Em processo de descoberta do tamanho do trabalho que terá como coordenador da base do Vasco, cargo que assumiu há exatamente uma semana, Mauro Galvão ainda não é capaz de falar muito sobre as dificuldades do clube nos últimos anos. Ídolo cruz-maltino, o ex-zagueiro garante que se identificou com a função administrativa e pretende cumprir um ciclo em São Januário tão vitorioso quanto o que passou em campo. Para engrenar um dos trabalhos mais desafiadores de sua trajetória no futebol, porém, espera ver a garotada integrada no CT de Itaguaí, o que deve acontecer só em outubro, para então colocar sua filosofia em prática.
Ao lado do ex-lateral Clóvis e trazendo consigo o ex-atacante Sorato para ser técnico dos juniores, além de outros nomes de menos vulto, o capitão do título da Libertadores 1998 destaca a união e o respeito do elenco como a virtude mais urgente para se formar valores e fazê-los compreender o que a passagem profissional representa. Mas, até agora, só deu tempo de ser apresentado a quem ficou e de assistir a partidas dos juniores e dos juvenis.
- Neste primeiro momento, o objetivo é avaliar as pessoas, as equipes, estar a par de tudo, o que não é fácil. As mudanças mesmo vão ter início e forma em relação ao que se pretende quando formos para Itaguaí. As condições vão ser corrigidas e poderemos acompanhar os treinos detalhados de cada um. Tem muita gente por aí que chega à equipe de cima sem saber matar a bola no peito, cabeceando de olho fechado. Não posso exigir, hoje, que façam o que não podem. Vamos implantar formas mais elaboradas de treino e entregar o que os atletas necessitam. O alojamento, a alimentação, o descanso, todo esse controle é importante para que o retorno aconteça gradativamente - explicou Mauro Galvão, que avisa que as ideias não se encaixarão no perfil de quartel general nem se tratam de uma cartilha.
A reformulação do setor foi motivada pelos maus resultados recentes, já que o Vasco, por exemplo, não ergue uma taça há mais de dois anos nos juniores e sequer venceu um clássico no período. Aqueles que foram demitidos ou que se anteciparam e pediram o boné rebatem criticando o aporte financeiro destinado pela gestão de Roberto Dinamite à base. Algumas pessoas sempre foram contestadas, mas tinham respaldo direto do presidente.
Entre o momento que chama de "emergencial" como treinador e o reencontro com a Colina, Galvão foi executivo no Grêmio e Avaí. Absorveu experiências e, especialmente, mais contatos no ramo que o fazem sonhar com a captação de reforços de nível já a curto prazo.
- Com o conhecimento e o respeito que adquirimos, os contatos que fizemos ao longo do tempo, é normal nos procurarem para fazer negócio. Captar em outros mercados é fundamental, sim. Sempre que der para trazer, vamos investir em parcerias que sejam boas para o Vasco, que precisa ter participação nos jogadores, não pode sair prejudicado. Tem de ser uma coisa equilibrada, respeitando o fato de que o clube é uma grande vitrine - frisou.
Neste mesmo período, desde 2004, tem na ponta da língua a receita para agregar espírito vencedor a um elenco de qualidade. E indica que, aos 51 anos, pode não saltar mais de função.
- Tirei muito proveito dessas experiências todas. Joguei por 23 anos, depois tive uma passagem pela comissão técnica, como auxiliar e treinador, e fui para este cargo de gerente. Mas sempre na área técnica, o que é importante para mim. Ajudar no processo de trazer os jogadores tem a ver com o trabalho do campo. Vi que é necessário ter um bom ambiente, grupos que trabalhem equilibrados. A individualidade resolvia antigamente, mas hoje, não. Destaco essa questão do vestiário, do feeling de manter todos concentrados no objetivo como o grande aprendizado, uma atualização que se deve ter - crê Mauro Galvão, que emendou sobre a paixão que desenvolveu pelo Gigante da Colina.
- Essa função me agrada bastante, mas não tem como definir que não quero mais nada. No momento, é isso. E poder dar sequêncis trabalhando com jovens, ainda mais no Vasco, é motivo de satsifação. Um clube que sempre acompanhei. Tive de enfrentá-lo algumas vezes, mas faz parte do futebol. Fazemos coisas que não gostaríamos.