Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Dia 16 de julho de 1950. Aos 34 minutos do segundo tempo, Alcides Edgardo Ghiggia marcava o gol que silenciaria o Brasil e que iria coroar o segundo título mundial de futebol para o Uruguai.
A final da Copa do Mundo de 1950 no Brasil, conhecida como Maracanazo, condenou diversos jogadores da Seleção, mas um deles em especial: o goleiro Barbosa. Ídolo no Vasco, foi julgado culpado por parte dos brasileiros pela derrota que daria o primeiro título mundial ao país.
Em Praia Grande, Tereza Borba luta para que a justiça seja feita para o ex-jogador, falecido em 7 de abril de 2000. Considerada como filha de criação, Tereza cuidou de Barbosa desde 1992, quando ele escolheu a cidade para viver. Ela busca recursos para reformar a campa do arqueiro e erguer uma estátua em homenagem ao craque.
- Eu quero uma estátua dele com uma bola na mão e, do lado, escrever a pessoa que ele foi, como foi injustiçado e julgado por uma coisa que ele não cometeu.
Para conseguir esta verba, Tereza tentará leiloar um pequeno cubo de madeira recheado de história. Segunda ela, é um pedaço da trave da final do Maracanã doado por um historiador ao goleiro.
- Eu olho para esta trave, ela é um pedaço de madeira, mas não é qualquer pedaço. Ela é uma madeira histórica. Em 50, primeira Copa no Brasil, a Seleção ter perdido e quem estava embaixo dela era o maior goleiro de todos os tempos, o meu neguinho, o Barbosa.
Tereza já tem um comprador em vista para a peça: os vencedores daquela partida, os uruguaios.
- Um pedaço do Maracanã está em minha mão. Eu pretendo que o pessoal do Uruguai, principalmente (compre a peça). Eu gostaria de leiloar (a trave) porque eu vou fazer a reforma do túmulo dele. Quero que as pessoas conheçam onde ele está, e que a memória dele não morra. Eu vou lutar até o fim da minha vida pela memória do Barbosa e para que todos respeitem ele.
Lembrança da final e sentimento de culpa
O pedaço da trave também faz Tereza reviver os momentos pelo qual Barbosa atravessou após o gol sofrido por Ghiggia.
- Eu acabo vendo aquele filme, ele abaixando e levantando bem devagarzinho. Como ele disse, naquela hora, se pudesse fazer um buraco e entrar dentro, faria. Eu estou com uma não sei se preciosidade. Não sei o sentimento desta madeira para mim pelo sofrimento dele.
A 'filha de coração' do goleiro ainda busca explicações para terem culpado o ex-jogador. Para ela, o arqueiro foi um bode expiatório do episódio.
- Ele sabia que não era o culpado. Todo mundo que entende de futebol sabe. Mas eles não tinham a quem culpar na hora. Não sei por quê, se foi por ser goleiro e negro. Não sei se é por causa disso. Nem o tempo disse. Mas, eu estou com um pedaço que acabo sentindo como se tivesse tocando nele. Ele esteve aqui, tem energia dele.