Não são raras as vezes em que os bastidores do jornalismo esportivo mostram-se mais interessantes do que aquilo que chega ao público - por falta de provas, de autorização do entrevistado ou variadas razões que não cabem nesse espaço. Um telefonema recebido na segunda-feira é a causa deste post. Do outro lado da linha, um constrangido Ricardo Gomes desmarcava uma entrevista que havíamos combinado e confirmado dias antes, sobre o drama do AVC, que chegava ao simbólico aniversário de um ano.
- Furei com você... - disse-me.
- Sim. E já foi devidamente xingado em pensamento. Mas ainda há tempo para você se redimir. Podemos começar a entrevista? - insisti.
- Não posso fazer a matéria. O Vasco não vence há quatro jogos. Não é justo - explicou.
Dizer o quê? Entendi que, na avaliação de Ricardo, a volta ao noticiário poderia aumentar a pressão sobre Cristóvão, o ex-auxiliar que ocupa hoje o lugar que era seu. Sem sensibilidade na mão direita, reaprendendo a andar e a falar, o técnico inativo preferia ficar quieto e escondido na sua fisioterapia, preservando algo mais importante do que suas funções neurológicas: o caráter, tão raro hoje em dia no nosso futebol e, também, no de terceiros.
Por um segundo, deixei de lado a vaidade profissional, a caneta e o bloco, e até sorri quando desliguei o telefone. Não levei um bolo. Levei um tapa na cara. Parabéns pela integridade, Ricardo. E vê se volta logo.
PS: Ricardo Gomes está falando cada vez melhor e não me autorizou a publicar essa conversa. Mas também não proibiu. E, como está me devendo uma... :-)
Fonte: Coluna Extracampo - Extra online