“E aquele russinho camisa 10 dos juniores? Quando vai jogar?”. Muitos foram os vascaínos que levantaram essa pergunta na arquibancada de São Januário. A espera, enfim, acabou. O gandula do fatídico dia em que o Gigante caiu terá a chance de escrever sua própria história a partir desta sexta-feira, em um capítulo que tem tudo para ser mais feliz do que aquele do dia 8 de dezembro de 2008.
Marlone, que será relacionado pela primeira vez entre os profissionais no jogo contra o Atlético-GO, começou sua trajetória na Colina em 2004. Morador de São Januário, passava muitos momentos de lazer fazendo bico de gandula. Foi em uma dessas que presenciou “in loco” aquela triste derrota por 2 a 0 para o Vitória, que decretou o rebaixamento para a Série B.
Sozinho em terras cariocas, o menino de Augustinópolis, no Tocantins, viu no Vasco seu único porto seguro. O amor transcendeu o profissionalismo, a ponto do próprio, ainda ferido, não gostar de se estender sobre o episódio de 2008.
– São águas passadas – como o próprio faz questão de dizer.
Marlone é destaque da base vascaína há tempos, fato que já levantou muitos questionamentos a respeito de seu não aproveitamento no time de cima. Desistir, porém, nunca foi uma palavra em seu vocabulário.
Na última terça-feira, pela Copa do Brasil Sub-20, contra a Ponte Preta, ele marcou um golaço, digno de quem tem intimidade com a pelota. Marlone rabiscou dois e acertou uma linda finalização, no ângulo do goleiro. Marcelo Oliveira, treinador do profissional, gostou do que viu e o chamou de volta.
Já de volta aos treinos, na quinta-feira, no Vasco-Recreio, lá estava o garoto, com seu jeito tímido. Quietinho, foi lá e repetiu a dose da obra-prima. Mais um golaço, com direito a chapéu e chute de primeira. Como não garantir sua passagem para Goiânia (GO)?
BATE-BOLA
Marlone
Em entrevista por telefone ao LANCE!
LANCENET!: Qual foi sua reação ao saber que será relacionado?
Marlone: Hoje (quinta-feira) não acreditei. Voltando para casa, ficava me perguntando: será que fui convocado mesmo? É uma coisa que me deixa meio baqueado.
L!: E como viu essa demora para ser aproveitado?
M: Sou funcionário do Vasco. Se mandassem eu descer para os juniores, desceria. Tudo com amor ao Vasco. Sou vascaíno, de coração. Em muitos casos, o garoto desce e fica lá, relaxado. Nunca tive na cabeça isso, sempre me esforcei ao máximo para ser um profissional.
L!: Mas chegou a desanimar?
M: Sempre tive essa conduta. Não fiquei naquela ansiedade. Às vezes, ficava até treinando sozinho, cobrando faltas, curtindo estar ali entre os profissionais. Sabia que uma hora a oportunidade chegaria.
L!: E como foi o papo com o Marcelo Oliveira?
M: Ele observa muito. Quando cheguei, me parabenizou pelo gol. Eu ficava vendo as declarações dele nos jornais sobre mim. Os jogadores também me deram parabéns.
L!: Se entrar no jogo, qual será a sensação?
M: Acho que antes de entrar, vou pensar que estou ali para concretizar um sonho. Que vou entrar para dar tudo de mim e ajudar o Vasco. Quando vi meu nome na lista, já foi muito legal, imagina se eu entrar?!
Dificuldade na infância
Marlone teve uma vida dura. Filho adotivo, só foi conhecer seu irmão aos 11 anos. Morando em São Januário, poucos eram os dias em que tinha dinheiro para se alimentar. Muitas vezes, os jogos do profissional na Colina lhe rendiam uma noite menos sofrida, já que na arquibancada observava e buscava os restos de lanche que deixavam.
Hoje, já consegue ter um pouco mais de conforto. Divide um apartamento em Curicica, Jacarepaguá, na Zona Oeste, com dois irmãos. A humildade, porém, não lhe abandona e, na realidade, transcende como um dos maiores pilares de sua personalidade.
Por vezes, se pega presenciando seu sonho de menino:
– No treino do Vasco, às vezes fico olhando à minha volta e penso: Será que estou aqui mesmo? Com Juninho, Carlos Alberto, Felipe... Fico meio bobão, mas é que é um sonho realizado para mim.
Fonte: Lancenet