Antes, o medo era de não corresponder às expectativas dos vascaínos. Agora, a vontade de Juninho é seguir em frente e alçar voos ainda mais altos aos 37 anos. Com rendimento impressionante no Brasileirão, o Reizinho se tornou referência na equipe, consolidou o seu status de ídolo na Colina e nem pensa em aposentadoria por enquanto. Se não bastasse, ele espera ser apontado como um dos melhores da competição no fim do ano. Nesta entrevista exclusiva, o camisa 8 fala também sobre Seleção, a situação do Vasco no Campeonato Brasileiro e seu relacionamento com Felipe: ‘Não somos próximos’.
MARCA BRASIL: Muitos torcedores já especulam seu nome na lista da seleção do Brasileiro. O que isso representa na sua vida?
Juninho: Estar entre os melhores é o que mais me motiva, é o que me dá forças para abrir mão, fazer sacrifícios e treinar sem parar. É uma coisa que tento não levar para dentro de campo,maseu alimento a esperança de estar na lista da seleção do Brasileiro e até mesmo de estar entre os três melhores da competição.
MB: Você chegou a duvidar do seu potencial antes de voltar para o Vasco?
J: Pensei em tudo o que estaria envolvido nesse meu retorno ao Vasco e o risco de não ir bem e de decepcionar a torcida foi levado em conta. Por isso propus um contrato naqueles moldes (por produtividade). Não duvidei do meu potencial, mas sabia que os jogadores costumam sentir a diferença e precisam deumtempo para se readaptar. Graças a Deus as coisas foram acontecendo e consegui conquistar os torcedores pelo que estou fazendo dentro de campo. Não por causa da minha história.
Ter sempre o melhor preparo e estar na melhor forma física são suas obsessões?
J: Sim, mas acho a palavra ‘obsessão’ forte.Uma das prioridades na minha carreira é buscar estar sempre bem, no meu melhor. Procuro ter equilíbrio entre cabeça e corpo, pois não adianta estar bem fisicamente e mal de cabeça. Acho que me cobro demais, mas os resultados na minha carreira até hoje me mostram que todo esse esforço tem valido a pena.
MB: Se Mano Menezes o convocasse para dar mais experiência à Seleção, você aceitaria amissão?
J: Essa pergunta é perigosa, pois pode parecer que estou cavando (risos)! Lógico que depois de 2006 falei que eu fazia parte do grupo que iria sair. Falei um pouco demais. Seleção é sempre seleção brasileira e, se tiver que ajudar, vou estar sempre aberto para isso. Mas não foi o pensamento quando voltei para o Vasco. Mano Menezes tem de pensar no projeto para a Copa de 2014. Por isso, acho que um jogador de 37 anos não estaria nos planos.
MB: O Vasco continua com chances de título?
J: Precisamos ser um pouco realistas. Os times que estão atrás estão muito mais próximos da gente do que a gente dos líderes. Primeiro é melhor brigar para garantir a vaga. Somente depois pensar no título.
MB: Onde, na sua opinião, o Vasco perdeu o rumonacompetição?
J: Da 14ª, 15ª rodada até a 23ª a gente diminuiu muito a nossa média de pontos. Por exemplo, a gente fez dois bons jogos nos clássicos com Fluminense e Flamengo e não merecíamos perder. Dois jogos que fizeram muito mal ao lado psicológico do time. Eram os últimos dois jogosdo turno. Foram duas derrotas que jogaram o time para baixo e a gente perdeu um pouco de confiança.
MB: A mudança de comando era necessária?
J: Mudou a atmosfera do time. Cada treinadortem a suametodologia de trabalho. Cristóvão Borges ainda tem um caminho a percorrer e o Marcelo Oliveira já chega com essa vivência em vários times. Ele está dando mais ênfase em alguns detalhes que talvez a gente não trabalhasse antes. Ao mesmo tempo, o Marcelo não conhece o grupo como Cristóvão conhecia. Isso também é difícil para o técnico.
MB: O que achou da chegada de alguns jovens talentosos das divisões de base?
J: Essa integração com as divisões de base demorou muito a acontecer. Houve um distanciamento entre o profissional e a base. Um clube que sempre revelou jogadores, como Geovani, Pedrinho, Felipe, Romário e Edmundo, precisa continuar investindo nos mais jovens.
MB: Nos últimos meses, notícias de que sua relação com Felipe estaria estremecida foram publicadas. Isso, de fato, é verdade?
J: É mais ou menos isso. Em campo, a gente veste a camisa doVasco, faz o melhor para o time, mas fora dele cada um segue a sua vida. Nós temos personalidade diferente, mas isso não impede que a gente possa jogar juntos. Cada um segue com a sua vida fora de campo, não temos proximidade após os treinamentos. Penso que a gente joga no mesmo time, temos uma história, mas precisamos dar mais pelo clube. É isso que me mantém concentrado no dia a dia.
MB: Em dezembro termina o seu contrato com o Vasco. Qual será sua decisão: renovará ou vaise aposentar?
J: Como estou jogando e me sentindo hoje, ainda acho que sou um atleta em alto nível. Portanto, atualmente a ideia é seguir mais um pouco. Quero terminar o Brasileiro assim. Além dos objetivos coletivos, também tenho objetivos pessoais de terminar entre os melhores da competição. Em dezembro, torço para que o Vasco encontre mais estrutura. Ainda mais na questão financeira.
MB: Já pensou o que vai fazer quando enfim pendurar as chuteiras?
J: Quando me aposentar, vou continuar trabalhando com futebol. Gosto do dia a dia, de conversar, de analisar e de estar próximo no campo. É uma dúvida que tenho na cabeça. Hoje me preparo para jogar, para render. O que tenho definido é que vou trabalhar com futebol. Não tenho certeza como.
MB?: Diante de todos os problemas financeiros, políticos e de estrutura, você já pode dizer que valeu a pena voltar para o Vasco?
J: Valeu muito a pena. Saí ídolo de uma geração. Agora pude mostrar para outros vascaínos o motivo de eu ter feito parte de um time vitorioso. Não posso negar que pensei que iria encontrar o Vasco mais equilibrado. Houve um certo apelo, eu poderia me arrepender se tivesse ficado no Catar. Fico feliz de ter me tornado outra vez ídolo, de voltar a ser a referência em campo. Isso já fez valer a minha volta. Mas falta um título para coroar o término da minha carreira profissional.
Fonte: Marca Brasil