Tenorio: 'Não sou o melhor jogador do mundo, não me considero, mas eu me sinto o melhor'

Sábado, 29/09/2012 - 11:34

Conversar com o atacante Tenório é como beber doses consideráveis de confiança. É impossível não se contagiar. O atacante, esperança do Vasco na partida deste sábado, contra o Figueirense, é um poço sem fundo de autoestima. A personalidade é notada nas palavras e é vista dentro de campo, debaixo da camisa com a gola levantada.

Tenório é da velha guarda, vai na contramão da moda dos moicanos e não abre mão do estilo, sucesso no fim da década de 90. A explicação vai além do simples gosto. O jogador pisa no gramado preocupado em fazer jus ao apelido de Demolidor:

– Se eu coloco a gola para cima, dou a impressão de que sou um cara sério e passo respeito. Se você entrar todo arrumadinho, não adianta (risos). Se você tem o apelido de Demolidor, está todo mundo pensando: “O cara é o Demolidor“. Então, você tem que entrar de um jeito que pensem: “É mesmo, ele impõe respeito”.

Aos 33 anos, o equatoriano chegou a pensar em largar o futebol depois da lesão no tendão-de-aquiles, problema que o afastou do time do Vasco por cinco meses. Com os nove anos de carreira no Oriente Médio, poderia se dar o luxo de não trabalhar mais. Se quisesse também, Tenório faria sucesso como autor de livros de autoajuda, tamanha a quantidade de frases de efeito.

– Eu sou um cara que confio muito em mim. Não sou o melhor jogador do mundo, não me considero, mas eu me sinto o melhor. Eu sempre me motivei assim. Pode haver um melhor, mas eu gosto de me sentir o melhor. Na vida, você tem que se sentir um ganhador – ensinou.

Também pudera. Ele é o 19 de um incrível clã de 24 filhos, todos a pedir a benção do velho Vicente Tenório, homem humilde da pequena cidade de Esmeraldas, no Equador. Do nada, Tenório trocou o atletismo para se tornar jogador de futebol, aos 21 anos. Disputou duas Copas do Mundo, em 2002 e 2006, e ganhou fama e dinheiro capaz de transformá-lo no único Papai Noel de uma gigante família nas noites de Natal.

A essa altura da vida, terminar a temporada com uma vaga na Libertadores do ano que vem não parece satisfazer Tenório. Ao contrário de muitos jogadores do elenco vascaíno, o equatoriano ainda fala em conquistar o título brasileiro. E ele realmente acredita no que diz:

– Eu vim para cá para ganhar as coisas pelo Vasco, para ser campeão por essa instituição. Acho que poderia estar um pouco melhor fisicamente, mas a situação da volta se precipitou e tenho que jogar. Eu não tenho mais medo de nada. Tenho 33 anos. Vou ter medo de quê?

Os adversários que respondam!

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Tenório - Com exclusividade para o LANCE!

LANCENET!: Já vimos o William Barbio também jogar com a gola levantada. Você está lançando moda na Colina?

Tenório: Os caras tentam, mas ficam assim: “Pô, será que estou bem?” (risos). Não tem que pensar se fica bem. Mas já vi muitos torcedores do Vasco na rua assim. Esse é meu jeito. Tem que dar um jeito de você colocar medo nos defensores. Mas a cara de mau é só dentro de campo. Eu não brigo com ninguém, mas o cara tem que ver que você é sério.

LNET!: Como você enxergou a participação da torcida e do clube na recuperação de sua lesão?

Tenório: De todos os lugares que passei, o Vasco vai ser um que vai ficar para sempre aqui (apontando para o coração). Eu ainda não joguei, mas a torcida e os caras que trabalham aqui sempre me fizeram me sentir bem, mesmo eu sendo estrangeiro. Então, isso me deu muita força.

LNET!: Você não tem medo de voltar a se machucar, depois de lesão tão grave quanto a do tendão?

Tenório: Eu sou muito sério e uma coisa que as pessoas do Vasco e a torcida têm que entender é o seguinte: meu jeito é esse mesmo. Se eu tiver que me machucar, vou me machucar, mas vou me machucar dentro de campo, dando tudo. Vai ser assim. Não vou segurar em nada.


Funk de Tenório tocou no Equador

Apesar do pouco tempo em São Januário, Tenório já ganhou um funk em sua homenagem. Pior: a música composta por MC Charles já tocou em uma rádio equatoriana. Foi o próprio jogador, depois de uma entrevista sobre seu momento no Gigante da Colina, que a colocou no ar.

– São coisas que dão uma motivação especial para você. Eu não joguei aqui ainda. Isso é incrível! Tem que ter alguma coisa do Tenório aqui. Eu gostei muito da música, mas eu falei com o MC Charles. Agradeci, mas disse que esse negocio aumenta a responsabilidade. Isso me faz querer trabalhar mais – destacou o atacante.

Vasco já fez Tenório sofrer

Engana-se quem pensa que Tenório é torcedor da LDU. Foi pelo time de Quito que que o equatoriano se profissionalizou, mas o coração dele na infância batia forte mesmo era diante das cores do Barcelona, de Guaiaquil.

O time foi justamente o adversário do Vasco na decisão da Libertadores de 1998. Tenório lembra daquela partida em que o Gigante da Colina entrou pela primeira vez em sua vida:

– O estádio estava lotado e assisti ao jogo pela televisão. O time do Vasco era muito bom. Depois, fui jogar no Qatar com o Felipe e por isso o Vasco sempre me chamava atenção, por causa dele. Ele falava muito a respeito do clube.

Raça de Tenório conquistou São Januário

Tenório conquistou a torcida do Vasco com a mesma intensidade e velocidade com que arranca em direção ao gol. A arma do equatoriano é a entrega dentro de campo.

Para o atacante, é preciso que as pessoas façam com dedicação aquilo que gostam. É assim que ele justifica seu estilo nas partidas.

– A pessoa tem de fazer as coisas da melhor maneira que pode. Eu gosto de jogar futebol. Então, se eu entro em campo, vou jogar como se não me importasse com mais nada. Se não for assim, é melhor nem jogar. Eu adoro correr, lutar – disse.

Tenório se viu obrigado a entrar em campo muitas vezes neste Brasileiro longe de sua melhor forma, por causa da má fase do Vasco na competição. Mesmo com o risco de lesão, o equatoriano é taxativo a respeito daqueles que pedem para ele dosar as energias em uma partida:

– Muitas pessoas falam: “Entra no jogo, mas tenta segurar“. Poxa, eu não entendo isso! Como que eu vou entrar em um jogo e vou me segurar? Se é para segurar, pode me deixar fora, que eu fico em casa com minha família. Mas se eu entrei ali, não importa se eu vou jogar bem ou se eu vou jogar mal. Só sei que vou lutar. Isso é a minha vida, é o meu trabalho, Tenho que gostar de fazer, fazer de coração.



Fonte: Lancenet