De um contato que nasceu inusitado, no departamento médico de São Januário, mês passado, Romário e Tenorio estreitaram uma amizade que promete ser duradoura no futebol. Na condição de fã e ídolo, os dois atacantes já mostram intimidade e muito carinho, ainda mais neste momento de afirmação do garoto, que marcou o primeiro gol pelos profissionais logo na estreia como titular, sábado, diante do Coritiba. Curiosamente, a vaga no time surgiu 24 horas antes de a bola rolar, com o veto ao equatoriano, com dores na região do quadril.
Se tinha alguma dúvida de que o Demolidor seria seu mentor no princípio da carreira, o camisa 41, com nome de artilheiro, já trata a relação como uma mensagem divina. A convite do GLOBOESPORTE.COM, ambos fizeram um passeio na Quinta da Boa Vista, no bairro de São Cristóvão, a dois quilômetros do estádio cruz-maltino, e se divertiram na base da zoação.
- Para ver como eu gosto de você: vou pedir demissão do Vasco para você poder continuar jogando - avisou Tenorio, em seu tom sarcástico, arrancando gargalhadas de Romário.
O aprendiz, por sua vez, planeja nova homenagem. Chamado de Demolidorzinho na base, já tem jogado com a gola da camisa erguida, no estilo de seu mestre, e agora quer entrar em campo com uma chuteira personalizada com o apelido para enfrentar o Atlético-MG, nesta quarta-feira, em casa, pela segunda partida das quartas de final da Copa do Brasil sub-20.
Antes de viver esta fase na temporada, no entanto, Romário confessa que conhecia pouco sobre Tenorio, que foi à Copa do Mundo de 2006 por sua seleção, mas atuou muito tempo no longínquo Qatar. Desde a sua contratação, em fevereiro, o videogame passou a ser a forma de expressar sua admiração até poder dividir espaço com ele.
- Eu me espelho na raça, na confiança e no profissionalismo dele. É um cara que está sempre disposto a ajudar, é muito dedicado e é um atacante completo também, que marca gols e ajuda a equipe atrás. Não deixou cair quando se lesionou. Quero seguir esse caminho de sucesso e títulos. No videogame, eu escalo o Tenorio direto (risos). Às vezes não sai gol, mas quando é jogo do Vasco, somos eu e ele na frente, torcendo para acontecer um dia no campo - revelou.
O jeito brincalhão do experiente atacante, 13 anos mais velho do que a promessa, só é deixado de lado quando o assunto vira coisa séria. Adorado pelos torcedores da LDU desde que apareceu, aos 21 anos, o Demolidor legítimo tem a receita para não se deslumbrar com a fama e não se abater quando tudo dá errado. Por isso, comemora o espaço dos jovens.
- O futuro do Vasco não sou eu, ou Juninho e Felipe, o futuro é ele e esses garotos que estão subindo. O futebol é assim, dinâmico demais. A situação infelizmente não é boa, mas pelo menos serviu para dar chance a eles. Tomara que o clube nunca vire as costas para ele, e o Romário siga confiando muito em si para dar certo. Não pode esperar que façam por você. Atitude e disciplina são fundamentais. Quando vai bem, não é o melhor do mundo. Assim como quando vai mal, não é pior jogador. Lute pelo que quer e será recompensado - ensina Tenorio, olhando para o pupilo, que consente a cada orientação.
Dificuldades na vida pessoal
Ambos são pais de dois filhos, o que, para Romário, não foi uma transição fácil. Ele chegou a parar de jogar aos 17 anos para cuidar da família, mas retornou e, em menos de um ano, saiu do Goytacaz para o Americano e, depois, para o Vasco. Os conselhos se estendem para esta área, assim como os elogios e a admiração mútua pela batalha diária para sustentar a família.
- É um cara que enfrentou essa situação de frente. Sabe que errou, mas nunca deu às costas para a responsabilidade. Fiquei muito feliz nesse jogo em que le marcou gol, porque merece. Poderia ter forçado a minha condição física, mas era a hora de ele ter a chance e acabou rendendo mais do que eu poderia. A vida pessoal dele está se resolvendo. É o motivo a mais que Romário sabe que tem para lutar por cada bola. Hoje, ter sucesso pelos filhos é a razão de tudo - acredita o camisa 11.
Os próximos passos ainda são incertos. Após reforçar os juniores ao lado de Jhon Cley e Marlone, o jovem centroavante deve ficar no banco contra o Flamengo, no sábado. E espera que em 2013 possa levar para o campo a parceria com Tenorio, que ainda não escalada pelos técnicos que passaram pela Colina.
- Muita gente não acreditou no meu potencial, mas botamos a cara e vencemos (o Coritiba). Preciso ter paciência e trabalhar cada vez mais para que no Carioca eu seja mantido no grupo.
Na despedida, mais uma "pilha" do Demolidor:
- Aí, essa matéria é para você guardar debaixo do colchão! E se não tiver outra depois? Quando dei a primeira entrevista importante e apareci na TV, vibrei e nunca mais perdi a fita.
Fonte: GloboEsporte.com