São quase oito da noite e Paulinho da Viola passou a tarde dando entrevistas, pessoalmente e por telefone. É a última do dia e ele está visivelmente cansado. Ainda assim, recebe a repórter com um sorriso. O motivo da maratona vem sendo falado ao longo do ano: hoje, dia 12 de novembro, o artista, um dos grandes nomes da música brasileira, comemora 70 anos. A data vai ser celebrada com três eventos: um show gratuito no Parque Madureira, no próximo sábado, com participação da Velha Guarda da Portela, sua escola; a primeira apresentação de Paulinho no lendário Carneggie Hall, em Nova York, dia 28,e outra no Teatro Coliseo, de Buenos Aires, dia 11 de dezembro. Além disso, ele inicia turnê nacional em março do ano que vem.
“Espero que dê tudo certo, aquela apreensão que eu sempre tive nesses anos todos: como é que vai ficar, como é que o público vai receber, como é que eu estou”, explica Paulinho, modesto. O show em Madureira foi um pedido dele. “Já fiz muitos espetáculos abertos ao público, mas lá tem muito a ver com a minha história”.
Perguntado sobre o que seria um presente para a data, ele reflete sobre as boas surpresas de sua vida, mas acaba lembrando de um desejo: ter seu Karmann Ghia conversível reformado.“ Sempre achei esse carro muito bonito. Uma vez vi um anúncio no jornal e comprei. Cheguei a andar com ele, mas guardei, para restaurar um dia. Depois, descobri que ele é raro: do modelo conversível só foram feitos 176 carros. Recentemente, uma pessoa me propôs reformá-lo em troca de uma entrevista e outras coisas. Está encaminhado, mas ainda não ficou pronto”, revela.
Assim como ele, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e até Jorge Ben Jor (que não revela a idade) completaram 70 anos em2012. “Os festivais dos anos 1960 foi muito importantes para o aparecimento da gente. Foi um período em que a televisão começava a se fazer mais presente nas casas das pessoas”, reflete Paulinho. Outro ponto em comum entre os artistas citados (além de Roberto e Erasmo Carlos, um ano mais velhos que essa turma) foi o impacto de João Gilberto em suas músicas. “Tive influência até da forma de tocar dele. Claro que não toco igual a ele, nenhum de nós, que viemos depois. Seu jeito é único,nós somos só influenciados”, diz.
O garoto que começou a tocar violão aos 12 anos por causa do pai, César Faria, violonista do grupo de choro Época de Ouro, conta que teve certeza de que iria seguir carreira na música em 1970, como sucesso do samba‘ Foi um Rio que Passou em Minha Vida’. “Desde 1964, eu tinha músicas gravadas por outros, samba enredo na Portela, mas não sabia se ia continuar naquilo. ‘Foi um Rio que Passou em Minha Vida’ foi um sucesso nacional. Você não tem ideia como era, as pessoas cantando um Samba daquele tamanho na rua. Comecei a receber convites para shows e não estava preparado. Foi então que formei um grupo”, lembra.
Ainda em comemoração aos 70 anos do artista, em 2013 a EMI lança uma caixa com 11 CDs de Paulinho, trabalho feito com curadoria do jornalista Vagner Fernandes, criador do bloco Timoneiros, uma homenagem ao sambista. Disco novo, por enquanto, está fora dos planos de Paulinho da Viola. “Hoje, todo mundo baixa tudo da Internet. Eu até tenho músicas que não foram gravadas ainda, mas não tenho vontade de fazer um disco agora”, diz. “Tenho duas temporadas de shows gravadas no Teatro Fecap, em São Paulo. É um material que eu gosto muito, isso pode virar um registro”, conta ele.
Quarenta e cinco minutos depois do início da entrevista, a voz sempre mansa, nenhum sinal de impaciência, Paulinho só para de falar quando é interrompido pela segunda vez com o pedido de que a entrevistas e encerre. A repórter ainda arrisca uma última pergunta: você é tão tranquilo, existe alguma coisa que o tire do sério? “Ah, muitas coisas”, ele ri.“Uma delas é a defesa do Vasco, quando o Dedé não joga”.
Fonte: O Dia