A Polícia Civil montou um time para tirar de campo os torcedores brigões. Uma força-tarefa envolvendo policiais de oito delegacias especializadas vai atuar, a partir de agora, no combate aos crimes praticados durante a realização de grandes eventos, com foco nas torcidas organizadas. A medida foi anunciada nesta segunda-feira pela delegada Martha Rocha, chefe da Polícia Civil, que também entrou com uma representação na Procuradoria Geral de Justiça pedindo o banimento da Torcida Young Flu dos estádios, assim como fez com a Torcida Jovem do Flamengo. A decisão de Martha foi tomada após a prisão, no sábado, de 23 torcedores do Fluminense, entre eles dois menores, flagrados espancando e assaltando dois torcedores do Vasco na estação de trem do Engenho de Dentro.
— Estou recomendando aos delegados que a partir de agora qualquer fato envolvendo torcida organizada seja tratado com rigor — disse a delegada.
Núcleo criado em 2005 não durou
A Divisão de Homicídios (DH) — que investiga assassinatos só na capital — passa a trabalhar em todo o estado sempre que houver morte atribuída a torcedores, segundo a chefe de Polícia. A unidade já teve um Núcleo de Investigação Sobre Torcidas Organizadas, em 2005, mas em pouco tempo ele deixou de atuar.
Dos torcedores do Fluminense presos, 21 deles, maiores de idade, que estavam em Bangu 2 foram transferidos ontem para a Cadeia Pública Bandeira Stampa, em Gericinó. Advogados de sete deles entraram com pedidos de relaxamento de prisão no Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça, que negou todos. Outros quatro estão com pedidos em análise na 33ª Vara Criminal. Entre os adultos presos, quatro já tinham antecedentes criminais por lesão corporal dolosa, rixa, tumulto (previsto no Estatuto do Torcedor) e por atuar como cambista.
O comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), tenente-coronel João Fiorentini, disse ontem que muitos chefes de torcidas organizadas rivais usam redes sociais para marcar brigas e depois telefonam para mudar os pontos de encontro, driblando a polícia. Por isso, Fiorentini disse que vai sugerir aos clubes que cortem os ingressos gratuitos e os benefícios de torcidas organizadas que se envolverem em brigas:
— É uma coisa orquestrada (a violência) e não aleatória. Muitas vezes eles ficam rodando a cidade em busca de torcedores rivais.
O comandante disse nesta segunda-feira que está há um ano no comando da unidade e nesse período já prendeu 300 torcedores em brigas. Na maioria das vezes, o preso tem direito a responder ao inquérito em liberdade, disse. Segundo o oficial, há uma uma lista extensa de torcedores banidos dos estádios brasileiros, mas o Gepe não tem acesso a ela. Só os núcleos do Juizado Especial Criminal nos estádios têm esses nomes.
O juiz Marcello Rubioli, da 1ª Turma Recursal do Tribunal de Justiça, disse nesta segunda-feira que a decisão de prender os 23 torcedores da Young Flu que agrediram dois torcedores vascaínos dentro de um trem pode ser interpretada como exemplar, mas baseada na lei. Ele explicou que mandou prender os agressores por roubo, o que foge à alçada do Juizado Especial Criminal (Jecrim), no qual deu plantão no sábado passado, dia da violência.
— As vítimas foram agredidas pelos 23 torcedores e vários pertences foram roubados por três deles. Os três foram presos em flagrante pelo crime de roubo simples e os demais pelo artigo 157, também roubo, mas pela co-autoria e participação. Todos eles foram identificados pelas vítimas, inclusive indicados por elas. As vítimas ficaram bastante machucadas. A agressão durou o tempo de uma viagem entre duas estações, partindo da Pavuna — contou. — A medida tomada pelo Jecrim é comum. Talvez essa tenha ganhado muito destaque pela quantidade de presos ou até mesmo pela morte do torcedor do Vasco na semana passada (quando a vítima foi morta por torcedores do Flamengo).
O magistrado disse que há seis anos o Jecrim vem agindo com rigor e que para reprimir a onda de violência nos estádios é necessário aplicar o Estatuto do Torcedor.
— O que é importante ser dito é que diante dessa crescente violência nos estádios no Rio, o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Polícia Civil e a Polícia Militar, que estão de frente para garantir a segurança, estão agindo, estão reprimindo e essas prisões são o retrato dessa atuação unificada do estado com o objetivo de que os estádios de futebol voltem a ser palco para as famílias, para poderem levar seus filhos, para poderem se divertir. E garantir o que diz o Estatuto do Torcedor, que o espetáculo esportivo é um local de segurança, onde o consumidor pode se divertir, é um local de lazer.
Há um projeto de lei, já aprovado em primeira discussão na Alerj, que busca ordenar a entrada de torcidas organizadas nos estádios. Ele determina que o poder público registre os torcedores. As torcidas ficariam em locais determinados e, se houvesse agressões, seriam impedidas de voltar aos estádios.
Para defender a paz entre as torcidas, um grupo está usando as redes sociais para organizar o Samba do Bellini, manifestação pacífica em 22 de setembro, em frente ao portão principal do Maracanã. O traje obrigatório será a camisa do time de cada torcedor. Em nota, o Fluminense informou que não compactua com a violência e apoia a ação policial. Disse ainda que dará apoio às torcidas do bem.
Fonte: O Globo online