Se nos gramados a equipe cruzmaltina dá sinais de queda e se afasta do G-4 do Campeonato Brasileiro, fora dos campos pode-se dizer que o Club de Regatas Vasco da Gama chegou a um ponto bem mais elevado do que qualquer um dos seus rivais.
Em setembro, o “astronauta vascaíno” Humberto Quintas decolou da cidade de Nizny Novgorod, na Rússia, a bordo de uma aeronave Mig-29 Fulcrum, com a qual subiu até a estratosfera, a mais de 65.000 pés de altitude. Devidamente trajado com o uniforme e portando uma pequena bandeira vascaína durante todo o trajeto, Quintas fez do Vasco o primeiro clube brasileiro a alcançar a estratosfera.
Durante o vôo, Quintas atuou como co-responsável pela checagem dos intrumentos da aeronave e esteve acompanhado apenas pelo piloto do Mig-29, o russo Sergei Kara, capitão da antiga força aérea soviética e atual chefe dos pilotos da Base Aérea de Sokol, em Nizhny Novgorod, cidade localizada a 400 km da capital Moscou.
Com o feito, o carioca Humberto Quintas passou a ser reconhecido pelo código de chamada “Estratosfera 07” no âmbito do Memorial Aeroespacial de Pioneiros do Brasil, o que significa que foi o sétimo brasileiro civil a voar pela estratosfera, de onde se vê a curvatura da terra e um céu negro, mesmo durante o dia. Quintas, que foi o primeiro a levar tão alto a bandeira de um clube de futebol, garante que não se esquecerá do que viu:
“Estamos instintivamente acostumamos à claridade durante o dia e à escuridão durante a noite. Da estratosfera, olha-se para o alto e vê-se um céu escuro, com o sol brilhando sobre um “teto” negro. É uma visão que confunde, assombra, emociona. De lá, da chamada “borda do espaço”, ao ver um horizonte ligeiramente curvo, percebi com maior nitidez os limites do planeta. É uma experiência impactante e inesquecível, que proporciona um senso de perspectiva único... Você olha e constata que, sob uma ótica planetária, ninguém é tão diferente, ou mais importante porque fala um determinado idioma, porque nasceu ou vive em determinada região, porque adota uma religião diferente ou porque tem mais ou menos recursos financeiros”, explica Quintas. E completa: “Somos igualmente pequenos e paradoxalmente grandiosos, por fazermos parte deste todo”.
Em sua jornada estratosférica, o astronauta vascaíno alcançou velocidade duas vezes superior à barreira do som (Mach 2) e foi submetido a uma força de 4,5Gs, durante a qual seus 78kg de peso equivaleram, temporariamente, a 351 kg. A aventura fez parte do treinamento para um vôo espacial no qual Quintas está inscrito, e que deverá acontecer em 2014.
Definindo-se como um sujeito que tem “a cabeça nas nuvens e os pés no chão”, esse admirador do cosmonauta russo Yuri Gagarin diz existir uma retomada do interesse público pela exploração espacial. E planeja vôos ainda mais altos:
“Há uma semana o austríaco Felix Baumgartner, patrocinado por uma fabricante de bebidas energéticas, saltou da estratosfera com um paraquedas, o que foi um feito incrível, extraordinário. E todos voltaram a falar sobre o espaço novamente. Naves, cápsulas e astronautas voltaram a ser assuntos em corridas de táxi e mesas de bar, o que é excelente! Para mim, no entanto, ir ao espaço é um tema que sempre esteve na moda, um sonho antigo e que será concretizado em breve, mesmo com todos os riscos e adversidades. Apenas para que se tenha uma idéia, meu vôo espacial alcançará uma altura de mais de 329.000 pés, quase três vezes maior do que a atingida por Felix Baumgartner”.
E o astronauta vascaíno revela, ao ser perguntado sobre qual será o limite para as suas peripécias:
“Em fevereiro, senti a leveza ao flutuar em gravidade zero, durante um vôo parabólico sobre o deserto de Nevada, nos EUA. Recentemente, na Rússia, sofri o peso e as forças gravitacionais, além da reação do corpo a ambientes extremos como o da estratosfera. Tive tonturas e sangramento no nariz e aprendi bastante sobre o que deve ser feito em situações de emergência. Além disso, ainda tenho muito medo de altura... Os vôos são gratificantes, mas desgastam física e emocionalmente. Por isso, o próximo e derradeiro passo será o espaço, novamente portando os amuletos vascaínos. Em seguida, doarei a bandeira para o Vasco e ficarei bem próximo ao chão. Ver estrelas depois disso, somente pelo telescópio”, brinca Humberto Quintas.