Com o título do Brasileirão ou não, Nilton diz que vive um "momento de vitória". Após passar 12 meses sem sequer chutar uma bola, o volante se firmou novamente no Vasco em 2012 e deixou para trás as quatro cirurgias que fez, apesar de somente 25 anos. Mas a felicidade completa precisava de um toque especial. Acostumado a marcar gols, tanto por meio de seu chute potente ou pela presença na área, o camisa 19 parou desde que fez um decisivo contra o Lanús, pelas oitavas da Libertadores. Chegou a amargar oito partidas sem finalizar uma vez recentemente, mas desencantou em dose dupla, sobre Palmeiras e Cruzeiro. A receita, segundo ele, foi a mistura da motivação da esposa com a convicção que voltou a adquirir.
Casada com Nilton há cinco anos, Karin é o principal alicerce da vida do cruz-maltino. Cuida de parte de sua vida pessoal e também da profissional, assistindo a reprises dos jogos para apontar os erros e acertos do maridão, a ponto de se considerar uma técnica particular. E o mais importante: não economiza nas broncas. Na hora de pisar no gramado, no entanto, o volante tem lembrado mais do que discute em casa e resolveu colocar em prática.
- Ela sempre diz que eu vou fazer um gol, mas eu precisava ser mais agudo, arriscar mesmo. A função mudou, passei a ter mais responsabilidade ainda como primeiro homem desde a saída do Rômulo. Mas sentia falta de reaquirir essa característica de 2009. Juninho tem cobrado as faltas pela qualidade dele, mas, dentro da área, eu precisava de convicção. Eu pensava: "Pô, sou forte e sei me posicionar, porque não vou superar esse marcador?". Se não vir isso, deixo de ser o elemento surpresa. Tenho mentalizado mais e deu certo. O Nilton pode não ser perfeito, mas vai estar quase ali, é o que eu quero que pensem - contou.
No passado, há uma referência para entender a capacidade de balançar as redes. Das escolinhas em Barra do Garça, no Mato Grosso, até as categorias de base no Etti Jundiaí (atual Paulista), ele foi atacante. Mas recuou ao notar a quantidade de promessas em sua posição original. Já no Corinthians, encaixou na posição e não saiu mais. A relação com o pai (seu Nilton Ferreira), que foi treinador e cabeça de área, também ajudou muito, conta Nilton.
- Ele teve participação no meu começo, porque me levava para os clubes e me botava para treinar com os garotos mais velhos. Pedia ao preparador físico para fazer um trabalho especial comigo. Fundamentos e antecipação era o que eu mais repetia. Usávamos uma árvore como referência, e eu tinha que contorná-la para pegar a bola. Quando a situação apertou em casa, minha mãe chegou a pedir dinheiro para eu viajar e ir morar em São Paulo, com 11 anos. Foi uma guerreira - recorda-se o camisa 19, sobre os esforços de dona Irene.
Lazer na folga e amizade com Fagner
Para aliviar as tensões do dia a dia do futebol, o lazer é fundamental na vida do volante. Mas nada de ficar parado vendo televisão. Ele é viciado em jogos e transformou sua confortável casa, em um condomínio da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, num pequeno parque de diversões. Além do tempo com a filha de Giovana, de um ano e quatro meses, Nilton gosta de videogame, sinuca, totó, xadrez e, principalmente, dos cachorros que comprou em 2010. Um dos xodós, inclusive, se chama Volante, em evidente homenagem. Um labrador que mais parece um atacante de área de tão forte que é. O outro é um buldogue chamado Stitch.
- O momento de folga para tirar a cabeça do futebol é importante. Tenho meu momento pai também, um pouquinho de lazer com a minha filha. Para quem vive viajando pela profissão, mas é caseiro, são passatempos para acabar com o estresse - explica.
No futebol virtual, aliás, ele faz questão de ressaltar que o único capaz de batê-lo era Fagner, que foi vendido há dois meses para o Wolfsburg, da Alemanha. Com o lateral-direito, Nilton estreitou laços de amizade tão fortes que viraram até piada nos papos das esposas. Segundo Karin, o ex-vascaínofoié o "segundo casamento". Mas, hoje, a saudade é grande.
- A amizade com ele não é de agora, vem lá da época do Corinthians. Ficamos mais apegados por estarmos sempre concentrados juntos. É um irmão mesmo. Na despedida dele, Fagner me deixou por último porque sabia que o sentimento bate mais forte. Desejei felicidades a ele à família e espero que possa fazer grandes atuações como aqui. Vou procurar retomar o contato, ainda não nos falamos desde que ele viajou. Vou dizer para ele que não troque a minha amizade pela de outro alemão lá - brincou.