O momento não é nada bom para o Wolfsburg. Na verdade é péssimo. O campeão alemão de 2009 perdeu pela quinta vez nesta temporada, esta vez para o Freiburg por 2 a 0, no último sábado e amarga a lanterna do Campeonato Alemão, mas ao menos um jogador tem se destacado. O brasileiro Fagner, que chegou nesta temporada vindo do Vasco, clube que lembra com carinho, é o líder em roubadas na bola entre as cinco principais ligas da Europa: já são 47.
– Fico feliz em mostrar o trabalho, mas infelizmente o momento do time não ajuda – disse o lateral-direito ao LANCENET!, que tem sido elogiado pela imprensa e já se transformou no preferido da torcida mirim do clube alemão:
– Outro dia na rua, um menino de uns sete anos me parou e me disse que eu era o seu jogador favorito! Isso me deixou muito feliz.
O que até deu uma tranquilidade para o jogador ir bem dentro de campo, aonde ele viu diversas diferenças com o futebol brasileiro.
– Tem uma outra atmosfera, e o jogo, é mais corrido, mais técnico, mais dinâmico, pegado, tem que observar bem, tentar se enquadrar o mais rápido possível, para não sentir tanto a diferença – analisa.
Mesmo com a má fase do time, Fagner não deixa de pensar alto no Campeonato Alemão. Primeiro, claro, ele quer se recuperar e sair da situação incômoda, e depois ir além.
– A gente pensa em competição europeia, se tiver condição de título, vamos buscar. Mas a prioridade é levar o clube à Champions.
Carinho pelo Vasco
Fagner chegou ao Vasco em 2009, em um dos períodos mais complicados da História do clube, quando estava na Série B. E ao lado de jogadores como Fernando Prass, Nilton e Carlos Alberto, ficou durante muito tempo. Exatamente por isso, ele garante que ficou um sentimento pelo clube.
- Jamais terei algo para falar do Vasco, abriu portas para mim, ajudou muito, acho que pude ajudar da melhor maneira, dentro de campo, trazendo resultados, foi uma história bonita, até hoje meu filho lembra, fala de Juninho, de Prass, de Felipe, de Fellipe Bastos, tenho amizade com pessoas, quando voltar para o Brasil de férias vou lá visitar, o carinho vou carregar para sempre. Se estou aqui hoje, é graças ao Vasco.
Saída cedo
Ainda antes de ir para o Vasco, Fagner, que foi revelado pelo Corinthians, esteve no PSV, da Holanda. Hoje, olhando para trás, ele poderia ter feito diferente, apesar de valorizar a experiência que teve em Eindhoven.
– Eu queria ter ficado no Corinthians. Mas amadureci. Muito do que aprendi, estou vivendo hoje. Jogar contra uma estrela não é mais uma surpresa – avalia Fagner, que terá uma longa missão pela frente.
Esperança de servir à Seleção
O desempenho regular desde a época do Vasco já rendeu a Fagner uma lembrança do técnico da Seleção Brasileira, Mano Menezes.
O paulista esteve presente na pré-lista dos jogadores que iriam atuar nos Jogos Olímpicos de Londres. Mesmo sem oportunidades recentes, o lateral acredita que pode ter uma chance.
– Acho que todo jogador pensa em Seleção. Claro que a Brasileira é uma das mais concorridas. Mas eu sempre sonho, eu sempre tive vontade de representar. Procuro fazer meu trabalho bem feito no clube – afirmou o jogador, que revelou inspiração em jogadores de sua posição com sucesso na Europa e na Seleção:
– Cafú e Roberto Carlos são exemplos. Tiveram uma carreira inteira na Seleção e de destaque na Europa.
TRAJETÓRIA DO WOLFSBURG
Título e euforia
Na temporada 2008/09, o Wolfsburg conseguiu surpreender, e com um time bem armado, deixou o poderoso Bayern de Munique para trás, e levou a Bundesliga pela primeira vez. O destaque era a dupla de ataque, formada por Grafite e Dzeko. O brasileiro fez 28 gols, enquanto o bósnio fez 26. Josué já era o capitão.
Queda
Em 2009/10, ano seguinte ao título, o Wolfsburg não foi bem. Foi eliminado da Liga dos Campeões na fase de grupos, e foi apenas o oitavo do Alemão.
Lanterna
A atual temporada parecia que ia começar bem. Na estreia, uma vitória de 1 a 0 sobre o Stuttgart fora de casa. Mas logo na sequência, foi goleado por 4 a 0 pelo Hannover em casa. Depois foram dois empates, e mais quatro derrotas seguidas, até a última de sábado, em casa, contra o Freiburg.
Brasileiros sofrem com a má fase
O péssimo início do Wolfsburg no início Campeonato Alemão já reflete no atual elenco. Alguns jogadores brasileiros sofreram com as consequências. O volante Josué, capitão do título alemão na temporada 2008/2009, e o apoiador Diego, que voltou nesta temporada de empréstimo do Atlético de Madrid, foram barrados pelo técnico Felix Magath.
