Depois de quatro anos de dedicação ao trabalho de revelar jovens talentos, o professor Humberto Rocha pediu demissão do cargo de coordenador da base do Vasco no início da semana. A saída ocorreu em meio ao turbilhão pelo qual passa o cruz-maltino na reta final da temporada, incluindo a troca de técnico. Um dia depois, o time da Colina anunciou Mauro Galvão como o novo coordenador.
Embora tenha antecipado o adeus ao clube em um ano — por considerar o período de cinco anos o mínimo necessário para colher frutos na base — Humberto diz que chegou ao fim um ciclo. “Consegui dar uma contribuição, fizemos viagens, ganhamos torneios e temos bons nomes chegando aos profissionais.”
A sensação de dever cumprido, no entanto, foi precedida por forte turbulência. No clube desde o primeiro mandato do presidente Roberto Dinamite, em 2008, o ex-coordenador viveu seu pior momento este ano.
Além da pressão constante para abastecer o time profissional com bons valores, Humberto teve de lidar com uma bomba. Em 9 de fevereiro, o adolescente Wendel Júnior Venâncio da Silva, de 14 anos, passou mal durante um teste para entrar nas categorias de base do Vasco. Com 12 minutos de atividade no CT de Itaguaí, município 70km distante do Rio, o garoto sofreu um mal súbito. Por não haver médicos e ambulância no local, Wendel foi levado a uma unidade de pronto atendimento, mas não resistiu. “O pior momento foi a morte daquele menino. Infelizmente, uma fatalidade que ninguém poderia imaginar. Foi um choque grande para mim”, recorda o ex-coordenador.
Sem fazer relação com o caso, Humberto diz que a melhora da estrutura para os adolescentes sempre foi assunto de conversas entre ele e dirigentes. “Solicitei muita coisa que o Vasco não atendeu, até pela questão financeira. Pedíamos quartos com ar-condicionado, escola para os garotos, tevê a cabo. Enfim, tudo para que os meninos se sentissem à vontade e que os próprios pais acreditassem que eles estavam em casa.”
Apesar das lamentações, Humberto afirma não guardar mágoas da direção. “Embora o presidente (Roberto Dinamite) tivesse boa vontade e desse atenção para os nossos problemas, existiam algumas prioridades. O clube é muito grande, existem muitos problemas e é necessário muito dinheiro. Não dá para fazer tudo.”
Antes de deixar o time da Colina, Humberto Ramos e o Vasco escaparam do vexame de ter as categorias de base fechadas. Na mira do Ministério Público, que chegou a dar prazo de cinco dias para reformar as instalações em péssimo estado de conservação, o clube conseguiu cumprir as exigências.
Na opinião de Humberto Ramos um dos desafios mais cansativos hoje é controlar a quantidade e interferência de pais e empresários na base. “É um exercício psicológico muito grande. Você tem à sua frente 200, 300 garotos que sonham em ser jogador e tomam aquilo como a solução para o futuro. São 600 pais com a mesma cabeça. Isso vai desgastando.”
Fonte: Superesportes