Na última quarta-feira, o governo de Cuba anunciou uma reforma na legislação migratória do país que entrará em vigor em janeiro de 2013, eliminando a exigência da obtenção do visto de saída e liberando os cubanos para ficarem no exterior por até dois anos. No entanto, os atletas e outros cidadãos considerados estratégicos para o processo de desenvolvimento da ilha estão na lista de exceções da nova lei.
Na opinião de Evandro Menezes, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Doutor em Direito Internacional pela USP, a reforma da legislação é contraditória.
- Isso já indica uma espécie de barreira econômica para saída do país. Então você tem uma situação, talvez, relativamente esquizofrênica, de querer abrir para o mundo e ao mesmo tempo restabelecer algumas restrições para alguns indivíduos que teriam até mais condições de viajar. E até seria mais desejável que eles estabelecessem uma interação maior com outros países - disse ao "SporTV News"
A reforma também vai regularizar as visitas daqueles que saíram do país ilegalmente, incluindo os que abandonaram Cuba nos anos 90. De acordo com a embaixada cubana no Brasil, 11 mil atletas abandonaram a ilha para trabalhar em outros países entre 1995 e 2005.
Naturalizado brasileiro desde 2001, o remador do Vasco Alexis Mestre veio fazer um intercâmbio no Espírito Santo, em 1998, e não votou mais ao seu país.
- Quando você fica um tempo fora, vê como o capitalismo é bom... por isso decidi ficar - explica.
Como três anos antes havia assinado um contrato que estabelecia um vínculo de 10 anos com Cuba, ele foi proibido de competir por 4 anos. O atleta entrou em depressão, engordou 20 kg e só voltou a remar no início de 2006.
Ao contrário de Alexis, as jogadoras de vôlei Ramirez e Herrera, campeãs em 1997 pela seleção cubana, esperaram uma permissão para jogar fora do país. Atualmente atuando pelo Praia Clube, Herrera vê a nova legislação com mais otimismo do que a conterrânea do Campinas.
- Eu fiquei seis meses esperando a permissão, agora posso entrar e sair do país a qualquer hora, a reforma não faz diferença para mim. E se eu ainda estivesse em Cuba, também não faria diferença - analisa Ramirez.
- Pouco a pouco, Cuba vai abrindo e melhorando para que todos possam sair e jogar profissionalmente - diz Herrera.
Para o remador, a não inclusão dos atletas na reforma da lei continuará a estimular os esportistas a deixarem a ilha.
- Com essa restrição, muitos atletas continuarão a deixar Cuba e ficar em outro país, não vai ter como segurar - opina.