação. Foi assim também durante a derrota por 1 a 0 para o Atlético-MG, resultado nessa quarta-feira que valeu a eliminação nas quartas de final da Copa do Brasil Sub-20.
A mão esquerda passa praticamente o tempo inteiro no queixo, demonstrando concentração nos lances. Quando não está erguida, para na cintura, enquanto os olhos observam o jogo. Sorato não senta no banco de reservas: assiste à partida inteira de pé, no limite da área técnica de São Januário. Às vezes, vira-se para comentar algum lance com seus auxiliares. O silêncio é, na maioria das vezes, interrompido por um "boa!" seguido de palmas - sua forma de elogiar alguma jogada dos comandados.
- Acho que temos que ter as atitudes nos momentos em que são necessárias. A gente vê o time indo para cima, até dominando o jogo, então não tem muito o que falar - justifica-se o treinador.
A identificação entre Sorato e o Vasco é antiga. Revelado nas categorias de base, o atacante teve uma estreia gloriosa nos profissionais, com dois gols sobre o grande rival Flamengo, em 1988. No ano seguinte, um dos maiores brilhos da carreira: o gol do título brasileiro, sobre o São Paulo, no Morumbi. Deixou São Januário para passar por Palmeiras, Botafogo, Fluminense e outros clubes - até se aposentar e retornar ao Vasco em uma nova aposta.
Sorato está há pouco mais de dois meses no cargo e acumula eliminações no Torneio Otávio Pinto Guimarães (ficando em quinto lugar) e agora na Copa do Brasil Sub-20. Por outro lado, viu alguns de seus comandados - Marlone, Jhon Cley e Romário - serem aproveitados na equipe principal de maneira mais constante.
Antes do jogo, o ex-atacante garante que não há uma preleção teatral. Procura apenas chamar a atenção para o que foi treinado durante a semana e diz que não é preciso falar muito para motivar os atletas. Depois de perder por 1 a 0 na partida de ida, o Vasco precisaria ir para cima com o caminho mostrado por Sorato.
- Eles têm a marcação forte com os volantes, e a gente tem que explorar as laterais do campo - diz.
O olhar para o relógio é constante. Mas a tranquilidade é demonstrada até na hora da reclamação. Quando a torcida - que teve portões abertos para o jogo - protesta de um pênalti na metade do primeiro tempo, Sorato concorda. Mas sem gritos ou xingamentos: abre os braços, olha de cara feia para o árbitro e mantém o silêncio.
O adversário abre o placar pouco depois. O ex-jogador mantém a mão no queixo e observa o jogo, passando informações quase sempre para Marquinho, que atua pelo lado direito de ataque, mais perto de sua área técnica. Na volta do intervalo, é o primeiro a chegar ao banco de reservas, carregando uma prancheta.
- É apenas um campo magnético, onde marco o posicionamento do adversário, o nosso posicionamento. Não tem nada de extraordinário.
O Vasco tenta chegar ao empate seguindo as orientações de Sorato, sempre pelas laterais. As substituições vão acontecendo. Aos poucos, alguns torcedores começam a dar pitacos sobre quem deve sair ou entrar. E chamam Sorato pelo nome.
- Estou contente com essa minha função. O jogador pensa individualmente, em estar bem para jogar. E o treinador pensa no todo. Essa é uma diferença que eu vejo. E com certeza ser treinador é uma situação mais difícil. Mas é algo prazeroso e empolgante de se fazer - avalia.
O jogo termina com a vitória do Atlético-MG. Sorato mantém a tranquilidade de antes do jogo e faz um balanço da participação do Vasco na Copa do Brasil Sub-20.
- O saldo, acho, é positivo. Estou há 70 dias como treinador nos juniores, está muito no início do trabalho. É natural que haja uma oscilação, mas estou bastante otimista com a evolução desses garotos até agora. Uma competição desse nível é muito importante para esses garotos mais jovens ganharem experiência, para realmente começar uma adaptação a uma pressão maior.
Não há brecha para uma superstição no novo cargo. Quando é perguntado se tem algum ritual antes da partida, Sorato responde com um sorriso no rosto.
Fonte: GloboEsporte.com