A campainha toca, a porta abre e um rapaz de 30 anos se apresenta como representante de joalheria. Incrédulo, o cliente se espanta com quem tenta vender jóias dentro de casa. Foi assim durante anos que Marcelo Oliveira, ainda um rosto muito conhecido após brilhar anos pelo Atlético-MG, trabalhava em Minas. No Vasco, a lapidação de talentos já começou.
Com a base mais próxima do profissional, o treinador de 57 anos tem como primeiro objetivo equilibrar a defesa e o ataque até o fim do Brasileiro.
- Meu trabalho é de retomar a confiança e criar um equilíbrio melhor dentro de campo, principalmente entre defesa e ataque - diz Marcelo, que via o time atacando com poucos jogadores.
Nascido em Belo Horizonte, criado em Pedro Leopoldo, cidade de Chico Xavier, a paixão pela bola entrou cedo na vida do filho do ex-atacante de times do interior paulista e de Minas Geraldo “Caixote”. Mas a separação veio antes da hora e com uma certa dose de arrependimento. Aos 30 anos, ele tinha a primeira filha (Mariana, hoje com 28) com Vanessa - ainda viriam Camila e Rafael - e largaria o futebol.
- Acho que me precipitei um pouco. Comecei com 14, tinha muita viagem, concentração... Tive para ir para os EUA e um time da segunda divisão da Itália, mas minha esposa não queria e resolvi parar. Podia ter jogado mais quatro anos - afirma.
A saudade da bola ele descontava nas peladas com amigos e ex-jogadores.
- Era o mais novo, arrebentava, né. Os caras não conseguiam me marcar - gaba-se o mineiro, que morou três anos e meio no Rio nos tempos de Botafogo.
- Saía do Leme para Marechal Hermes para treinar. Era terrível, uma viagem. Mas revezava com Jairzinho e o ex-goleiro Paulo Sérgio.
Com pouco tempo de carreira, Marcelo absorve todos ensinamentos que não saem da cabeça desde os tempos de Telê Santana.
- Ele foi meu treinador durante cinco anos. Vivia longe da minha família e muito próximo do técnico. Quando vim jogar no Botafogo, morávamos no mesmo bairro e ia muito na casa dele. Tinha princípios muito fortes de lealdade, de correção no campo, aquela obstinação no treinamento, em toda parte técnica - lembra Marcelo, que também admira o falecido ex-técnico Claudio Coutinho.
- Passei por todas seleções de base com o Coutinho. São os dois que me mais me chamaram a atenção - afirma Marcelo.
AS HISTÓRIAS DE MARCELO
Filho de peixinho
O pai de Marcelo, que faleceu em 2008, tinha o apelido de Pacote: “Ele era baixinho, forte. Mas dizem que jogava muito”, lembra.
Copa de 1978
Meia-atacante de sucesso no Galo no fim da década de 1970, Marcelo esteve entre os 40 pré-convocados por Coutinho antes da Copa da Argentina, mas não foi.
Cabeludo
No estilo da época, Marcelo tinha uma cabeleira que conservou até os 30 anos: “Quando começaram as entradas da careca tive que cortar. Mas as garotas gostavam”, brinca ele.
Outros tempos
Marcelo gostava de ir para discotecas e afirma que antigamente o jogador ia mais para a noitada: “Hoje há mais profissionalismo. Antes se bebia mais. Eu não era muito de beber, mas tomava um copo de cerveja ou de vinho. Hoje é mais profissional”, ressalta.
Joalheiro
Com 30 anos, foi vender jóias em Belo Horizonte e outras cidades próximas: “Ainda tinha certo nome e isso me ajudou nas vendas. Ainda mais quando era atleticano”, conta ele, que tentou negócio próprio: “Até deu certo, mas levava muito ‘cano’ dos clientes e me sentia peixe fora d´água”.
Recomeço
Próximo de Nelinho, ex-jogador do Cruzeiro, ele voltou aos poucos aos estádios. Depois de três anos fazendo programa de TV em Minas, foi convidado para assumir o time juvenil do Atlético-MG, em 2003: “Me senti muito feliz quando voltei a pisar num campo”.