Em meio à crise do Vasco, o presidente Roberto Dinamite quebrou o silêncio que durava 35 dias na última terça-feira. Pressionado pelos problemas, o mandatário concedeu entrevista coletiva em São Januário para reafirmar posições e tentar diminuir os danos pelo momento político conturbado. O encontro com os jornalistas foi repleto de curiosidades desde a chegada, que contou com intensa fiscalização dos seguranças na portaria do clube. Antes de abrir para as perguntas, o dirigente fez um longo discurso, enquanto o vice-presidente Antônio Peralta se irritava ao receber seguidas ligações em seu celular.
Marcada para as 14h30, a entrevista começou às 15h. Cartolas e conselheiros estiveram presentes em um evento com “esquema de guerra”. Além de duas viaturas da Polícia Militar na entrada principal da Colina histórica, a segurança foi reforçada juntamente com a fiscalização. Apenas os sócios tiveram acesso ao clube. Os jornalistas precisaram apresentar os crachás para o porteiro e vigilante de plantão. Tal procedimento não é comum no dia a dia do Cruzmaltino, que costuma abrir suas dependências para as visitas de torcedores não-associados.
Com o esquema de segurança e organização funcionando, Roberto Dinamite chegou vestindo um elegante terno e tênis esportivo. Acompanhado dos seus pares e mostrando que a diretoria continua de pé após as saídas dos vice-presidentes José Hamilton Mandarino, Nelson Rocha e Fred Lopes, o mandatário discursou por meia hora antes dos 50 minutos de perguntas e respostas. Dinamite abordou basicamente as insatisfações com o noticiário envolvendo a crise política, o papel de Eurico Miranda - presidente do Conselho dos Beneméritos - na administração, além do principal tema: a saída de jogadores na janela de transferências do meio do ano.
Para críticos e torcedores, as vendas de Allan, Diego Souza, Fagner e Romulo foram fundamentais para a queda de rendimento do time no Campeonato Brasileiro, já que não houve reposição à altura. Além do prejuízo técnico, o Cruzmaltino tenta receber via Fifa o montante equivalente ao processo de saída do ex-camisa 10 para o Al-Ittihad, da Arábia Saudita. A entidade máxima do futebol mundial dará a resposta no próximo dia 8 de novembro. A única certeza é a de que o Vasco só teve problemas com as transferências.
“Investimos os recursos da venda dos jogadores para pagamentos diários que o Vasco possui, mas algumas coisas precisam ser resolvidas. No aspecto técnico, as saídas foram ruins. No aspecto financeiro, no caso do Diego, não somou nada porque está aí até agora”, afirmou.
Dinamite falou sobre o projeto do CT profissional, a reforma de São Januário, patrocínios e demais temas diários do Cruzmaltino. Em algumas perguntas, parava, fazia anotações e respondia. Em determinado momento, sorriu e deu uma bronca em si próprio. “Não posso nem rir mais. Daqui a pouco vão perguntar do que estou rindo...”, cutucou.
Enquanto Roberto Dinamite respondia aos questionamentos, o vice-presidente geral Antônio Peralta recebia inúmeras ligações em seu telefone celular. Irritado, desligava e atendia alguns contatos. Em determinado momento, deixou a sala para falar e retornou. Ele e Aníbal Rouxinol, vice-presidente jurídico, foram os principais pontos de apoio do mandatário durante o encontro com a imprensa.
Algumas dúvidas ficaram pendentes. A principal em relação ao projeto para o futebol em 2013. Dinamite não acredita em uma debandada em razão dos maus resultados e salários atrasados, mas preferiu não citar nomes. Já o diretor de futebol Daniel Freitas deve ter que se reportar a um novo executivo para a pasta na próxima temporada.
“Já trabalhamos em relação ao projeto de 2013. Podemos dizer que alguns jogadores vão permanecer e vamos tentar trazer outros atletas. Esperamos ter uma equipe mais competitiva do que em outros períodos. A instituição é muito séria. Hoje, temos o Daniel Freitas. Ele vai continuar dentro do processo, mas vamos fazer outras coisas. Não posso dizer que será A ou B. Não compete dizer quem vai sair... A direção que vai decidir”, completou.
Por fim, Roberto Dinamite fez suas considerações finais antes de ser aplaudido por alguns conselheiros. No desabafo, a certeza de que a pressão continua e o mandatário precisa trabalhar para equacionar as pendências econômicas e políticas no Gigante da Colina. “Não admito que alguém fale que é mais vascaíno do que eu e que respeita mais o Vasco do que eu. Duvido que haja alguém mais honesto com o meu clube do que eu. Se tiver, eu vou embora. Estou cumprindo uma etapa dentro do Vasco e quero cumpri-la bem”, encerrou.
Fonte: UOL