Os antigos aliados estão caindo, um a um. José Hamilton Mandarino, ao pedir demissão na última quarta-feira, expôs a nova ordem de São Januário: Roberto Dinamite, em quatro anos à frente do Vasco, nunca fez valer tanto seu poder presidencialista quanto agora. O resultado é uma onda de insatisfação entre as vice-presidências. Um já saiu. Nelson Rocha, vice de finanças, pode ser o próximo.
O LANCENET! revela detalhes do que se passa nos corredores da Colina depois de conversar com aliados e rivais do presidente. Nos dois lados, todos preferem manter os nomes em sigilo, mas o ponto de acordo termina justamente aí.
Para os dirigentes que ainda estão no lado de Dinamite, a participação mais intensa do presidente se fez necessária “para arrumar a casa”. Desde a saída de Rodrigo Caetano, Roberto tem atuado mais diretamente no departamento de futebol. No setor das finanças, a falta de resultados e dinheiro para quitar direitos de imagem de jogadores, atrasados há dois meses, tem irritado tanto o dirigente quanto o diretor de futebol Daniel Freitas.
Para outros, Dinamite tem acabado com a autonomia das vice-presidências. O dirigente entrou em rota de colisão com Mandarino diversas vezes, a começar pela falta de acordo para a renovação do contrato de Rodrigo Caetano. É a voz do presidente geral que tem sido a última na hora da contratação de jogadores, da efetivação de Daniel Freitas no lugar de Caetano e da forma de condução das divisões de base. Tudo isso minou a relação com o ex-vice de futebol.
Desde que assumiu a presidência, em 2008, ele vem perdendo quem o apoiou desde que foi eleito (confira mais na linha do tempo abaixo). Na maior parte dos casos, quem saiu reclamou exatamente a mesma coisa: a falta de autonomia e espaço para participar das decisões do clube.
Que o sorriso fácil e o estilo boleiro que resistiu ao tempo não engane: Roberto Dinamite tem mostrado quem é que manda na Colina.
Pessoa ligada à presidência teria oferecido ajuda no protesto contra Daniel Freitas
Quem também anda sendo questionado em São Januário é o diretor de futebol, Daniel Freitas. A pressão sobre o trabalho dele tem crescido muito e, nos corredores da Colina, conselheiros e membros do departamento de futebol já falam abertamente sobre o processo de “fritura” do dirigente.
Na última quarta-feira, durante o jogo contra o Palmeiras, ele foi, ao lado de Roberto Dinamite, o maior alvo dos protestos da torcida. Uma faixa na arquibancada pedia a saída dele. O desejo, porém, já se estendeu para dentro da diretoria. Fontes garantem que uma pessoa ligada à presidência ofereceu dinheiro para financiar protestos dos torcedores organizados até a saída de Freitas.
Nesta quinta-feira, surgiu a informação de que Gerson Júnior, genro do presidente Roberto Dinamite, teria sido designado pela diretoria para negociar a contratação de Felipe Ximenes – hoje no Coritiba – para trabalhar na vaga de Daniel Freitas. O nome do dirigente e de outros começam a pipocar nos corredores da Colina também como uma forma de "fritar" o diretor de futebol.
Alheio à notícia, Freitas garantiu que segue firme e forte em São Januário:
– Sigo normalmente, tentando resolver meus problemas. Esse tipo de coisa é normal em um clube, principalmente em um cargo como o meu. Sei das pessoas que estão comigo e sigo trabalhando.
Vice de finanças pode sair, diretor de marketing já tem até prazo
Os próximos que podem estar deixando o clube são o vice de finanças, Nelson Rocha, e o diretor de marketing, Marcos Blanco.
Nelson ainda não se decidiu, mas anda incomodado com a pressão causada pelos constantes atrasos de salários. Além disso, a reprovação das contas de 2011 pelo Conselho Fiscal não caiu bem. Caso fique, ele deve abrir mão da vice-presidência de finanças e seguir apenas como segundo vice geral.
No caso de Marcos Blanco, ele já estaria cumprindo aviso prévio e teria até dado um prazo para o desligamento: fim de setembro. Já há um nome para substituí-lo.
Mandarino: um vice que já estava desgastado
A saída de José Hamilton Mandarino da vice-presidência de futebol já era algo esperado por praticamente toda a diretoria. A única surpresa foi a rapidez com que isto ocorreu. Ele já tinha um relacionamento desgastado com pessoas influentes do clube seja por não concordar com algumas atitudes dos outros ou pelo contrário.
As principais reclamações internas contra Mandarino se referem à sua ausência no dia a dia do departamento de futebol. Além disso, o dirigente não viajava com a delegação, o que gerou insatisfação dos atletas.
Fontes ligadas à diretoria garantem que ele queria “impor tudo”. Há quem diga que foi Mandarino quem não ofereceu resistência para a saída do meia Diego Souza.
Por todo este desgaste, seus familiares já o pediam que deixasse de lado o cargo. Em contrapartida, membros da diretoria analisaram como covarde sua atitude:
– Agora que o momento apertou, quis pular fora do barco – disse um deles.
O LANCE! tentou entrar em contato com o ex-dirigente, mas Mandarino não atendeu às ligações da reportagem.
Política no Vasco — Confira as dissidências que ocorreram durante os altos e baixos da administração de Roberto Dinamite
Julho/2008
Chegada ao poder
A chapa de Roberto Dinamite, depois de longo processo judicial, vence eleição e se torna presidente do Vasco, em substituição a Eurico Miranda. O ex-atacante assume o Cruz-Maltino em meio a grave crise política e financeira.
Dezembro/2008
Rebaixamento
O Vasco vive sua maior tragédia ao cair para a Série B.
Fevereiro/2009
José Henrique Coelho
O ex-vice de marketing pede demissão e sai atirando contra Dinamite. Ele o acusa de colocar parentes para trabalhar no clube e reclama de irregularidades.
Março/2008
Luiz Américo
O vice jurídico passa a ser alvo de críticas dentro do clube. Pressionado e insatisfeito com resultados do setor, Dinamite demite o ex-aliado, que sai chamuscado.
Dezembro/2009
O retorno
O Vasco consegue vaga na Primeira Divisão e conquista a Série B.
Janeiro/2011
Acusações
Vice-presidente geral, Luso Soares da Costa pede demissão do Vasco e faz uma série de críticas a Roberto Dinamite e à gestão dele. Também alega falta de espaço nas decisões.
Junho/2011
Copa do Brasil
O Vasco conquista o título inédito e ainda vai à Libertadores.
Dezembro/2011
Rodrigo Caetano
O diretor executivo não chega a acordo com a diretoria por causa de problemas nas divisões de base. O acúmulo de divergências com Dinamite culmina na saída dele.
Setembro/2012
José Mandarino
O vice de futebol se sente esvaziado nas decisões do departamento e, depois de se afastar sensivelmente do clube, decide pedir demissão por carta.
???
Mais dois?
O vice de finanças, Nelson Rocha, e o diretor de marketing, Marcos Blanco, estão insatisfeitos no clube. O primeiro tem tido o trabalho questionado, enquanto o segundo perdeu espaço no marketing vascaíno depois da chegada de Eduardo Machado para a vice presidência do setor. Os dois podem deixar São Januário.
Fonte: Lancenet