Colunista denuncia irregularidades na base e em pensão próxima ao Vasco

Quarta-feira, 15/08/2012 - 09:18

"Banheiros

Alguns vasos sanitários encontravam-se interditados ou sem portas de isolamento.

Sendo certo que um dos banheiros não dispunha de chuveiros para o banho dos atletas.

(Eles) faziam uso de garrafas de refrigerante de dois litros para se banharem."

Cozinha

Alarmantes, sobretudo no tocante à higiene no preparo dos alimentos.

E à precariedade do espaço destinado às refeições dos adolescentes.

As frutas (bananas) e a salada estavam expostas às moscas.

(As bananas ficavam) em uma mesa localizada ao lado do latão de lixo,

A geladeira da cozinha estava bastante suja.

Quartos

Os beliches apresentavam-se inadequados, muitos não dispunham de colchões.

Além de estarem enferrujados e com a sua estrutura comprometida, colocando em risco a saúde e a integridade física dos adolescentes.

Um jovem "aguardava há trinta dias o desligamento de um dos atletas para que sua cama fosse disponibilizada.

Evidente disparidade das condições de conforto entre os quartos.

Tal distinção (...) estava relacionada à vinculação ou não dos direitos federativos do jovem atleta a empresários de futebol ou empresa investidora."

Esses são trechos do terrível relatório de promotores de Justiça do Rio de Janeiro.

Ele escancara as condições que 60 meninos eram expostos no alojamento do Vasco da Gama.

As investigações começaram quando o garoto Wendel Junio Venâncio da Silva, de 14 anos, morreu.

Ele fazia testes no clube em fevereiro.

Não havia médico ou sequer um enfermeiro para atendê-lo quando passou mal em campo.

Muito menos uma ambulância.

Foi levado de carro até o hospital onde chegou morto.

Em fevereiro no Rio de Janeiro o calor era senegalesco.

O menino não ficou nos péssimos alojamentos vascaínos.

Ficou em uma pensão em frente ao local onde os meninos treinam.

Conhecida como Gama Alojamento, tal a promíscua intimidade com o clube.

Um casal descobriu ser uma excelente fonte de renda explorar o sonho dos meninos.

E oferece acomodações em uma casa velha, com uma piscina desativada.

"Mãe Loura" é como a dona da pensão gosta de ser chamada.

Ela confessou ao jornal Extra ter sida aconselhada por funcionários do Vasco a aproveitar a situação.

Jovens do Brasil todo chegavam ao Vasco e não tinham onde ficar, sem rumo.

Com pouquíssimo dinheiro, muitas vezes não tinham nem o que comer.

Não tem problema.

"Mãe Loura" foi criativa.

Na tabela há preço diferenciado nas diárias para quem não se alimenta na sua pensão.

Ele cobra R$ 30,00 por dia, R$ 120,00 por semana e R$ 200,00 por quinzena e R$ 350,00 sem comida.

Quem tiver dinheiro para se alimentar paga R$ 45,00, R$ 190,00, R$ 350,00 e R$ 500,00.

Os mais garotos para sobreviver comem o podem, geralmente pão, algum frio barato como mortadela, e refrigerante.

"Mãe Loura" não quer nem saber.

Só se preocupa em avisar que há uma possibilidade para os abastados.

Por R$ 50,00 ela lava roupa dos meninos.

E mais R$ 30,00 passa.

Um grande negócio, já que é público que o Vasco não dá comida para os meninos que fazem testes no clube.

Só recebem alimentação os que já são do clube.

Ou aos 'federados', que já pertencem à uma federação de futebol, o que lhes garantem status de possíveis bons jogadores.

Foi na pensão de Elizabete Souza que, de sentimento materno não tem nada, onde Wendel passou seus últimos três dias de vida.

Lá dividiu um quarto de sete camas com outros três meninos.

Há um só banheiro para 15 pessoas.

Lógico que "Mãe Loura" não sabe se Wendel comeu ou não quando ia para os testes no Vasco.

Sua preocupação é receber o dinheiro de quem usa a sua pensão.

Não há limites para a indecência.

Mãe Loura ainda criou uma espécie de procuração para os meninos que não tenham empresários.

Pais ingênuos dão à Elizabete a responsabilidade sobre seus filhos.

Até para levá-los, em caso de recusa do Vasco, a um novo período de testes em outros clubes.

Lógico, desde que os garotos fiquem hospedados na sua pensão.

Se passarem, derem certo, forem aprovados, a conversa é outra.

Ela pode até se tornar empresária.

O negócio já está dando tão certo que ela está comprando casas para expandir sua pensão.

Os lucros são enormes.

Essas são as condições que um menino é exposta se quiser tentar a sorte no Vasco.

A Justiça interditou o alojamento do clube.

Tem cinco dias para melhorar as condições ou indicar outro local para levar seus 60 garotos.

Com a ameaça da proibição de manter as categorias infantis e juvenis.

O que acontece no grande Vasco da Gama é de uma vergonha absurda.

A responsabilidade é toda do presidente e deputado estadual Roberto Dinamite.

Eurico Miranda foi acusado por ele de ser o retrato do atraso como dirigente esportivo.

Como classificar Roberto?

Como um presidente deixa os garotos expostos a estas condições?

A desculpa fica entre a incompetência ou a omissão.

Que a juíza Katerine Jathay Kitso Nygaard, da Vara da Infância e da Juventude, não fraqueje.

Nem se deixe enganar.

E faça do Vasco e do caso Wendel um marco.

Chega de tanto descaso com os meninos do Brasil.

Basta de aproveitadoras "Mães Louras".

Que a morte de Wendel não tenha sido em vão...

Fonte: Blog Cosme Rímoli - R7