Parceria com Vasco de Sines se encerra com resultados abaixo do esperado e dívidas

Sábado, 13/10/2012 - 16:59

O projeto era ambicioso: aproveitar o Vasco de Sines, clube da cidade portuguesa de 15 mil habitantes onde nasceu o histórico navegador, para chegar em três anos à elite do futebol de Portugal, colocar jovens não aproveitados em São Januário na vitrine de clubes europeus e até arrecadar com a venda de algum deles. Mas dois anos depois, a parceria terminou precocemente. Os 12 jogadores enviados só conseguiram a segunda colocação nas duas temporadas e nada de acesso em Sines.

Não bastasse a referência ao vice - que não levava o time do campeonato distrital para a terceira divisão nacional, primeiro passo da escalada -, os brasileiros passaram por maus bocados em Portugal. Na faixa limite de juniores, os garotos recebiam em média R$ 2,5 mil em suas contas no Brasil, como salário de jogador do clube, mas deixaram de receber por pelo menos três meses a ajuda de custo de 50 euros por semana.

- O presidente (do Vasco de Sines, Carlos Pereira) dificultava tudo. O dinheiro do Vasco até atrasava, como acontece normalmente no clube, mas eles cumpriam com tudo. Muitas vezes, foi o Claytuil que segurou a onda para a gente - lembra o goleiro Gott, que teve contrato encerrado e hoje joga no Novo Hamburgo (RS).

Claytuil hoje é auxiliar dos juniores do Vasco. Ele bateu de frente com Pereira, que era descrito como espécia de Eurico Miranda de Sines. Pereira chegou a ordenar que o atacante Alan Junior tirasse o corte moicano. Mas o pior era na hora da grana.

- A gente não recebia porque ele dizia que tinha que tirar do nosso dinheiro para pagar nossa alimentação. Aí depois a gente assinava contra-cheques de dois meses. E só recebíamos meio mês - conta Gott.

O zagueiro Cadu Cafas, de 35 anos, campeão português pelo Sporting na temporada 1993/1994, também ajudou os garotos.

- Várias vezes dei dinheiro para eles fazerem as compras para a casa que moraram - conta o veterano, que levou os garotos para churrasco na residência dos pais em Portugal.

- O mais estranho é que os brasileiros fizeram investimentos de dois anos e agora que fomos convidados a subir, eles desistiram do projeto - lamenta ele, referindo-se ao convite para jogar a terceira divisão, que o presidente do clube de Sines recusou.

Pior para outros jogadores, como Mauro Bonfim, Washinton Tomás e Roni Temporini. Sem documentação liberada pelo clube de Sines - nos bastidores, a informação é que o presidente do xará português não teve boa vontade para facilitar a transferência -, a “janela” fechou a porta para que atuem no Brasil este ano. Luan Costa, volante, está sem contrato e se recupera de uma pubalgia em São Januário. A alternância entre pisos sintéticos e gramados ruins causou lesões na maioria dos atletas.

Na única transferência, clube não recebeu nada

De todos jogadores que foram para a aventura em Portugal, Hebert talvez tenha a melhor história para contar. O Vasco do Rio não quis renovar contrato com ele na volta ao Brasil e o garoto, que é zagueiro, fechou com um empresário português e acertou pré-contrato com o Parma, da Itália, para 2013. Enquanto isso, ele está emprestado ao Profence, da Segundona da “terrinha”. De Portugal, Hebert conta que a expectativa era maior quando foi viver os primeiros dias de seus um ano e meio em Portugal.

- Caímos numa divisão muito baixa. Até tinha três ou quatro times bons, com veteranos que já jogaram na liga principal, mas jogamos em bastante campo de pelada - relata ele, que aprova a primeira passagem por Portugal. - Querendo ou não tive uma vitrinezinha.

Procurado pela reportagem, o presidente do Vasco de Sines não quis atender o Jogo Extra. Idealizador do projeto, que previa nova parceria no mercado chinês e uma futura com a Traffic em Portugal (o Estoril, da empresa de marketing esportivo, chegou à Primeira Divisão), o ex-vice de finanças Nelson Rocha diz que o clube gastou 150 mil euros. Ele atribui o fim da parceria às reclamações internas e da oposição sobre o projeto, e lamenta que o departamento de futebol não tenha renovado com atletas que tinham potencial para serem negociados, como foi o caso do zagueiro Hebert. O clube nada recebeu pela única transferência para o mercado europeu do jogador.

Conheça o destino dos 'garotos de Sines'

Gottfried Antonio Golz (Gott) - O goleiro jogou em Sines de 2010 a 2012. O contrato com o Vasco acabou em setembro deste ano. Ele está no Novo Hamburgo (RS).

Hebert Silva Santos (Hebert) - O contrato com o Vasco terminou em janeiro. O zagueiro assinou contrato com um empresário português e está no Profense, da Segunda Divisão de Portugal. O Vasco não recebeu nada pela transferência.

Jonathan Alves de Lima (Jonathan) - Jogou somente a primeira temporada. Está sem contrato desde julho.

Luiz Gustavo Gonsalez Rosa (Luiz Gustavo) - Jogou somente a primeira temporada. Está sem contrato desde janeiro.

Maicon Assis - Foi emprestado ao Arapongas, da Série D, quando voltou. Como o time foi eliminado, foi treinar no profissional do Vasco. Ficou no banco contra o Figueirense. Tem contrato até dezembro de 2013.

Eder Santana Nascimento (Eder) - Jogou somente a primeira temporada. Está sem contrato desde janeiro.

Iderlon da Silva Santana (Dico) - Jogou somente a primeira temporada. Está sem contrato desde março.

Luan Costa - Jogou a segunda temporada. Está lesionado, faz tratamento no Vasco e ficou sem contrato com o clube em julho.

Alan Junior - Jogou a segunda temporada. Tem contrato até março de 2013. Está emprestado ao Americano.

Mauro Bonfim, Washinton Tomás e Roni Temporini - Não tiveram os contratos regularizados no Brasil antes do fechamento da janela de transferências. No país, os três só podem jogar em 2013.

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Fonte: Extra Online