O projeto da Ambev de dar descontos em produtos a sócios-torcedores de times de futebol ganhou mais uma adesão: a da Unilever. A ideia é criar gôndolas nos supermercados para torcedores dos principais clubes de São Paulo e do Rio de Janeiro, nas quais todos os produtos expostos terão preços entre 5% e 10% mais baratos. A expectativa é que elas sejam testadas entre o público já em setembro deste ano, de modo que estejam funcionando perfeitamente em outubro ou até no mesmo mês.
Um dos primeiros passos foi fechar parcerias com Carrefour e Pão de Açúcar, dono também do Extra, além de vários outros mercados regionais, como Prezunic, Guanabara, Mundial e Princesa, e de lojas de conveniência em postos de combustível, como a AMPM. Essas lojas se comprometeram a montar as gôndolas. "Nós começamos com as grandes redes de supermercados para dar capilaridade nacional ao projeto", explica Marcel Marcondes, diretor de marketing da Ambev, em entrevista exclusiva a Época NEGÓCIOS.
Depois, a fabricante de bebidas, que já iria colocar os próprios produtos, partiu ao mercado para encontrar outros grupos interessados em participar. A Unilever, depois de ter lido notícias sobre o intuito da Ambev de montar as gôndolas de times de futebol, procurou o executivo e fechou negócio. As marcas que serão colocadas à venda ainda não foram definidas, mas são aproximadamente dez. "Vamos ter desde sorvete da Kibon até sabão em pó Omo", exemplifica o diretor.
Além das duas empresas, outro grupo que se dispôs a inserir suas marcas nas gôndolas foi a PepsiCo, que no Brasil é distribuída pela própria Ambev. Assim, são também esperados refrigerantes, salgadinhos, achocolatados, entre outros produtos. Tudo isso para que os torcedores de Corinthians, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Palmeiras, Portuguesa, Ponte Preta, São Paulo, Santos e Vasco sejam convencidos a se associar a seus clubes. Na prática, as marcas vendem mais, os clubes arrecadam mais, e os fãs gastam menos.
"Estamos montando um pool de empresas que disponibilizam descontos nos produtos por um futebol melhor. Vai ser fácil para o torcedor, com uma cesta dessas, ter um desconto maior do que a mensalidade que ele paga ao clube, e aí o ciclo fecha. Queremos que haja uma quantidade exponencial de sócios nos times, que portanto vão aumentar exponencialmente suas receitas, para então contratar melhores jogadores. Vamos começar no Rio e em São Paulo, mas a ideia é levar para as praças do Nordeste, do Sul, todo o país", diz.
Os programas de sócios-torcedores ainda demonstram uma disparidade muito grande entre Brasil e Europa, o mercado no qual o futebol é mais desenvolvido. Como clubes europeus têm um número muito grande de sócios que contribuem mensalmente com pequenas quantias, a necessidade de encher a camisa com marcas para arrecadar com patrocínios, por exemplo, diminui. A meta da Ambev é acrescentar um milhão de associados para cada clube, com mensalidade média de R$ 30. Assim, um quadro social geraria R$ 30 milhões anuais para cada clube, nas contas da cervejaria.
No Brasil, o clube que mais ganhou destaque pelo sucesso com os filiados foi o Internacional, em Porto Alegre. Com mais de 100 mil sócios-torcedores, a equipe aumentou suas receitas a ponto de montar um time que, em 2006 e 2010, venceu a Copa Santander Libertadores. O modelo gaúcho, no entanto, consiste em dar vantagens na compra de ingressos, uma fórmula que costuma esbarrar em fatores físicos, como capacidade limitada de estádios, e por não atrair o torcedor que está mais distante da arena. Já a Ambev quer atacar na parte mais sensível do corpo humano: o bolso.
Fonte: Época Negócios