A notícia na quarta-feira de que a Justiça Trabalhista concedeu ganho de causa a Romário na cobrança de uma dívida de R$ 58 milhões do Vasco estourou como uma bomba e caiu na conta de Eurico Miranda, presidente do clube quando o jogador atuou entre 2000 e 2002 em São Januário. Segundo Eurico, a dívida com o ex-atacante, que era de R$ 22,498 milhões em 2004 e foi dividida em 150 parcelas, girava em torno de R$ 15 milhões quando deixou o cargo, em junho de 2008.
Ele acusa a atual gestão de má pagadora por ter se recusado a continuar honrando a dívida e permitir que ela subisse para o valor cobrado por Romário.
- Quando você não paga uma divida, tem uma multa. E se entrar em juízo tem mais honorários advocatícios, cláusulas penais que estão em contrato. Deixaram que uma dívida que era na época de R$ 14 milhões, ou com alguma correção ou outra de R$ 15 milhões, virar hoje R$ 58 milhões, e é uma dívida que é líquida e certa. Nós temos aí a história do mau pagador. Eles alegaram que não tem documento, aí os advogados apresentaram os documentos, e agora começaram a duvidar das assinaturas. Isso é negócio de mau pagador, o cara que não quer pagar. Essa administração está cometendo um crime de lesa-Vasco, porque como escapar não tem. O prejuízo que deram ao clube não tem reparação - disse o ex-presidente em entrevista à Rádio Tupi.
A decisão da Justiça concede a Romário a penhora, em caso de negociação, de 5% dos direitos econômicos de quatro jogadores: Dedé, Fellipe Bastos, Eder Luis e Nilton. Além disso, outras cotas do patrocinador master também devem ser suspensas para pagamento ao deputado federal. O Vasco promete recorrer. Segundo Eurico, o acordo era de conhecimento de todos os poderes do clube:
- O balanço foi aprovado no fim de 2008, e reconhecida a dívida. O conselho se reuniu, e em 2009 tiraram do balanço na caneta essa e mais outras dívidas. As que eles acharam que não deviam pagar, tiraram na caneta, como se pudessem fazer isso.
O atual presidente do Vasco, Roberto Dinamite, afirmou mais uma vez que a dívida não é reconhecida por falta de documentação que a comprove. E disse que o clube vai recorrer da decisão favorável a Romário.
- A posição do Vasco é muito clara. Nós queremos cumprir todas exigências, todos os acordos. Fizemos acordos com muitos jogadores: Edmundo, Mauro Galvão, Júnior Baiano, Viola, Euller, Donizete... E estamos cumprindo. Porque temos a documentação. No caso do Romário, nós solicitamos isso ao jogador e ao representante dele há dois anos. E até o momento isso não aconteceu - disse Dinamite ao "Tá na Área", programa do SporTV.
Os detalhes do acordo, segundo Eurico
Eurico diz ter documentos que comprovam tudo o que afirma, acrescentando que não apresenta a sua versão, mas os fatos, e detalha como foi o processo do acordo com o então atacante:
- O Romário assinou um primeiro contrato com o Vasco em dezembro de 1999, de dois anos, que foi cumprido em 2000 e 2001. Depois foi feito um novo, de seis meses, em 2002. Havia o contrato de imagem da empresa dele, a Romário Sports, além do contrato de carteira, que é registrado na CBF. Além da importância mensal, havia também as premiações, que eram por conquistas etc. O Romário teve uma fase muito vitoriosa, foi campeão em 2000 da Mercosul, todos se lembram do jogo com o Palmeiras, e campeão brasileiro. Aí acumulou-se, mas o Romário sempre foi muito compreensivo neste ponto. Ele nos procurou por volta de março de 2004 e perguntou como íamos resolver a dívida. Ficou acertado que a dívida, que era de R$ 22,498 milhões, seria paga com correção de juros pequenos, pelo IGP-M, que era o índice mais baixo na época, em 150 parcelas (cerca de R$ 150 mil, cada uma).
O ex-presidente acrescentou que, com o conhecimento de toda a diretoria e dos presidentes dos conselhos fiscal e deliberativo, na época foi feita a confissão de dívida, assinada por ele e por João Carlos Gomes Ferreira (ex-presidente do conselho deliberativo).
- Ficou acertado, então, que as parcelas seriam pagas todo mês com o valor proveniente dos direitos de TV, no Clube dos 13, por intermédio do Fábio Koff, que era o presidente na época, assumindo o compromisso de descontar todos os meses. E efetivamente isso passou a ser feito, sendo debitado nas contas correntes do Vasco todos os meses. E foi sendo assim até junho de 2008, quando saí da administração do clube. Mas a primeira coisa que fizeram quando assumiram foi enviar um expediente para o Clube dos 13 para não descontar mais. E não descontou.
Eurico ressalta que os valores pagos da dívida com Romário foram lançados nos balanços do Vasco de 2004 a 2008:
- Esses balanços não são balanços que se fabricavam na esquina. Eram publicados e aprovados pelo conselho, com conhecimento pleno. Mais ainda, quando essa administração assumiu, no ano de 2008, quando fizeram só seis meses, publicou o balanço e foi aprovado. O Romário então peitou por diversas vezes para se fazer um acordo, mas eles empurraram para lá e para cá, então ele se viu compelido a entrar em juízo. Só que as pessoas fingem desconhecer. Pior, foi insinuado que isso foi um negócio, como se fosse um conluio, uma fraude. Chegaram a insinuar que o acordo visava a beneficiar a mim, que estaria levando algum nisso. Mas como se pode forjar uma dívida dessa?