Marcelo Oliveira e Ney Franco são amigos de longa data. Além disso, possuem trajetórias e estilos muito semelhantes. Agora, os dois são treinadores de dois dos principais clubes do eixo Rio-São Paulo, que lutam por uma vaga na Libertadores de 2013. E é esse objetivo que fará ambos "esquecerem" a amizade na noite desta quarta-feira.
"A relação com o Ney Franco é ótima, de amizade e respeito profissional. Começamos essa história nas bases de Atlético-MG e Cruzeiro. Nos confrontamos muitas vezes e sempre foi muito equilibrado. Nem dá para dizer quem levou a melhor. Nos consideram treinadores com perfis parecidos. Somos mineiros e tranquilos. Estamos no mercado trabalhando em grandes clubes. Será um confronto muito parelho. Vamos ver o que acontece. Nos 90 minutos a amizade fica de fora [risos]. Espero que o Vasco possa sair melhor nessa história”, afirmou Oliveira em entrevista ao UOL Esporte.
Com 50 pontos, o Vasco ocupa a quarta colocação na tabela de classificação do Brasileirão, quatro na frente do São Paulo. O duelo que será realizado às 22h, em São Januário, com acompanhamento lance a lance do Placar UOL Esporte, tem clima de decisão e comandantes que possuem estilos e trajetórias muito semelhantes, algo que pode ser visto na tabela abaixo.
As curiosidades do duelo entre Marcelo Oliveira e Ney Franco
Duelos na base em Minas Gerais e início profissional no Ipatinga
Marcelo Oliveira iniciou a carreira de treinador nas categorias de base do Atlético-MG em 2001. Na ocasião, conquistou o Campeonato Mineiro. Um ano depois subiu para os juniores, categoria em que permaneceu até 2008. Foram nove taças levantadas. Inclusive, as dos estaduais de 2005 e 2006 após oito anos de jejum. Os duelos com Ney Franco aconteceram muitas vezes, mas os amigos dizem que ninguém levou a melhor, já que quando se encontram o equilíbrio prevalece. Em 2009, o treinador assumiu o Ipatinga e iniciou a trajetória no futebol profissional vencendo o Campeonato Mineiro do Módulo II.
Ney Franco é um exímio conhecedor das categorias de base. Trabalhou três anos no Atlético-MG e mais 11 temporadas no Cruzeiro. Conquistou títulos estaduais, nacionais e internacionais em todas as etapas da base celeste. Com 14 anos de experiência, chegou a comandar o time profissional na reta final do Brasileirão 2004. Em 2005, assumiu o Ipatinga e conquistou o Campeonato Mineiro com uma vitória por 2 a 0 sobre o Cruzeiro. Em 2006, foi vice-campeão estadual e levou o time do interior às semifinais da Copa do Brasil, quando foi eliminado pelo Flamengo, clube que depois assumiu e conquistou a competição.
Boas passagens pelo Coritiba e trampolim profissional
O atual técnico vascaíno foi o terceiro profissional que mais vezes comandou o Coritiba. Em 131 jogos, Marcelo Oliveira esteve na beira do campo orientando os jogadores. Fez campanhas acima do esperado após montar um elenco competitivo apontado pela crítica como o de futebol mais bonito do país. Foi bicampeão estadual (2011 e 2012) e vice-campeão da Copa do Brasil (2011 e 2012). O desempenho o coloca como o quinto técnico de melhor aproveitamento na história do clube (62,3%). Ele é superado por pouco pelo amigo Ney Franco (62,4%). O bom trabalho proporcionou a oportunidade de dirigir o Vasco da Gama em 2012.
A passagem de Ney Franco pelo Coritiba é definida como digna pelo amigo Marcelo Oliveira. Campeão paranaense em 2010, o treinador cumpriu a missão de trazer o Alviverde de volta à elite do futebol brasileiro no mesmo ano após rebaixamento em 2009. Ney Franco recebeu inúmeras propostas, mas não descansou enquanto não conseguiu êxito para o qual foi contratado. O sucesso fez com que fosse chamado para assumir o comando das categorias de base da seleção brasileira. Foi um salto na carreira e com mais títulos conquistados. Vale destacar o Mundial (2011) e Sul-Americano (2011) antes de chegar ao São Paulo em 2012.
Fala mansa e equilíbrio no dia a dia
Natural de Belo Horizonte, o treinador de 57 anos raramente grita com os seus comandados. A fala mansa e o equilíbrio nas análises caracterizam praticamente um mês dirigindo o Vasco da Gama. Marcelo Oliveira não gosta de estardalhaço. Costuma dizer que quando precisa gritar não enxerga o jogo corretamente do banco de reservas. Por isso, prefere a descrição e o diálogo sereno com os seus auxiliares. Pela forma tranquila de ser e agir, o técnico passou a ser bem visto no mercado antes mesmo de chegar ao Cruzmaltino, seu auge na carreira mesmo com o tempo ainda curto.
Mineiro de Vargem Alegre, Ney Franco tem 46 anos e segue a linha do companheiro. O trato cordial no dia a dia parece ser o segredo do sucesso da dupla. Fala mansa, por vezes até difícil de ouvir, mas um trabalho de resultados comprovado em campo. O equilíbrio do treinador é denunciado até na análise da rotina corrida feita por Marcelo Oliveira. “Apesar da amizade, nos encontramos muito pouco atualmente. Falamos mais pelo telefone, pessoalmente temos nos encontrado raramente. O futebol nos consome e absorve muito tempo. Trocar ideia fora do esporte faz falta para os dois lados", comentou.
Caseiro x Cantor
Com a rotina sacrificante do futebol, as folgas são raras na vida de Marcelo Oliveira. No entanto, quando a oportunidade surge ele corre para ver os seus três filhos, principalmente o mais novo em Curitiba. Nada de se aventurar na veia artística como o amigo Ney Franco. O técnico do Vasco prefere ficar em casa e receber amigos. No máximo, opta por sair e jantar com a família. “O Ney canta muito bem, mas não tenho esse dom da música. Quando estou de folga tenho preferência por estar com a família. Gosto de sair para jantar, receber amigos e relaxar um pouco. Viajar nas férias é importante também para armazenar energia para o próximo ano”, afirmou o treinador.
Ney Franco não esconde o seu hobby e programa preferido nas folgas, que é compor, tocar violão e cantar. A música é a sua válvula de escape. O técnico do São Paulo não perde um bom show e costuma assistir inúmeras apresentações através de DVDS quando está em casa. “Na beira do caos”, sua composição mais famosa, é lembrada até hoje em diversas entrevistas. Alguns jogadores costumam brincar com a aptidão do treinador, que usa a música até para ajudar no trabalho. Quando se aposentar não será surpresa para ninguém se Ney Franco assumir o lado musical integralmente e se dedicar ao garimpo de novos talentos, o que já fez muitas vezes no futebol.
Fonte: UOL