Em um momento diferente dos compatriotas, Fagner acredita que a medida pode trazer benefícios à equipe alemã na sequência da competição.
– A não escalação de alguns brasileiros é uma opção do treinador. Todos nós começamos a temporada como titulares, mas não estava dando certo. Temos apenas que respeitar e seguir trabalhando – analisou o lateral.
Além de Fagner, o zagueiro Naldo segue entre os titulares do lanterna da competição.
BATE-BOLA
Fagner
Lateral-direito do Wolfsburg, ao LANCENET!
Como foi logo no seu início ter o Bayern de Munique, encarar logo várias estrelas, um grande palco?
Tem uma outra atmosfera, e o jogo, é mais corrido, mais técnico, mais dinâmico, pegado, tem que observar bem, tentar o mais rápido possível se enquadrar, para não sentir tanto, mas graças a Deus, estes primeiros jogos, eu acho que serviram para eu me entrosar logo, eu me habituar logo ao dinamismo, e logo contra o Bayern, Manchester City, bom pegar logo essas feras.
A presença de vários brasileiros ajudou na adaptação?
Sem dúvida, tem hoje o Naldo com sete anos, Josué por aí também, o Diego há algum, isso ajuda na comunicação, eles já falaram como era o sistema, então acaba se habituando mais rápido, quando chega e não tem ninguém, tem que quebrar a cabeça para se comunicar, acabou sendo mais rápido.
Como está no aprendizado do alemão?
O alemão é muito complicado, muito diferente, é difícil chegar de cara e conseguir falar, algumas coisas são similares, eu tive um tempo na Holanda, aprendi algumas coisas, e tem coisas parecidas, mas quando preciso, eu vou meio no inglês, tem coisa que misturo, diariamente, quase, o clube oferece aula de alemão para alguns, o quanto antes falar, melhor.
Você foi muito novo para o PSV, veio para o Brasil e retornou para a Europa. Tem como fazer um paralelo das duas idas para a Europa?
Na primeira vez eu era um menino de 18 anos, agora tenho 23, casado, pai de família, muita diferença, eu tinha só sete jogos como profissional, cheguei como promessa, talvez um talento para o futuro, não como imediato, agora foi diferente, eu vim com três anos e meio de Vasco, estava bem, tive uma sequência boa, é diferente, o treinador me conhecia, contratou para chegar e ajudar. Tenho certeza que desta vez, além da experiência, a minha cabeça, amadurecimento, faz pensar diferente, faz conseguir vencer objetivos, obstáculos, isso é o principal.
Você acha que tem uma determinada idade para o jogador sair?
Acho que depende muito do atleta, de qual visibilidade ele já tem. Pegar um menino de 17, 18 anos para ir à Europa é complicado, ele chega como promessa. Pegar um Neymar, Dedé, Lucas, já tem visibilidade maior, de Seleção, é outra coisa. Claro que indo para fora, nem tudo são flores, mas é claro que é diferente, o auxílio é outro. É difícil falar um momento certo, é muito do jogador, sentir o momento de buscar o desafio, de almejar coisas maiores. No meu caso, achei que era o momento certo, eu achei que queria coisas maiores, e tenho certeza que foi a melhor escolha.
A impressão que se passa é que o técnico do Wolfsburg é durão. É isso mesmo, o Cristóvão era mais tranquilo?
Totalmente diferente, Cristóvão é super amigo, sempre procurava conversar, treinador tem a filosofia, durão, conversa pouco, trabalha muito duro, outra filosofia, o Josué, o Diego me prepararam, falaram que o treino era difícil, pesado, e a gente tem que fazer, a gente é funcionário, ele que me trouxe, e faço com o maior prazer.
É incrível como os estádios estão sempre cheios. Como é a vibração, as diferenças com o Brasil?
Aqui na Europa, existe um respeito muito grande entre torcedor, entre ser humano, as coisas acontecem, se alguém faz errado, ela é punida. É lindo ver o estádio cheio, a organização, ver a torcida andando na rua. Claro que não é só santo, mas as coisas acontecem. Para nós, só estádio cheio, estádio bonito, o espetáculo é melhor.
Um dos seus grandes amigos era o Nilton, já conseguiu falar com ele?
Falei uma vez, a gente se desencontrou, eu ligava ele não podia atender, e o contrário. Mas as esposas se falam por telefone, rede social. É duro ter que deixar os amigos, pessoas que conviveram muito tempo, ainda mais o Nilton, parceiro de quarto, de brincadeira, a gente saía junto, mas é a vida.
Você tem acompanhado? O Vasco vai à Libertadores?
Acho que sim, é um torneio muito longo, muito disputado, corrido, tem equipes muito boas, é um dos mais disputados do mundo, é o único que uns 10 times podem ser campeões. É natural ter uma queda. Mas tem tempo de se recuperar, já conseguiu, tenho certeza que pode brigar pela Libertadores, ir bem, tem elenco para isso, tenho certeza que vou conseguir e vou estar na torcida.
Fonte: Lancenet